O
fundamentalismo islâmico está no centro de 'A Lista', novo romance de Frederick
Forsyth
“Espiões,
terroristas, mercenários... esse mundo continua o mesmo”
Do El País
O escritor
britânico Frederick Forsyth, no hotel Villa Real, Madri. / ÁLVARO GARCÍA
Na gíria dos serviços de inteligência anglo-saxões
um clean skin ou lily-white —dois termos que
correspondem a uma personalidade aparentemente sem máculas– é uma pessoa que
nunca se uniu a um grupo passível de ser vigiado, que vive e trabalha nas
sociedades ocidentais sem chamar a atenção, que só na sua mente guarda as
motivações e os planos para perpetrar um atentado.
“O assassino solitário é o mais perigoso”, ressalta
durante entrevista em Londres o escritor britânico Frederick Forsyth, um dos
grandes do suspense contemporâneo, que em sua última novela The Kill
List aborda esse perfil do terrorista de linha islâmica que
“está fora do radar e é a grande dor de cabeça” para as forças de segurança.
O título do livro alude a uma lista secreta
reavaliada todas as semanas no Salão Oval da Casa Branca e que contém os nomes
dos terroristas mais ameaçadores para os Estados Unidos, seus cidadãos e
interesses. A missão de uma unidade que opera na sombra é identificá-los,
localizá-los e destruí-los
Chacal (The
day of the jackal, 1971).
O dossiê Odessa (The
Odessa file, 1972).
Cães de guerra (The
dogs of war, 1974).
A alternativa do diabo (The
devil’s alternative,1979).
O quarto protocolo (The
fourth protocol, 1984).
O manipulador (The
deceiver, 1991).
O punho de Deus (The
fist of God, 1994).
O manifesto negro (Icon, 1996).
O vingador (Avenger, 2003).
O afegão (The
afghan, 2006).
Cobra (The
Cobra, 2010).
Forsyth (Ashford, Inglaterra, 1938) recorre ao seu
hábil estilo jornalístico, que se fundamenta em uma documentação meticulosa,
para relatar com grande dose de adrenalina a operação de caça de um desses
homens. Não tem nome, rosto e paradeiro conhecido, mas os efeitos de suas
proclamações na Rede são letais. Apelidado de O Pregador por
um ex-marine encarregado de neutralizá-lo (O Rastreador), ele utiliza a
Internet como “controle remoto” para radicalizar jovens muçulmanos e
instigá-los a matar.
“Primeiro vem o ódio e depois a justificativa”,
escreve o Forsyth narrador sobre esses cidadãos convertidos ao terrorismo que
em seu livro atentam contra personagens da vida pública ao seu alcance. E o
fazem à luz do dia, do mesmo modo que na vida real dois irmãos sem filiação
conhecida fizeram explodir dois artefatos caseiros em plena maratona de Boston
(abril de 2013) e um mês depois dois britânicos de origem nigeriana
assassinaram a golpes de facão um soldado nas ruas de Londres.
Diante de fatos como esses, e que ocorreram depois
que o escritor havia começado a trabalhar em The Kill List, Forsyth
não segue motivações de tipo social e político: “Ainda não sabemos porque esses
jovens se radicalizam, o segredo continua encerrado em suas mentes”.
De conhecido perfil conservador, o qual não lhe
tira nenhum pouco da independência em suas opiniões, o escritor que antes
exerceu o jornalismo na Reuters e na BBC não compartilha os argumentos da
guerra contra o terrorismo que conduziram às invasões do Afeganistão e do
Iraque. “A guerra do Iraque foi um desastre pessoal de George W. Bush, que quis
vingar-se de Saddam Hussein por tentar matar seu pai e, ainda por cima, o
estúpido do Tony Blair embarcou.”
Esse é o seu veredito. Forsyth se agita quando fala
do ex-primeiro-ministro britânico, um político que nunca perdoará, diz, “por
ter mentido ao Parlamento” (garantindo que existiam provas sobre o arsenal de
armas de destruição em massa de Saddam) e a quem responsabiliza pela enorme
desconfiança que a classe política hoje suscita no Reino Unido. Ele também se
mostra contundente na hora de qualificar Edward Snowden, o
ex-analista de inteligência que vazou milhares de documentos sobre a espionagem
da Agência de Segurança Nacional norte-americana: “É um traidor que revelou à
Al Qaeda o segredo dos programas de defesa e com isso nos tornou mais
vulneráveis”.
O autor, que alcançou o sucesso já com a publicação
de seu primeiro livro, O Dia do Chacal, em 1971, continua a focar
mais de uma dezena de livros depois (O Dossiê Odessa, O Punho de
Deus, O Cobra...) “na mesma gama de personagens, de espiões,
mercenários e terroristas... esse mundo continua sendo hoje o mesmo embora
mudem os atores, antes, o IRA e o ETA, e agora, o fundamentalismo islâmico”.
Desde os tempos daquele assassino contratado que tentava matar o presidente
francês, Charles de Gaulle, até a presente era cibernética, as ferramentas que
um escritor tem em mãos se sofisticaram muito, mas Forsyth prefere continuar
ajeitando-se com suas fontes diretas, os seus contatos nos serviços de
inteligência ou militares e os peritos em diversos campos, em lugar de recorrer
à Internet para se documentar (“Em muito raras ocasiões checo datas no Google”,
afirma).
A
precisão nos dados continua sendo sua grande obsessão, seja quando descreve
minuciosamente as operações das agências de inteligência ou o sofisticado
trabalho de um dos protagonistas de The Kill List, um jovem gênio
da informática que ajuda o Rastreador a interceptar na rede o ciberpregador
islâmico. A lista que tem como principal alvo esse instigador de terroristas “é
necessária” no mundo de hoje, opina Forsyth, que não apoia a pena de morte no
âmbito civil embora endosse, sim, a execução de terroristas identificados:
“Terrorismo? Na guerra deve-se matar o inimigo. Legítima defesa”.