As escolas têm sido cobradas em
relação aos desfechos desses casos para garantir que não haja reincidência, mas
pouco tem se falado sobre a prevenção e as ferramentas que podem ser utilizadas
para lidar com o assunto
Em apenas uma semana, foi noticiado o envolvimento de
alunos de colégios de três estados do Brasil com graves casos de racismo e
discriminação. Alavancados pelo momento político do país, pelo poder das mídias
sociais e pela divulgação na grande imprensa, os incidentes e suas
consequências se tornaram o trend topic do momento.
As escolas têm sido cobradas em relação aos desfechos
desses casos para garantir que não haja reincidência, mas pouco tem se falado
sobre a prevenção e as ferramentas que podem ser utilizadas para lidar com o
assunto.
Alguns colégios têm saído na dianteira do assunto,
promovendo um ambiente que tente eliminar esses desvios comportamentais ou, ao
menos, reconhecê-los de forma precoce. Numa pesquisa realizada pela Aliant,
plataforma de soluções digitais para governança, riscos e compliance, o setor
de educação que já utiliza o serviço de canal de denúncia saltou de 550
registros em 2020 para 3.764 denúncias em 2021, aumento de 584% em um ano.
Considerando que, em 2020, as escolas permaneciam com o
sistema remoto de aulas e, em 2021, a maioria retornou ao modelo presencial, em
especial no segundo semestre, vemos que nesse período o volume de denúncias
chegou a 2.214 registros.
Os números comprovam a necessidade dessas instituições de
adotarem tanto os serviços especializados de consultoria, como as ferramentas
digitais para o combate de comportamentos que não são mais admitidos na
sociedade e têm gerado resultados comprovados em organizações que utilizam
esses recursos para reduzir incidentes.
Já há instituições saindo à frente na adoção desses
serviços, como tradicionais escolas no eixo Rio-São Paulo, que recebem em seus
canais de denúncia relatos ou suspeitas de discriminação, bullying e até mesmo
para a chamada doutrinação, termo utilizado para casos em que há o entendimento
de que o professor extrapola a sua responsabilidade educacional para a
persuasão sobre determinada linha, seja política, seja religiosa, seja de
modos.
Indo além dos canais de denúncia, também vemos a adesão a
serviços de monitoramento de mídias sociais em relação a esses comportamentos e
que envolvam o nome da escola, de seus alunos e do corpo docente, assim como a
promoção de treinamentos temáticos se tornou realidade nessas instituições.
É preciso chamar a atenção para esse cenário e ressaltar
que a educação continua sendo o melhor caminho para o fim das discriminações em
qualquer lugar, por isso a escola tem papel crucial na questão. Mas, enquanto
não se pode garantir que 100% dos alunos internalizaram os conceitos de
diversidade, cabe às instituições monitorarem de forma contínua para que sejam
evitadas as exceções que acabam trazendo prejuízos reputacionais à instituição
e à sua coletividade.
Outro aspecto imprescindível para que, de um lado, não
sejam cometidas injustiças e, por outro, sejam recolhidas as evidências
necessárias para uma ação nesse sentido, é a investigação independente dos
fatos, que passa pela coleta forense das mídias sociais, dos chats e pela
entrevista profissional dos envolvidos.
Quando o grande responsável pela formação de uma
sociedade mais justa acaba sendo o cenário de fatos lastimáveis como o
ocorrido, a sociedade não deve economizar recursos para a normalização pretendida.
Correio Braziliense, Fernando Fleiderceo
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