sábado, 23 de janeiro de 2016

Livro abre celebrações dos 400 anos da morte de Shakespeare


Em 5 de novembro de 1605, o rei James, nobres e líderes da igreja da Inglaterra iriam todos pelos ares, num atentado a bomba no parlamento. Mas um dia antes foi flagrado no subsolo o católico Guy Fawkes, com 36 barris de pólvora, e em meses a conspiração inteira veio abaixo.

Shakespeare começou então um de seus anos de maior e mais sombria criação para o teatro, reencontrando a voz perdida em 1603 com a morte da rainha Elizabeth e com a censura mais rígida. É o que James Shapiro, da Universidade Columbia, conta em "1606", que lançou em novembro –adiantando-se à torrente de obras sobre o dramaturgo no quarto centenário de sua morte, em 23 de abril próximo.

Um dos livros do ano segundo o jornal "The New York Times", que o descreve como brilhante e fascinante, "1606: William Shakespeare and the Year of Lear" relaciona as três peças que ele escreveu nesse ano, "Rei Lear", "Macbeth" e "Antônio e Cleópatra", com "o que estava acontecendo naquele tempo carregado".

"Não acho que um só acontecimento tenha definido as peças, e sim uma confluência de acontecimentos perturbadores, no início do reinado de James", diz Shapiro à Folha.

"Mas, para o homem e a mulher comuns, nas ruas, a queda da Conspiração da Pólvora, incluindo a caçada dos conspiradores, sua captura, tortura, julgamento, execuções brutais, que foram de janeiro até maio, deve ter sido o mais angustiante."

MÁSCARAS

Tanto que o 5 de novembro se tornou data nacional, com a "máscara" de Guy Fawkes sendo queimada anualmente em fogueiras –e, mais recentemente, inspirando o filme "V de Vingança" (2006) e o ativismo de movimentos como Anonymous e Occupy Wall Street. No teatro de Shakespeare, o regicida Macbeth, incorporação do mal, é um Guy Fawkes que deu certo.

"O que começou com um grupo de católicos descontentes e seus confessores jesuítas, no que era essencialmente uma trama terrorista que esperava destruir a família real e toda a liderança política e religiosa do país, restaurando a velha religião, se transformou quatro séculos depois num símbolo do enfrentamento dos poderosos, com a proliferação das máscaras e tudo mais", afirma Shapiro.

Por Nelson de Sá, na Folha de S. Paulo

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