domingo, 15 de dezembro de 2013

O STF e a fábula do rato


Meus queridos, logo abaixo transcrevo uma fábula que cai bem no contexto que abordo na sequência:

A fábula do Rato:

Um Rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Correu ao pátio da fazenda advertindo a todos:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa!!

A Galinha disse:

- Desculpe-me caro Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

Então o rato foi até o Porco e disse:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira!

- Desculpe-me prezado Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranqüilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à Vaca. E ela lhe disse:

- O que? Uma ratoeira? Por acaso estou em perigo? Acho que não!

Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.

No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher… O fazendeiro a levou imediatamente ao hospital. Ela voltou com febre.

Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal, a Galinha.

Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.

Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

A mulher não melhorou e acabou morrendo.

Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a Vaca, para alimentar todo aquele povo.

Moral da Estória: “Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco.”

Pois bem, tem assumido o Supremo Tribunal Federal um papel que – é evidente – supera em muito suas funções institucionais. Vejam os recentes casos envolvendo a união civil de homossexuais, o aborto de anencéfalos e as cotas raciais...
A leniência e a vagarosidade do Congresso Nacional não devem ser utilizadas como pretexto para que o STF avance sobre o outro Poder... afinal, de agilidade, a mais alta corte do país tem muito pouco a ensinar, não é? E o Mensalão está aí para comprovar. O inquérito chegou ao Supremo em julho de 2005; está em vias de completar 9 anos...

Adotando a lógica que, hoje, parece vigorar no Supremo; também o Congresso poderia -  alegando demora no desenrolar dos processos - avocar a si julgamentos sobre casos emblemáticos e importantes para a sociedade, não?... Absurda e inaceitável a tese, é verdade!, então por que aceitá-la quando o usurpador das funções do parlamento é o STF?
O editorial do Jornal O Globo, ajuda a recolocar os pingos nos ‘is’:

Equívocos sobre o financiamento de campanha
Editorial de O Globo

Costuma haver uma carga de exagero nas críticas à “judicialização da política”, quase sempre feitas com um viés contra o Judiciário. Afinal, o Supremo e o TSE, onde se delibera acerca de questões sobre partidos e mandatos, só atuam quando são acionados pelo Ministério Público ou, na maioria das vezes, pelos próprios políticos.

Isso não significa uma absolvição prévia às decisões dos tribunais. Mesmo que sejam todas defensáveis do ponto de vista técnico-jurídico, não significa que sempre contribuam para o aperfeiçoamento do bom exercício da Política, com o devido “p” maiúsculo.

Há circunstâncias, inclusive, em que muita saliva e tempo são gastos em agendas desfocadas. No momento, por exemplo, transcorre no STF o julgamento de ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) contra o financiamento a candidatos e partidos por empresas.

Até a sessão de ontem, a posição do relator do processo, ministro Luiz Fux, pelo acolhimento da tese da ação, foi seguida, em sua essência, por mais três magistrados: o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, Dias Toffoli e Luis Roberto Barroso. Como o ministro Teori Zavaski pediu vista do processo, pode-se ganhar tempo para uma discussão mais ampla do tema.

Proibir a contribuição de empresas para campanhas e partidos é o mesmo que investir quixotescamente contra moinhos de vento. Porque é ilusório imaginar que, sendo as pessoas jurídicas as grandes fontes de financiamento da vida política — e não apenas no Brasil —, deixará de ser encontrada uma forma de o dinheiro continuar a fluir. Ela até já existe: o caixa dois.

Um efeito colateral deletério do alijamento de empresas é induzir a ampliação da parcela de dinheiro público na política. Que já não é pequena: apenas em rebate tributário às emissoras, devido ao programa eleitoral “gratuito”, foram pouco mais de R$ 600 milhões na campanha de 2012. Em 10 anos, R$ 4 bilhões, informa o site Contas Abertas. E falta acrescentar os milhões do fundo partidário.

Cortar os recursos das empresas apenas ajuda o lobby pela equivocada estatização completa das finanças da política — o “financiamento público de campanha”. Outro gesto ilusório em nome do fim do caixa dois.

O PT, particularmente, se bate pelo financiamento público, porque ele facilita a adoção do sistema de voto em lista fechada, a favor da primazia dos caciques partidários na definição dos candidatos, cassando-se o direito do eleitor de escolher seus nomes.

Em vez disso, deve-se é tornar eficientes os sistemas de fiscalização, punir o “conta-suja” (fraudador na prestação de contas), dar total transparência às doações e aos gastos, venha o dinheiro de pessoas físicas ou jurídicas. O problema não é empresa gastar com política, mas a falta de informações e controles eficientes sobre todas as finanças da vida pública.