Protesto contra o governo cubano, em 26 de julho de 2021, em Washington, D.C. (AFP/Brendan Smialowski) |
Se os números têm poder político, os latinos estão com sorte nos Estados Unidos. Mais de 11 milhões votarão em novembro nas eleições de meio de mandato (as "midterms"), de acordo com a NALEO.
São pelo menos 11,6 milhões, quase o mesmo número de
2018, quando foram em massa às urnas, e seu impacto aumentará, já que o voto
não hispânico deve sofrer uma queda (-3,8%), antecipa o Fundo Educacional da
Associação Nacional de Funcionários Latinos Eleitos e Nomeados (NALEO, na sigla
em inglês), conforme dados divulgados nesta quinta-feira (18).
Quase um em cada 10 eleitores (9,8%) será latino nas
eleições de meio de mandato, ou seja, eleições legislativas, nas quais se
renova um terço do Senado e toda a Câmara de Representantes (Deputados) e que
acontece bem na metade do mandato presidencial de quatro anos. Isso significa
um aumento de 34,1% em relação a 2014.
O Partido Democrata do presidente Joe Biden brigará
para manter o controle do Congresso. O quadro não é tão favorável, porém. O
desgaste do poder, com uma baixa popularidade de Biden, a alta inflação (7,5%
em janeiro) e suas promessas ainda não cumpridas podem cobrar a fatura.
Algumas de suas reformas mais emblemáticas, como a
migratória, e o gigantesco plano social conhecido como "Build Back
Better" estão paralisadas no Congresso.
De acordo com a NALEO, o número de eleitores latinos
aumentará em três estados-chave: Arizona (+9,6%), Colorado (+8,9%) e Nevada
(+5,8%). Permanece sem alterações, desde 2018, em seis (Califórnia, Flórida,
Illinois, Nova Jersey, Nova York e Carolina do Norte) e diminui em dois: Texas
e Novo México.
"É preciso levar em conta que estas são as
primeiras eleições depois do censo de 2020 e da distribuição dos distritos,
segundo os novos números" e "sabemos que os números têm poder político",
declarou o diretor-executivo da NALEO, Arturo Vargas, em entrevista coletiva na
quinta-feira (17).
Para ele, a participação dependerá de se "os
partidos vão querer investir para tentar mobilizar esses eleitores".
Outra peça-chave é o "envolvimento dentro da
comunidade, uma das tendências que vimos a partir de 2018 e que continuou em
2020", quando foram os latinos que incentivaram familiares e amigos a
votar, acrescentou o diretor de pesquisa de engajamento cívico da NALEO, Dorian
Caal.
Rodrigo Domínguez-Villegas, diretor de pesquisa da
Iniciativa de Política e de Políticas Latinas (LPPI) da Universidade da
Califórnia, concorda em que tanto republicanos quanto democratas "devem
investir na mobilização".
Em especial - disse ele à AFP -, porque muitos são
jovens, e estes, independentemente de sua origem étnica, são menos propensos a
votar.
Jovens e cidadãos naturalizados não estão
familiarizados "com os detalhes do processo eleitoral, sobre como se
cadastrar, ou o voto pelo correio", explica a diretora de Políticas
Públicas da NALEO, Rosalind Gold.
Engajamento
contínuo é a chave
Embora o voto latino tenha cada vez mais peso na cena
política americana, é muito cedo, porém, para medir seu impacto em cada
partido.
"Veremos. Estamos em fevereiro. Ainda teremos as
eleições primárias (que elegem os candidatos que vão aparecer nas cédulas das
eleições legislativas) e, depois, as gerais", ressalta Arturo Vargas.
A chave está em "ter um compromisso contínuo com
as comunidades latinas (...) Não significa ter alguns eventos com uma banda de
mariachis", mas "ir conversar com os eleitores latinos, ouvir seus
problemas e projetar políticas que melhoram suas vidas", explicou
Domínguez-Villegas.
Em 2018, a participação dos latinos foi inédita. A
NALEO atribui isso ao fato de haver candidatos latinos e a temas que
mobilizaram seu voto, como a crise das caravanas de migrantes centro-americanos
e a política migratória do então presidente, o republicano Donald Trump.
As projeções da NALEO não levam em consideração
circunstâncias particulares, como a realidade dos latinos e as ações do governo
no poder, ou do Congresso.
E algumas destas circunstâncias podem influenciar, como
a pandemia da covid-19 e as medidas eleitorais adotadas em alguns estados
conservadores que, segundo diferentes ONGs, discriminam as minorias.
"Foram adotadas de propósito para privar os
eleitores de cor de seus direitos", assegura Dominguez-Villegas.
O outro fator, lembra ele, é que os democratas,
"em quem a maioria dos latinos vota", dão este eleitor como certo.
Assumir que, "porque o Partido Republicano deu uma
guinada anti-imigrantes e anti-latinos desde a eleição de Donald Trump, os
latinos vão comparecer em massa e votar nos democratas" é um erro, alerta.
Parte dos eleitores está indecisa, e seu voto pode
migrar, conclui.
Eva
Rodriguez Lorenzo, AFP
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