“(...) A
Controladoria-Geral da União pescou um edital para a compra de dez milhões de
mesas e cadeiras escolares com um sobrepreço que poderia chegar a R$ 1, 59
bilhão. O total da fatura chegaria a R$6, 3 bilhões (...)”
Houve tempos em que se
roubava na licitação de plataformas da Petrobras. Bolsonaro insiste que em seu
governo não há corrupção, mas o que acontece com o dinheiro do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação é uma covardia. Avançam no dinheiro da educação
pública. Em alguns casos os mecanismos de controle do Estado impedem a
consumação dos crimes. Em todos ninguém é responsabilizado.
O último ataque foi revelado
pelos repórteres Patrik Camporez, Paula Ferreira e Aguirre Talento. A
Controladoria-Geral da União pescou um edital para a compra de dez milhões de
mesas e cadeiras escolares com um sobrepreço que poderia chegar a R$ 1, 59
bilhão. O total da fatura chegaria a R$6, 3 bilhões.
A CGU mostrou que oito
empresas disputavam o negócio. Uma não tinha empregados e funcionava num
condomínio residencial, outra pertencia à filha do dono de outra participante
do certame.
Desde 2020 o FNDE faz parte
da reserva de caça do centrão. Quem reclama dessa apropriação é o ex-ministro e
Madalena Arrependida, Abraham Weintraub. O atual presidente do fundo chefiou o
gabinete do senador Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil.
O ataque ao FNDE tem tintas
de covardia porque avança no dinheiro destinado ao ensino da garotada. O fundo
gasta mais com robótica do que com creches. Esse seria um indicador norueguês,
mas em Pindorama os robôs vão para escolas que não têm água e a Viúva paga R$
14 mil por um equipamento que custa R$ 2. 700.
Ao lado disso, um consultor
(leia-se atravessador) faturou R$ 2, 4 milhões assessorando prefeituras
nordestinas na liberação de verbas do fundo. Pastores da Noite vendiam Bíblias
com fotografias do ministro da Educação e num caso pediu-se capilé em barra de
ouro. No Piauí, foi autorizada a construção de 52 escolas de mentirinha
enquanto o Estado tinha 99 colégios, creches e quadras esportivas com obras
inacabadas. Brasília anunciou a construção de 2. 000 novas escolas sabendo que
não tem verbas para isso e que há 3. 500 escolas inacabadas no país.
No primeiro ano do governo
de Bolsonaro, o FNDE produziu um edital para a compra de 1, 3 milhão de
computadores, notebooks e laptops destinados à rede pública de ensino. Coisa de
R$ 3 bilhões. A CGU abateu a trama em voo mostrando que o edital estava
direcionado e, entre seus vícios, destinava a 355 escolas um número de
equipamentos superior ao de alunos. Os 255 alunos de uma escola de Itabirito
(MG) receberiam 30 mil laptops.
Passaram-se três anos e o
FNDE continuou com suas gracinhas, até porque em abril passado, com o aval do
Ministério Público, o Tribunal de Contas da União resolveu arquivar a
investigação em torno da autoria e dos propósitos do edital de 2019.
Elio Gaspari, Folha de S.
Paulo
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