terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Cresce preocupação com presos políticos na Nicarágua após morte de ex-guerrilheiro

O ex-general nicaraguense Hugo Torres, ex-integrante do Movimento de Renovação Sandinista e ex-presidente do partido Unamos, morreu em 12 de fevereiro de 2021 após passar oito meses na prisão, detido pelo governo de Daniel Ortega (AFP/Oscar NAVARRETE)

A saúde de dezenas de presos políticos na Nicarágua e suas terríveis condições de detenção preocupam cada vez mais a comunidade internacional, indignada com a recente morte de um deles, o ex-guerrilheiro Hugo Torres.

 

Torres, um ex-guerrilheiro de 73 anos, que foi companheiro de armas do presidente Daniel Ortega contra a ditadura de Somoza na década de 1970 e arriscou sua vida para tirá-lo do cárcere, embora depois tenham se desentendido, morreu no sábado após oito meses de prisão.

Familiares e defensores de direitos humanos denunciam a deterioração da saúde dos presos, que sofrem de extrema perda de peso e de dentes, desnutrição, problemas de memória, de mobilidade e desmaios, entre outros.

"A morte de Hugo Torres era completamente evitável e previsível (...), e se essas circunstâncias horríveis persistirem, é provável que não seja a última", alertou o advogado Jared Genser, defensor dos ex-pré-candidatos à presidência Juan Sebastián Chamorro e Felix Maradiaga.

Um total de 46 detidos, incluindo sete que aspiravam à presidência nas últimas eleições, foram acusados de minar a integridade nacional. Pelo menos 18 já foram declarados culpados e sete foram condenados a entre oito e 13 anos de prisão.

Há ainda outros 124 opositores presos durante os protestos em 2018, que pediam a renúncia de Ortega e deixaram 355 mortos como resultado da repressão do governo, além de 100 mil exilados, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

"Condições desumanas"

"A morte do preso político Hugo Torres ocorreu durante seu encarceramento injusto e abusivo por Ortega-Murillo", disse o chefe da diplomacia dos Estados Unidos para a América Latina, Brian Nichols, no Twitter. "Continuar a deter prisioneiros nestas condições - especialmente os mais velhos - é inadmissível. Pedimos a sua libertação imediata."

Para o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Torres foi preso “em condições desumanas e submetido a um processo criminal sem garantias”.

"A União Europeia pede uma investigação rápida e independente" sobre a morte de Torres, declarou o porta-voz do bloco para assuntos exteriores, Peter Stano, no Twitter.

A Organização dos Estados Americanos (OEA), por sua vez, considerou "abominável" que existam presos com doenças terminais que não recebam os cuidados médicos necessários.

A ex-presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Antonia Urrejola, destacou em suas redes sociais que Torres morreu "preso e criminalizado arbitrariamente" e fez um apelo sobre a situação dos detidos. "Muitos correm sérios riscos de saúde e vida", alertou.

O Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil), com sede na Costa Rica, exigiu que as autoridades "libertem sem condições" todos os prisioneiros, em um comunicado enviado à AFP.

A instituição lembrou ainda que a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) ordenou a libertação imediata de Torres e de todos os presos em repetidas ocasiões, mas "o Estado nicaraguense ignorou, entrando em desacato".

Representantes da Costa Rica e do Peru também manifestaram preocupação com as condições dos presos políticos na Nicarágua.

A Procuradoria da Nicarágua não especificou a causa da morte de Torres e disse que "desde que sua saúde se deteriorou, ele foi transferido para um hospital da capital para ser tratado de forma adequada".

No entanto, a ex-guerrilheira Mónica Baltodano, no exílio, garantiu que Torres foi levado ao hospital no dia 17 de dezembro já inconsciente. "Seus companheiros tiveram que ajudá-lo várias vezes, pois devido ao grau de inflamação nas pernas ele mal conseguia se mover sozinho", contou.

Ortega, de 76 anos, no poder desde 2007, foi eleito para um quarto mandato consecutivo nas eleições de novembro, consideradas fraudulentas pela comunidade internacional.

Ele enfrenta sanções dos Estados Unidos e da União Europeia, que o acusam de corrupção e violação de direitos humanos.

AFP



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