Ha 30 anos, a África do Sul acabava com o apartheid,
regime político de segregacionismo racial que durou quase meio século.
- Separação
racial -
Ignorando a maioria negra, a África do Sul contemporânea nasceu
"entre brancos" em 1910, resultado da união dos colonos britânicos e
dos 'afrikaners' ou boeres, de origem holandesa.
O apartheid ou "desenvolvimento separado das raças" em
afrikaner, sistematizou a partir de 1948 a segregação praticada desde o século
XVII pelos primeiros colonos holandeses.
O sistema, instaurado pelo Partido Nacional (PN), que dominou a vida
política do país de 1948 a 1994, se apoiava em três pilares: a lei sobre a
classificação da população, a lei da habitação separada e a lei sobre a terra.
Os habitantes eram classificados desde seu nascimento em quatro
categorias: brancos, negros, mestiços e indianos.
Na vida cotidiana havia placas para reservar ônibus, restaurantes,
bilheterias e até praias para a população branca. Os casamentos mistos e as
relações sexuais entre interraciais eram proibidas. Os negros tinham acesso à
educação e à saúde de menor qualidade.
Quase todo o território (87%) era reservado aos brancos. Cerca de 3,5
milhões de pessoas foram expulsas à força e os negros foram relegados às
"townships", cidades-dormitório, e "bantoustans", reservas
étnicas.
Até 1986, os negros eram obrigados a viajar com uma carteira de identidade
que informava para onde tinham permissão de ir, arriscando-se em caso contrário
à prisão ou multas.
- Resistência
-
O estabelecimento do apartheid provocou resistência. O Congresso Nacional
Africano (ANC) primeiro adotou métodos não violentos, como greves, boicotes e
campanhas de desobediência civil.
Em 1960, a polícia abriu fogo contra manifestantes em Sharpeville e matou
69 negros. O ANC e o Partido Comunista foram proibidos e o governo estabeleceu
o estado de emergência.
Na clandestinidade, o ANC optou pela luta armada. Em 1964, seu líder,
Nelson Mandela, foi condenado à prisão perpétua por sabotagem. Em 1977, Steve
Biko, fundador do Movimento da Consciência Negra, morreu na prisão depois de
ser espancado pela política. Ele virou um símbolo mundial da luta contra o
apartheid.
As sanções internacionais contra a África do Sul foram se acumulando:
exclusão dos Jogos Olímpicos, expulsão dos órgãos da ONU, embargo sobre armas.
Várias estrelas mundiais se comprometeram contra o regime em um grande show no
estádio de Wembley (Londres), em 1990.
- As primeiras
eleições livres -
Em fevereiro de 1990, o presidente Frederik de Klerk, que estava há cinco
meses no poder, surpreendeu a todos ao legalizar a oposição negra. Nelson
Mandela foi libertado em 11 de fevereiro, depois de passar 27 anos na prisão.
Um ano e meio depois, o apartheid foi abolido.
A transição democrática foi trabalhosa. O processo foi interrompido por
pessoas contrárias a mudanças dentro dos serviços de segurança brancos e pela
sangrenta rivalidade entre os militantes do ANC e do partido zulu Inkhata
(IFP).
A pressão também foi exercida pelos extremistas brancos (especialmente do
Movimento da Resistência Afrikaner) e negros (os africanistas do Exército de
Libertação do Povo de Azânia), que cometeram atentados.
Em abril de 1993, o país se aproximou de uma guerra civil, quando um
ativista da extrema-direita branca assassinou Chris Hani, secretário-geral do
Partido Comunista, um aliado do ANC.
Em abril de 1994, a África do Sul organizou as primeiras eleições
multirraciais e virou a página do apartheid. "Finalmente livres",
afirmou Nelson Mandela quando foi eleito presidente.
Por Andrea Graells
Tempel, AFP
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