A infectologista Luana Araújo afirmou nesta quarta-feira em
depoimento à CPI da Covid no Senado que a ciência não tem lado, e que quando se
politiza o ato médico "está tudo errado".
Graduada
na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestre em saúde pública pela
Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, Araújo disse tomar como base
critérios científicos para afirmar com convicção que não existe tratamento
precoce eficaz contra a Covid 19, citando, inclusive, estudo que aponta aumento
de mortalidade nos casos em que a cloroquina foi utilizada.
Ela
também defendeu a vacinação em larga escala ao explicar que o coronavírus, por
sua capacidade de rápida mutação, torna impossível o alcance da chamada
imunidade de rebanho natural.
"Ciência
não tem lado", disse a médica à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
"Ciência ou é bem feita ou é mal feita. Ciência bem feita é aquela que não
busca o resultado que você quer, é aquela que faz a pergunta e espera para
entender o que aconteceu."
"E,
quando a gente coloca politização ou polarização no meio de um ato médico, a
gente já está fazendo tudo errado", acrescentou.
Araújo
foi escolhida para uma secretaria especial de combate à Covid-19 do Ministério
da Saúde pelo ministro Marcelo Queiroga, e contou aos senadores que chegou a
trabalhar por 10 dias mesmo sem ser nomeada, até ser dispensada.
A
médica relatou ter sido informada pelo próprio ministro que, apesar do convite,
não poderia ser nomeada porque não tinha sido aprovada pelo Palácio do
Planalto.
A
infectologista evitou, no entanto, tecer qualquer comentário que comprometesse
o ministro, a quem se referiu como "um homem da ciência" e bem
intencionado.
Ela
evitou também responder diretamente quando perguntada sobre declarações do
presidente minimizando a proporção da pandemia, a importância das vacinas ou de
medidas de prevenção como o uso de máscaras e o distanciamento físico.
"Eu
não gostaria que a minha participação ou eu fossem utilizados de forma
diferente da minha participação técnica", avisou, de início.
"Mas
não é possível ouvir uma declaração ou um conjunto de declarações de quem quer
que seja --não estou personalizando na figura do presidente--, de quem quer que
seja, neste momento, sem sofrer um impacto quase que emocional, além do
racional que a gente trabalha o dia inteiro, ao ver isso."
Sobre
a cloroquina, tema que voltou a acirrar ânimos na CPI, afirmou que todos são
favoráveis a qualquer terapia que se comprove eficaz -- o que não ocorreu com o
medicamento para o enfrentamento à Covid-19.
"Quando
ela não existe, ela não pode se tornar uma política de saúde pública",
pontuou, citando revisão sistemática internacional com medida estatística de
aumento de risco de 1,77 para o uso da cloroquina, o equivalente, segundo ela,
a um aumento de mortalidade de 77%.
Por Maria Carolina
Marcello, na Reuters
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