Daniel Oliveira estudou nos EUA, Suíça e ajudou
refugiados na Jordânia. Nascido no interior de SP, voltou ao Brasil para 'fazer grandes coisas'.
Por Vanessa
Fajardo, no G1, em São Paulo
Daniel na Universidade Yale, nos EUA, onde concluiu
o mestrado (Foto: Arquivo pessoal)
Uma bolsa
de estudos em um colégio católico conseguida pela tia, que era freira, e a
cobrança da mãe por boas notas foram determinantes na história de Daniel José
da Silva Oliveira, de 27 anos. Ele diz que, além das oportunidades, teve sorte.
Mas não teria saído de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, e
estudado na Suíça, ajudado refugiados de guerra na Jordânia, trabalhado no
mercado financeiro no Brasil, e concluído o mestrado em Yale, uma das
universidades mais importantes do mundo, se tivesse deixado de lado seu sonho
de “fazer grandes coisas e mudar o mundo”.
Daniel
voltou ao Brasil em junho deste ano, depois de várias temporadas no exterior,
para realizar a vontade de trabalhar com algo que ajude a transformar o país.
Daniel atua em uma startup, em São Paulo, que auxilia estados e municípios a melhorarem
a educação pública.
“Agora é
hora de impactar, tenho as ferramentas na mão. Penso na educação por causa da
igualdade de oportunidade. Talento e esforço devem ser determinantes. Quero
transformar a educação para a educação transformar o Brasil. Eu acredito muito
nisso. Boa parte da minha vida fui bolsista. Antes de comida, eu precisava de
bolsa. Tive muita oportunidade que gente com mais talento que eu não tem”,
afirmou ele ao G1.
Quero
transformar a educação para a educação transformar o Brasil. Eu acredito muito
nisso. Boa parte da minha vida fui bolsista. Antes de comida, eu precisava de
bolsa. Tive muita oportunidade que gente com mais talento que eu não tem"
Daniel
Oliveira, de 27 anos
Daniel
tem 11 irmãos. Durante sua infância e adolescência em Bragança Paulista, a mãe
trabalhava como diarista – ela largou o trabalho dois anos atrás. O pai, hoje
com 92 anos, era auxiliar em uma agência bancária. Lá, servia café e fazia o
que mais precisasse.
A mãe
sempre valorizou a educação e cobrava que os filhos tivessem bom desempenho na
escola. Pediu à irmã, que era freira, que conseguisse uma bolsa de estudo em um
colégio. Foi assim que Daniel e o irmão gêmeo trocaram a rede pública pela
privada, onde concluíram toda a educação básica.
“Se
alguém quer aumentar a chance de alguém ter sucesso, precisa ter uma mãe que
cobre e valorize a educação. Eu era bom aluno, mas não tinha destaque. Foi no
ensino médio que comecei a estudar de verdade. Sempre tive o sonho de fazer
coisas grandes, de gerar impacto, e mudar o mundo”, diz Daniel.
Daniel fez mestrado de relações internacionais em
Yale (Foto: Arquivo pessoal)
Rumo a
São Paulo
Não foi difícil chegar à faculdade. Daniel ganhou bolsa de estudos para cursar economia no Insper, escola renomada no ramo de negócios, localizada em São Paulo. A transição, no entanto, foi dura.
Não foi difícil chegar à faculdade. Daniel ganhou bolsa de estudos para cursar economia no Insper, escola renomada no ramo de negócios, localizada em São Paulo. A transição, no entanto, foi dura.
“Antes eu
vivia em Bragança, só andava de chinelo, não tinha celular e nunca tinha
dinheiro no bolso. No Insper, estudava com filhos de grandes empresários, meus
colegas chegavam de carro importado. Eles tinham vindo das melhores escolas”,
afirma.
Tinha R$
10 por dia para me manter. Às vezes passava um dia com um salgado, uma bolacha.
Por um bom tempo foi bastante difícil. Passei por uma situação de que nenhum
aluno deveria passar"
Daniel
Oliveira, de 27 anos
Ele
lembra que teve de se deparar com uma realidade totalmente diferente da de seus
colegas. "Saía de casa às 5h30 da manhã, pegava ônibus lotado, tinha R$ 10
por dia para me manter. Às vezes, passava um dia com um salgado, uma bolacha.
Por um bom tempo foi bastante difícil. Passei por uma situação pela qual nenhum
aluno deveria passar”, complementa.
