Os jovens membros do Rosa Branca distribuíam panfletos de resistência antinazista pela Alemanha. Em Israel, onde o movimento é pouco conhecido, uma nova mostra conta sua história.
Foi durante o verão de 1942 que os estudantes de medicina Hans Scholl e Alexander Schmorell distribuíram os quatro primeiros "Panfletos do Rosa Branca", de um total de seis, na cidade alemã de Munique. Os escritos expressavam raiva e espanto pela apatia dos alemães, na época, declarando que quem não se engajava ativamente na libertação do país da ditadura nazista era igualmente culpado dos crimes dela.
O pequeno movimento, chamado Weisse Rose (Rosa Branca), continua sendo um símbolo da resistência até os dias de hoje: o nome decora muitas praças e ruas em várias cidades da Alemanha, e escolas receberam os nomes de seus jovens membros.
Em homenagem aos 50 anos do início das relações diplomáticas entre a Alemanha e Israel, uma nova exposição na Galileia relembra agora a história de ativismo desse grupo de alemães, pouco conhecida no país do Oriente Médio.
"Acho extremamente importante, sobretudo nos dias de hoje, mostrar ao público que é possível resistir e criticar o próprio governo, caso se sinta que ele está agindo errado", disse à DW a israelense Sharon Cohen, em visita à exposição com os dois filhos, de 14 e 16 anos.
"Acredito que não haja, hoje, um país tão cruel quanto os nazistas foram, mas a mensagem continua relevante. A história dos membros do Rosa Branca é pouco conhecida em Israel, e acho que meus filhos se beneficiarão em conhecê-la", comentou. "Assim eles podem ver com os próprios olhos que houve gente que se manteve firme por um objetivo em que acreditava, mesmo que ele estivesse condenado ao fracasso ou mesmo lhes tenha custado a vida. Eles resistiram pela humanidade e contra o mal."
Seis manifestos
As ações do grupo de resistência Rosa Branca, inicialmente formado na Universidade Ludwig Maximilian de Munique, tiveram pouco, ou talvez nenhum, efeito para o enfraquecimento do regime nazista. Mas a coragem de seus membros em se opor à tirania foi como um pequeno farol de esperança por uma Alemanha diferente.
Durante as noites, Scholl e Schmorell pichavam frases como "Hitler assassino de massa" e "Liberdade" em prédios públicos de Munique. Mais tarde eles se uniram a outros estudantes, entre os quais Willi Graf e Sophie Scholl, a irmã de Hans.
O quinto dos panfletos do Rosa Branca, intitulado "Apelo a todos os alemães!", apareceu em janeiro de 1943 em várias cidades da Alemanha e da Áustria. Kurt Huber, professor dos jovens na universidade, foi quem redigiu o sexto e último, pedindo a todos os estudantes da instituição que se opusessem ao governo assassino. O manifesto foi distribuído pelos irmãos Scholl no prédio principal da universidade, em 18 de fevereiro.
Coragem de resistir
A mostra "Rosa Branca" – exposta em árabe e hebraico no museu Beit Lohamei Ha-Getaot (Casa dos Combatentes do Gueto), entre as cidades de Acre e Nahariya, no norte de Israel – traz fotos do grupo e de seus membros, explica as atividades que exerciam, mostra os panfletos distribuídos na época e fala sobre o alto preço pago pelos alemães que tentaram resistir ao nazismo.
Ao lado de atividades educacionais destinadas a alunos do ensino médio, a exposição enfoca o senso de responsabilidade social mostrado pelo Rosa Branca, assim como a perseverança de seus membros em seguir a própria consciência, em nome de valores humanistas, arriscando e até mesmo sacrificando suas vidas, ao contrário da maioria da sociedade alemã da época.
O segundo panfleto do grupo, por exemplo, denunciava o assassinato em massa de judeus na Polônia: "Estamos testemunhando o mais terrível crime contra a dignidade humana, um crime sem precedentes em toda a história da humanidade." No quarto panfleto, Scholl e Schmorell ameaçavam: "Não ficaremos em silêncio, nós somos a sua consciência pesada, o Rosa Branca não vai deixá-lo em paz."
Heróis verdadeiros
Entre as demandas nos panfletos do Rosa Branca constavam "liberdade de expressão, liberdade religiosa e proteção de cada cidadão contra o despotismo de regimes violentos como fundamentos para uma nova Europa". Seus membros, porém, nunca tiveram a chance de vê-las realizadas.
Em 22 de fevereiro de 1943, Hans e Sophie Scholl, junto ao colega Christoph Probst, foram condenados à morte e guilhotinados na prisão de Stadelheim, em Munique. As investigações continuaram, e naquele mesmo ano Alexander Schmorell, Willi Graf e o professor Kurt Huber também foram condenados à morte e executados.
"Eu acho isso tudo muito triste, mas eles foram heróis", comenta o filho de 14 anos de Sharon Cohen. "Gostei da exposição, mas ao mesmo tempo ela me deu um ponto de vista sobre o qual não é muito agradável pensar. Deixou uma pedra pesada no meu estômago."
"Hoje o Rosa Branca representa valores como o pensamento independente, liberdade e tolerância", diz uma das placas da exposição. "O legado atemporal do grupo é um apelo pela proteção dos direitos humanos e pela luta contra a discriminação, racismo e violência."
Para Sharon, essas palavras foram bastante poderosas. "Estou feliz em ter trazido meus filhos, para verem como gente honesta se manteve firme por aquilo em que acreditava, apesar de tudo. Espero que eles possam aprender algo para o futuro. Talvez até mesmo para o presente."
Por Dana Regev, na Deutsche Welle