Segundo definição da Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas), saúde mental é um “estado de bem-estar em que o
indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais
da vida, pode trabalhar de forma produtiva e frutífera e é capaz de contribuir
para sua comunidade”.
Os transtornos mentais são um problema de saúde pública
que não deve ser negligenciado. O impacto econômico gerado por gastos em saúde
mental destaca a depressão como um dos principais na saúde pública até 2030,
pois compromete a saúde e a qualidade de vida do indivíduo, além do aumento da
mortalidade. Foi estimado um gasto de US$ 2,5 trilhões no mundo em 2010, com
previsão de aumentar para até US$ 6 trilhões em 2030 – desses gastos 10,3% são
destinados a transtornos mentais, com a depressão sendo um dos principais.
Apesar dos avanços científicos, o tratamento convencional
da depressão é eficaz apenas em um em cada três casos. Além disso, a condição é
frequentemente recorrente, com recidiva aparente em 50% dos casos. Nesse
contexto, identificar fatores de risco modificáveis para
orientar estratégias
de intervenção tanto para prevenir quanto para diminuir sua gravidade parece
ter seu valor. Dentre estes fatores de risco modificáveis destacamos a
alimentação.
As propriedades dos alimentos podem ter efeitos no
aumento e/ou redução dos sintomas depressivos, como, por exemplo, uma dieta com
menor índice inflamatório (maior quantidade de alimentos anti-inflamatórios)
pode estar associada à melhora dos sintomas depressivos. Os sintomas
depressivos podem ser mais presentes e/ou agravados devido à deficiência de
nutrientes como a cobalamina (vitamina B12), o ferro (comum em vegetarianos sem
ajuste da dieta) e proteínas. Por outro lado, uma dieta rica em nutrientes,
como os carotenoides, ou adequada em selênio pode melhorar os sintomas
depressivos.
Os pesquisadores LaChance e Ramsey realizaram uma revisão
sistemática para identificar na literatura quais alimentos e nutrientes
desempenhavam papel na prevenção e promoção da recuperação de transtornos
depressivos. Trinta e quatro nutrientes foram analisados segundo grau de
evidência científica para serem qualificados como antidepressivos. Em seguida,
foi atribuído um escore Antidepressive Food Score (AFS) para os alimentos do
banco de dados do U.S. Department of Agriculture (USDA). Os resultados
demonstraram que 12 nutrientes estão relacionados à prevenção e controle de
transtornos depressivos: ácidos graxos ômega-3 (EPA e DHA), ferro, magnésio,
potássio, selênio, zinco, vitaminas do complexo B, vitamina A e vitamina C.
Entre os alimentos que apresentaram a pontuação mais alta destacam-se: as
ostras e mexilhões, frutos do mar, carnes e alimentos de origem animal, alface,
pimentão e vegetais crucíferos. Além disso, neste estudo os autores realizaram
um escore das principais fontes alimentícias que desempenham um papel na
prevenção e promoção da recuperação em transtornos depressivos. Nesse escore
apresentado destacam-se os alimentos de origem vegetal representando 86% do
total (hortaliças, frutas, legumes, grãos, nozes, castanhas e sementes),
indicando que um padrão alimentar rico em vegetais pode promover a saúde
mental.
A dieta MIND – Mediterranean-DASH Intervention for
Neurodegenerative Delay surgiu do desenvolvimento de uma associação entre a
dieta DASH e a dieta mediterrânea. A dieta orienta o consumo de pelo menos três
porções de grãos integrais, uma salada e um outro vegetal diariamente – junto
com um copo de vinho. Os lanches devem incluir frequentemente frutas
oleaginosas, como nozes, castanhas e amêndoas; leguminosas diariamente ou a
cada dois dias, aves e frutas vermelhas e arroxeadas pelo menos duas vezes por
semana e peixe pelo menos uma vez por semana. Há limitação para o consumo de
manteiga (menos de 1 colher de sopa por dia), queijo, frituras ou fast foods
(menos do que uma porção por semana para qualquer um dos três), para redução
dos efeitos da doença de Alzheimer.