O
estudante diz que optou por estudar economia porque via na profissão uma
possibilidade de pode gerar grandes transformações na vida das pessoas. “Se um
economista fizer um trabalho bem feito, pode curar a vida das pessoas. Isso
sempre me atraiu. Queria encontrar uma plataforma para fazer algo pelas
pessoas.”
Rumo à
Suíça
Depois de um ano na faculdade, Daniel conseguiu uma bolsa na Fundação Estudar, ONG que apoia alunos de excelente desempenho acadêmico e baixa renda. A vida começou a tomar rumo quando ele resolveu partir para um novo desafio. Em agosto de 2007, quando estava no segundo ano da graduação, conseguiu uma bolsa para fazer intercâmbio na Suíça.
Depois de um ano na faculdade, Daniel conseguiu uma bolsa na Fundação Estudar, ONG que apoia alunos de excelente desempenho acadêmico e baixa renda. A vida começou a tomar rumo quando ele resolveu partir para um novo desafio. Em agosto de 2007, quando estava no segundo ano da graduação, conseguiu uma bolsa para fazer intercâmbio na Suíça.
Foi para
um centro de estudos de resolução de conflitos, organizado por uma associação
ecumênica, para estudar políticas públicas e ética com alunos de diferentes
áreas e países.
“Descobri
que aprendia línguas rápido, estudei inglês por pouco tempo e já conseguia me
comunicar.
Na Suíça eu já conseguia falar bem. Lá aprendi italiano e francês e
abri meus olhos para o mundo.”
Daniel na Jordânia, onde trabalhou em uma ONG que
acolhe refugiados de guerra (Foto: Arquivo pessoal)
Rumo à
Jordânia
Um ano depois, Daniel voltou para o Brasil e para a faculdade. No período de estágio, foi para o mercado financeiro, mas sucumbiu à vontade de experimentar algo diferente novamente, e viajou para a Jordânia para trabalhar em uma ONG que acolhe refugiados de guerra vindos da Síria e do Iraque.
Um ano depois, Daniel voltou para o Brasil e para a faculdade. No período de estágio, foi para o mercado financeiro, mas sucumbiu à vontade de experimentar algo diferente novamente, e viajou para a Jordânia para trabalhar em uma ONG que acolhe refugiados de guerra vindos da Síria e do Iraque.
O
brasileiro visitou os campos para ver as necessidades dos refugiados, dava
aulas de inglês e também ajudava na clínica médica. Foram nove meses da
experiência que ele define como a “mais forte que teve na vida”. Na época com
22 anos, ele diz que não tinha maturidade para entender o grau de dificuldade
pela qual aquelas pessoas passavam.
“Eu
jogava bola com eles e fazia atividade recreativa com os filhos dos refugiados.
Ouvia muitas histórias de tortura, de morte de bebês, de pais que perderam
tudo. Coisas chocantes. Até hoje eu penso: que surreal ouvi-los. Me fez pensar
em como posso me dedicar, usar o que eu tenho para ajudar pessoas.”
De volta
para casa
No retorno ao Brasil, Daniel partiu novamente para o mercado financeiro e foi trabalhar em um fundo de investimento. Trabalhou um ano até se inscrever para uma seleção de mestrado. Mesmo achando que não seria possível, que as instituições de renome eram só para "gênios", chegou em Yale, nos Estados Unidos, uma das universidades mais importantes do mundo. Estudou relações internacionais e, durante o período de trabalho de campo, passou dez semanas viajando pelas 20 cidades brasileiras com os Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) mais baixos do Brasil no Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas.
No retorno ao Brasil, Daniel partiu novamente para o mercado financeiro e foi trabalhar em um fundo de investimento. Trabalhou um ano até se inscrever para uma seleção de mestrado. Mesmo achando que não seria possível, que as instituições de renome eram só para "gênios", chegou em Yale, nos Estados Unidos, uma das universidades mais importantes do mundo. Estudou relações internacionais e, durante o período de trabalho de campo, passou dez semanas viajando pelas 20 cidades brasileiras com os Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) mais baixos do Brasil no Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas.
Depois de
dois anos nos Estados Unidos, voltou para o Brasil em junho deste ano. Dessa
vez, segundo ele, para ficar. Daniel deixou para trás a proposta de trabalhar
no mercado financeiro em Nova Iorque e a namorada brasileira que faz doutorado
na Califórnia. O motivo, além da vontade de transformar o Brasil, é o pai, que
está com 92 anos.
“Ele é
uma referência muito importante para mim. Eu preciso mais dele, do que ele de
mim. Ele está super bem, ainda dirige e reclama que a sua habilitação precisa
ser renovada todo ano, mas sei que ele não vai estar assim a vida inteira.”