Um antigo ditado latino ensina que o tempo é
o senhor da razão, a quarta-dimensão capaz de curar todos os males: Mala omnia
tempore finiunt. É verdade. O tempo é uma dimensão que desconhece a efemeridade
humana. Sempre esteve aí e sempre estará. E como não há mal que resista à
eternidade, está explicado a razão de, às vezes, a cura tardar, mas
inexoravelmente se apresentar, mais dias, menos dias; mais séculos, menos
séculos; mais milênios, menos milênios,... “O tempo cura o queijo, meu caro”,
martelariam nossos avós.
Superando
Galileu e Newton, Einstein com sua teoria da relatividade mostrou que tempo e
espaço não estão separados. E provou também que nem mesmo o tempo é absoluto.
Discutir
a relação existente entre a cura dos males e o tempo tem sido a sina de muitos
brasileiros. É que o Brasil já foi mais rico que os Estados Unidos, mas ficou
para trás, lá atrás, bem lá atrás, em algum lugar longínquo do passado. A
república tupiniquim rompe os 500 anos atolada num lamaçal e patina sem
conseguir mover milímetro sequer. A não ser de ré.
Dando
asas ao pensamento poderíamos exclamar: como o tempo tem sido indiferente para
conosco. E ‘indiferente’ aqui tem um significado contrário ao do ‘amor. Peçamos
arrego: o tempo tem nos tratado com repulsa e ódio. Vejam se não é assim: em
apenas 40 anos Coréia e Cingapura emergiram do terceiro para o primeiro mundo,
enquanto Pindorama... Pindorama continua mergulhada em seu lodaçal.
Os
países que lá chegaram, que conseguiram lidar de forma inteligente com o tempo,
ensinam diuturnamente que investir na educação é o caminho mais rápido, justo e
seguro para chegar ao mundo desenvolvido. Investiram de forma massiva e
determinada em educação e sustentabilidade econômica, por isso chegaram à outra
margem.
O
subdesenvolvimento e o atraso geram problemas e muitos males, não temo dizer, a
maioria deles. Romper o tempo, atravessá-lo como um bólido e fincar raízes no
rol dos países desenvolvidos significa virar uma página que para nós, tem se
mostrado horrenda, vergonhosa. Exatamente a página onde estão inscritos as
desigualdades, o analfabetismo, a exclusão, a burocracia, a corrupção, a
miséria intelectual, o clientelismo e a políticagem patife, ordinária e
traiçoeira.
Como
o Brasil não faz o dever de casa, assume características de um imã
eletromagnético, um corpo que atrai poderosas energias negativas, descomunais
forças deletérias. Então se intenta o próprio círculo vicioso, o rolo
compressor que arrasta tudo e todos em direção ao precipício, ao despenhadeiro
da terra arrasada onde nada viceja, nadada germina.
Quando
não se irriga e se investe no bem, é o mal que comemora. O descaso com que o
país trata a educação implica no fortalecimento de vetores que aprofundam as
desigualdades e as injustiças. Basta verificar a relação dos brasileiros com o
Congresso Nacional e com os demais poderes da República, sobretudo após os
episódios criminosos do mensalão...
O
caldo cultural resultante do descaso para com a educação engendra uma
mega-burocracia que torna o Brasil porto seguro para a mais avassaladora
corrupção. Que já atravessou fronteiras tornando o país ilha idílica, retiro,
paraíso onírico para os maiores traficantes internacionais, seja de drogas,
seja de influência.
Não
faz muito tempo ocorreram, no Brasil, as prisões dos colombianos Juan Carlos
Ramírez Abadía e Gustavo Durán Bautista e, logo depois, a de Pablo Rayo Montano
mostrando a ponta de um ignóbil iceberg. Especialistas da Polícia Federal, juízes
e procuradores federais identificaram o motivo pelos quais os mega-traficantes
adotam o Brasil como pátria-mãe-generosa: a corrupção.
Máfia
dos gafanhotos, do INSS, das sanguessugas, dos correios, o valerioduto e o
mensalão, as obras superfaturadas,... a cada dia uma nova quadrilha toma conta
dos noticiários, e casos como o da compra de parlamentares e o de Rosemary
Nóvoa de Noronha, da Operação Porto Seguro, apenas evidenciam que a corrupção
enraizou, fixando-se em todos os meandros do estado nacional.
A
corrupção abre as portas para a lavagem de dinheiro em grande escala, estimula
o suborno de policiais, autoridades, juízes e parlamentares, irriga o processo
de cooptação de laranjas e faz vista grossa às aquisições de bens valiosos com
dinheiro vivo.
Banalizou-se
de tal forma que até cueca virou embalagem para dinheiro sujo.
E por
que tudo isto ocorre? Porque a população – privada dos meios que só a educação
proporciona – não tem como interpretar a realidade que mal vislumbra, e como
não consegue criticar, interpretar e refletir, se mobiliza tão somente para ser
tangida qual boi no pasto.
Não
podemos aceitar que, em pleno século XXI, continuemos a experimentar a vida
amargada pelos vassalos da idade média. Façamos como a Coréia e Cingapura.
Vamos resgatar a educação brasileira. A frase é curta, mas o significado largo:
traduz-se em tomar as rédeas do nosso destino, recuperar nossas próprias vidas,
reinventar nossas esperanças, acreditar e construir um futuro digno, melhor e
radiante para os que herdarão nossa terra e nossos sonhos.
É
muito? Não, não é. È apenas o mínimo.
Artigo
de Antônio Carlos dos Santos, criador da metodologia de Planejamento
Estratégico Quasar K+ e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos
Mané Beiçudo.