Segundo uma análise investigativa de uma coorte realizada
por Ujué Fresán e colaboradores com 15.980 participantes, publicada no European
Journal of Nutrition, o aumento da adesão à dieta MIND reduziu o risco de
depressão, mas não foi estatisticamente significativo, diferente da dieta do
mediterrâneo (p<0,01). Por outro lado, os autores destacaram que o consumo
moderado de castanhas na dieta MIND foi inversamente associado a incidência de
depressão, e que o aumento da adesão tanto à dieta MIND quanto à do
mediterrâneo de baixo para moderado pode reduzir o risco de depressão. Desse
modo, acredita-se que os componentes da diet MIND (frutas, vegetais e
oleaginosas/castanhas) apresentam potencial na redução de risco de depressão,
visto que a relação inversa do consumo de alimentos vegetais e o risco de
depressão já é conhecida.
Polifenóis são compostos bioativos sem função de
nutriente, que têm sido investigados quanto ao seu papel na prevenção e
controle dos transtornos mentais devido às suas propriedades anti-inflamatórias
e antioxidantes. Kelly Lin e outros pesquisadores realizaram revisão
sistemática para investigar a eficácia da suplementação de polifenóis na
melhora da depressão, ansiedade e qualidade de vida (QV). Foram incluídos 19
estudos com 1.523 participantes; 18 estudos (n = 1.523) foram incluídos na
meta-análise de depressão, destes, 12 apresentaram melhorias na depressão e
redução significativa da pontuação de depressão em comparação ao controle (MD:
-2,280, IC 95%: -1,759, -0,133, I2 = 99,465) com o consumo de polifenóis.
Estes dados sugerem que esses compostos podem ser
utilizados como adjuvantes na prevenção e controle da depressão. Nas análises
de subgrupos, a isoflavona foi o polifenol mais eficiente. Além disso, doses
menores que 300 mg, período de suplementação superior a três meses também
apresentaram melhores resultados.
Embora o Brasil apresente uma ampla biodiversidade, o
consumo de alimentos fontes de polifenóis ainda é baixo. E esse baixo consumo
está relacionado com fatores socioeconômicos. Carnaúba et al. (2021)
investigaram a relação entre o consumo de compostos bioativos de acordo com o
nível de renda da população brasileira. Os dados foram obtidos da Pesquisa de
Orçamentos Familiares Brasileiros. O café foi a principal fonte para a ingestão
total de polifenóis e ácidos fenólicos, e o suco de laranja foi o principal
fornecedor de flavonoides em indivíduos de todos os níveis de renda.
Portanto, foi demonstrado que há uma influência
importante do nível de renda na qualidade da dieta em relação à ingestão de
alimentos com compostos bioativos e indivíduos com menor renda podem
experimentar dietas de qualidade inferior devido à menor disponibilidade de
alimentos com compostos bioativos e consequentemente apresentam maior risco de
transtornos mentais.
Ademais, a prevenção e/ou controle dos sintomas depressivos
por meio da alimentação adequada proporcionaria a mitigação do ônus econômico e
social associado à saúde mental, efetivamente refletindo na preservação do
bem-estar e qualidade de vida da população. Por isso, é essencial identificar
um padrão alimentar saudável, observando quais compostos bioativos, com ou sem
função de nutrientes, presentes nos alimentos, podem exercer um papel protetor
da saúde mental, a fim de reduzir a incidência desses transtornos na população.
Elizabeth A. F. S. Torres, Cintia Pereira da
Silva, Lara C. Natacci Cunha, Leonardo Negrão e Geni R. Sampaio, Jornal da USP
|
Para saber mais sobre o livro, clique aqui |
|
Para saber mais sobre o livro, clique aqui. |
|
Para saber mais, clique aqui. |
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Coleção As mais belas lendas dos índios da Amazônia” e acesse os 24 livros da coleção. Ou clique aqui.
O autor:
No mecanismo de busca do site amazon.com.br, digite "Antônio Carlos dos Santos" e acesse dezenas de obras do autor. Ou clique aqui.
-----------
|
Clique aqui para saber mais. |
|
Click here to learn more. |
|
Para saber mais, clique aqui. |