sábado, 17 de junho de 2023

Iniciativa que pune "discriminação" contra políticos favorece corrupção


Projeto aprovado na Câmara inibe mecanismos contra lavagem de dinheiro consagrados no mundo todo

 

Nada caracteriza tão bem o país do "você sabe com quem está falando?" -feliz expressão celebrizada pelo antropólogo Roberto DaMatta, colunista do GLOBO - quanto o projeto aprovado na Câmara prevendo até quatro anos de prisão pela "discriminação" contra políticos.

Discriminá-los merece, aos olhos dos deputados, punição maior que preconceitos contra idosos ou deficientes (sujeitos a pena de até três anos). A iniciativa é um despropósito cujo único objetivo é favorecer a corrupção.

As pessoas "politicamente expostas" definidas no Projeto de Lei da deputada Dani Cunha (União-RJ) formam aquela casta privilegiada, sustentada pelo dinheiro do contribuinte, que DaMatta tão bem descreve em seus livros e artigos: ministros, presidentes, vices e diretores da administração pública, indicados para cargos comissionados, ministros de tribunais superiores e do Tribunal de Contas da União, presidentes e tesoureiros de partidos políticos, procurador- geral da República e seu vice, governadores, prefeitos e seus vices, além, obviamente, de vereadores, dos próprios parlamentares e uma série de outros beneficiados.


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Para todos, o texto aprovado garante uma regalia: se forem investigados (criminal, civil ou administrativamente), acusados, denunciados, ou mesmo condenados na Justiça e ainda houver possibilidade de recurso, não poderão ser "discriminados" na abertura de contas em bancos, concessão de crédito e outras atividades. Mais que isso, o projeto estende a proteção a familiares ou "estreitos colaboradores".

O argumento usado para justificar a medida é, nas palavras do líder do União, Elmar Nascimento (BA), atrair "homens e mulheres de bem" para a vida pública. "É um absurdo cortarem a conta de um deputado ou filho depois de 20 anos porque é uma pessoa politicamente exposta", afirmou .

Trata-se, porém, de uma proteção sem cabimento. O exame rigoroso das instituições financeiras aos politicamente expostos é uma prática internacionalmente consagrada no combate à corrupção, recomendada por organismos como Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde o Brasil pleiteia uma vaga. Existe para evitar que os bancos sejam usados como canal de lavagem do dinheiro desviado dos cofres públicos.


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Investigações, denúncias e sobretudo condenações são indícios mais que razoáveis para justificar a cautela. Absurdo é exigir que empresas sejam forçadas a celebrar contratos que ponham sua reputação e seus negócios em risco. Nada disso, porém, parece convencer os parlamentares, preocupados apenas em proteger o patrimônio daqueles que já desfrutam privilégios inacessíveis ao cidadão comum.

O projeto foi apresentado apenas uma hora antes da votação e contou com apoio num arco ideológico capaz de unir PT, PL, PP, PSDB, PSD, União e vários outros partidos. Foi aprovado na Câmara por 252 votos a 163. O Senado precisará agora barrar mais essa barbaridade.

Jornal O Globo

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