Guerra tem cessar-fogo de cinco horas para retirada de civis de duas cidades da Ucrânia — Foto: Reuters |
Pandemia de covid ainda não terminou, e já há uma nova crise, com a guerra na Ucrânia. Além disso, as consequências das mudanças climáticas são onipresentes. Como tratar desses temas com crianças? Psicólogos aconselham.
As crianças estão cientes de muito mais do que nós adultos muitas vezes acreditamos. Não apenas porque elas veem imagens e vídeos da guerra da Ucrânia nas telas de seus smartphones e dos televisores, ou porque a pandemia as obriga a estudar na escola com máscaras e janelas abertas no inverno. Elas também percebem as preocupações, medos e tensões dos pais − mesmo que não expressem seus sentimentos.
"As crianças querem ser
protegidas", diz o psicólogo Felix Peter, que trabalha em escolas com
crianças e jovens e é o porta-voz da iniciativa Psicólogos para o Futuro.
Ignorar as crises e deixar os medos, preocupações ou perguntas das crianças sem
resposta não é, portanto, uma boa opção. As crianças devem ter a sensação de
que os adultos farão o seu melhor para garantir que tudo ficará bem. Isso
começa com uma conversa com nossos filhos. Mas como fazer isso corretamente?
Levar sentimentos a sério
As crianças expressam seus
sentimentos de formas muito diferentes. Por um lado, isso tem a ver com sua
idade. As crianças, especialmente quando são menores e ainda não conseguem
expressar seus sentimentos tão bem em palavras, tendem a ter sintomas
psicossomáticos como dores de estômago ou de cabeça, diz Katharina van
Bronswijk, psicóloga e psicoterapeuta, porta-voz do Psicólogos para o Futuro
junto com Felix Peter.
Uma criança que chora
precisa, primeiramente, de conforto. Então, perguntas como "o que passa
por sua cabeça agora?" ou "o que você vivenciou hoje?" podem
ajudar os pequenos a expressar seus sentimentos em palavras.
"A maneira como falamos
com as crianças sobre crises também depende do desenvolvimento cognitivo e
emocional da criança", diz Van Bronswijk. "Assim que uma criança faz
perguntas sobre acontecimentos mundiais, elas devem ser respondidas."
"Diz-se com frequência
que é preciso tirar o medo das crianças. Nós preferimos dizer que é preciso
falar sobre os medos", diz Felix Peter. Uma frase como "'Você não
precisa ter medo' seria o mesmo que proibir um sentimento", diz o
psicólogo. "Eu posso te entender, isso também me assusta", é uma
reação muito melhor, que faz a criança se sentir levada a sério, acrescenta
Katharina van Bronswijk.
Ser um adulto sincero
"As crianças se
beneficiam quando os adultos são autênticos", continua Van Bronswijk. As
crianças podem sentir que os pais estão com medo ou preocupados. Entretanto,
como adultos, somos responsáveis por controlar os próprios sentimentos. As
crianças nunca devem ter a impressão de que são responsáveis por fazer com que
a mãe ou o pai se sintam melhor, dizem os dois psicólogos.
Por essa razão, os pais
devem estar bem informados quando conversam com seus filhos sobre a guerra ou a
crise climática. Não há problema em não ter uma resposta imediata baseada em
fatos para cada pergunta da criança. Mas os pais podem ser honestos e fazer uma
pesquisa antes de responder à pergunta.
Medos, preocupações,
ignorância − tudo é perfeitamente normal. Mas os adultos devem estar cientes de
seus sentimentos antes de falar com as crianças sobre eles. Só assim os
pequenos podem aprender algo muito valioso: emoções de todos os tipos são
permitidas e falar sobre isso pode ajudar a lidar com elas.
Comunicação adequada à
criança
Talvez a pergunta mais
difícil seja: Como eu falo com meu filho? Que palavras devo escolher? Quanto
devo me aprofundar? A resposta de Felix Peter soa surpreendentemente simples:
"As perguntas da criança definem o nível da conversa." Os adultos
devem ser guiados pelas perguntas da criança e acompanhá-las. "Mas, por
favor, não exagere no texto e na palestra", diz o psicólogo.
Para ter tal conversa, são
necessários tempo e espaço. Crises existenciais dificilmente podem ser
discutidas adequadamente às pressas. Mesmo as crianças podem entender que o
tempo para uma sessão de perguntas e respostas detalhadas é inconveniente
quando seus pais estão a caminho do trabalho. É melhor adiar do que não
responder.
Para os adultos inseguros
sobre como explicar uma guerra às crianças, os psicólogos recomendam notícias
preparadas de forma lúdica. "Os pais nunca devem mostrar aos seus filhos
vídeos de guerra", adverte Van Bronswijk. "Isso já é difícil de
suportar para os adultos".
Servir de exemplo
Seja a crise climática ou a
guerra na Ucrânia – há tantas crises no mundo que muitos adultos também lutam
contra a impotência e a desorientação. E também vale para os adultos: falar
sobre as emoções que os afligem pode ser de grande ajuda. Elas podem ser usadas
como motivação para se juntar a um grupo político, para coletar doações ou para
ir a manifestações.
Muito disso pode ser feito
pelos pais junto com os filhos, e assim fortalecer a autoconfiança da criança,
ou seja, a sensação de que ela pode dominar situações difíceis por conta
própria, afirma Van Bronswijk.
A propósito, há também
crianças que não se sentem atingidas pelas crises deste mundo. Isso também é
bom, pensa Felix Peter. "As crianças não têm que reagir com tristeza. Não
devemos impor sentimentos a elas."
Deutsche Welle
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