Lâmpadas
capazes de irradiar a conexão de internet pela luz fazem parte de um mercado
potencial capaz de gerar US$ 6 bilhões ao ano
Por
Matheus Mans, no Estadão
Divulgação
Pela luz. Harald Haas, inventor do Li-Fi, começa a ver tecnologia
ser testada por empresas
A
internet poderá transmitir dados na velocidade da luz. Tudo por causa de um
inventor escocês que pensou em transformar as lâmpadas em dispositivos capazes
de irradiar a conexão de web. A nova tecnologia, chamada Li-Fi – ‘light
fidelity’, na sigla em inglês – começou a ganhar forma depois da metade deste
ano, quando a primeira fabricante começou a testar as lâmpadas compatíveis em
casas, praças, universidades e indústrias na Europa.
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Embora a
tecnologia tenha sido apresentada publicamente há quatro anos pelo professor da
Universidade de Edimburgo, o escocês Harald Haas, o Li-Fi ganhou notoriedade na
última semana, quando os primeiros resultados dos testes em condições reais
foram divulgados. A empresa estoniana Velmenni comprovou que é possível
transmitir a conexão de internet pela luz de maneira estável e com maior
segurança do que a conexão Wi-Fi, largamente utilizada em todo o mundo.
O Li-Fi
surgiu antes mesmo de o Wi-Fi deixar de ser coisa de ficção científica. Em
2003, Haas tentava encontrar uma forma de democratizar o acesso à internet e
reparou na quantidade de lâmpadas que estão ao nosso redor. “O Wi-Fi e a conexão
móvel dependem de antenas para serem replicados, já que utilizam a frequência
de rádio”, disse Haas, em entrevista ao Estado. “Para não prejudicar o alcance
da conexão, pensei em usar uma outra frequência: a de luz visível.”
A ideia
só se concretizou oito anos depois, quando Haas apresentou o Li-Fi durante a
conferência TED, nos Estados Unidos. Haas acendeu uma luminária e disse, com
forte sotaque, que dados estavam sendo transmitidos do computador para o
projetor por meio da conexão de internet sem fio oferecida, não por um
roteador, mas pela lâmpada. Embora ele tenha sido aplaudido, ninguém na plateia
entendeu direito o que ele queria dizer: afinal, como uma lâmpada poderia criar
uma rede sem fio?
Ao
explicar a tecnologia, Haas faz uma comparação simples: quando um controle é
acionado, um pequeno fluxo de dados de baixa velocidade é enviado pelo LED
infravermelho e captado por um outro aparelho, como a TV. No Li-Fi, a lâmpada é
equipada com um chip que se conecta à rede móvel da operadora e irradia o sinal
para dispositivos eletrônicos sem conexão móvel, como computadores ou TVs. “A
lâmpada pisca numa velocidade alta. Os aparelhos interpretam o sinal emitido e
estabelecem a conexão.”
Engana-se
quem acha que o Li-Fi só funciona quando a luz está acesa. O pesquisador
ajustou a tecnologia para emitir o sinal de internet em uma frequência alta,
invisível aos olhos humanos.
Segundo especialistas, o Li-Fi é mais seguro do
que as redes Wi-Fi. “Ele torna a rede mais segura e permite utilizar a internet
sem medo de interferências, como em um avião ou em uma sala de cirurgia”, diz o
professor do Laboratório de Sistemas Integráveis, da Universidade de São Paulo,
Renato Franzin. Além de aviões, o Li-Fi pode ser oferecido sem riscos embaixo
d’água e em plataformas petroquímicas.
Como a
luz não atravessa paredes, a conexão de internet Li-Fi não pode ser acessada de
outros cômodos. “Se você não quer que o sinal seja interceptado, basta fechar a
porta”, diz Hass. A nova tecnologia também pode acabar com o problema de ter conexão
Wi-Fi na sala, mas sinal fraco no quarto. Apesar de já existirem tecnologias
que levam o sinal de internet para outros cômodos, como a PowerLine (veja
quadro ao lado), basta instalar uma lâmpada compatível com Li-Fi em cada local
para distribuir o sinal de maneira uniforme. A velocidade, porém, é similar à
oferecida pelas redes Wi-Fi – ao contrário do que foi divulgado pela Velmenni.
Segundo a empresa, as redes Li-Fi poderiam oferecer conexão de internet com
velocidade 100 vezes mais rápida. “Isso não existe”, diz Hass.
No
escuro. Apesar
dos benefícios do Li-Fi, a tecnologia ainda precisa seguir um longo caminho
antes de se tornar um padrão, como o Wi-Fi. O primeiro desafio é a necessidade
de comprar lâmpadas especiais. Poucas startups oferecem produtos compatíveis,
como a francesa Oledcomm. A empresa vende um kit que inclui um tablet equipado
com fotorreceptor e um conjunto de lâmpadas por € 400 (o equivalente a R$ 1,6
mil).
Outro
problema é a adaptação de eletrônicos, como computadores, TVs e tablets. Eles
precisam sair de fábrica com fotorreceptores. Para permitir o avanço da
tecnologia, todos os grandes fabricantes teriam de se adaptar. Apesar dos
entraves, a consultoria Markets and Markets prevê que o mercado de Li-Fi deve
movimentar US$ 6 bilhões até 2018.
Para
Hass, o Li-Fi não foi feito para substituir o Wi-Fi. “Ele é complementar ao
Wi-Fi, que é ineficiente quando muitas pessoas estão conectadas. Com o Li-Fi,
menos pessoas competirão pelo sinal e a internet ficará mais bem distribuída.”
Tecnologias
usam rede elétrica para transmitir internet
Além do
Li-Fi, uma outra tecnologia usa a eletricidade para distribuir a conexão de
internet pela casa.
Chamada de PowerLine, ela está presente em dispositivos que
parecem replicadores de sinal Wi-Fi.
Contudo, em vez de apenas amplificar o
sinal sem fio, eles transmitem o sinal por meio da rede elétrica. O usuário
liga a “central” do dispositivo em uma tomada perto do roteador e conecta um
cabo de rede entre os dois aparelhos. Depois, basta colocar receptores de sinal
nas tomadas de outros cômodos da casa, que captam a conexão de dados e
‘espalham’ a conexão pela residência.
Se o
roteador estiver na sala e o quarto não recebe sinal, o morador liga a central
na sala e coloca um receptor na tomada do quarto. “Esta tecnologia permite
estender o sinal de Wi-Fi pela casa toda independente de onde o roteador está”,
explica o gerente de produtos da fabricante de equipamentos de rede D-Link,
Rodrigo Paiva.
Já é
possível encontrar dispositivos compatíveis com a tecnologia PowerLine no
Brasil de diversas marcas com preços que variam entre R$ 150 e R$ 500,
dependendo dos recursos.