terça-feira, 27 de junho de 2023

Falta de plano pode deixar Brasil fora da corrida pelo hidrogênio verde


Dos 359 projetos já anunciados mundo afora, apenas um está no País, em Suape, em Pernambuco

É o que mostra levantamento da consultoria Alvarez & Marsal.

O hidrogênio verde vai se tornar uma commodity nos próximos 10 anos e o Brasil, apesar de ter tudo para liderar a comercialização do novo combustível no mundo, ainda não tem um planejamento nacional para incentivar a produção e exportação do produto.

O País está no centro das atenções globais devido à sua matriz elétrica 85% limpa, condição fundamental para a produção do novo combustível.

Mas, dos 359 projetos já anunciados no mundo, apenas um é no Brasil, em Suape (PE), segundo levantamento da consultoria A&M Infra.

"O Brasil está deixando uma oportunidade enorme na mesa e não vai surfar como deveria", avalia Filipe Bonaldo, diretor da A&M Infra. "Nós temos pouquíssimo incentivo do governo e nossa regulação está uma bagunça, nosso plano de hidrogênio verde no Brasil não existe." O Ministério de Minas e Energia (MME) afirmou que a política nacional para o hidrogênio verde no Brasil foi lançada em 2021, como Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), que tem como objetivo desenvolver o mercado e a indústria de hidrogênio no País, considerando seu potencial enquanto vetor de transição energética.

Foram criadas cinco câmaras temáticas e realizada uma única reunião, em agosto de 2022, para oficializar as nomeações e iniciar os trabalhos. "Os próximos passos do PNH2 incluem a publicação do Plano de Trabalho Trienal após Consulta Pública e a implementação das ações previstas para 2023", disse o ministério, sem detalhar as ações.

O MME destacou ainda, que de acordo com estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2021, além de diversos projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) em escala piloto, foram anunciados três projetos em escala industrial de hidrogênio verde: o Hub de Hidrogênio Verde do Estado do Ceará, no Porto de Pecém; o projeto no Porto de Suape, em Pernambuco; e no Porto do Açu, no Estado do Rio de Janeiro. Esses projetos estão em fase de estudos de viabilidade técnica e econômica.

PARCERIAS.

Filipe Bonaldo afirma, entretanto, que hoje as iniciativas para projetos no País estão sendo tomadas individualmente pelos Estados, em parceria com empresas privadas.

Isso pode deixar o Brasil de fora da corrida para abastecer países que não conseguem se descarbonizar, principalmente na Europa, em contraponto a outros países que saíram na frente, com planos bem estruturados pelos governos para desenvolver não apenas a produção, mas também a comercialização e transporte, além de linhas de financiamento e subsídios.

MERCADO.

 A demanda pelo combustível vai ser gigante. Segundo a A&M Infra, serão 90 milhões de toneladas por ano no mundo em 2030. Para atender o consumo, será necessário investir US$ 500 bilhões. E, mesmo que todos os projetos que foram oficialmente anunciados saiam do papel, o total da produção soma 60 milhões de toneladas, o que ainda deixa um déficit de 30 milhões de toneladas de oportunidades.

"Dos mais de 300 projetos, apenas 5% saíram do papel, e são plantas piloto, que vêm de investimentos em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) e não estão preocupados com o retorno do investimento. É mais para estudar a tese e tirar benefícios dessa tese de como funciona todo o processo, que é o que deveria estar sendo feito aqui no Brasil", alerta.

Estudo feito pelo banco de investimento Goldman Sachs mostra que até 2050 o mercado de hidrogênio no mundo ultrapassará US$ 11 trilhões. Tamanha euforia se deve ao potencial do produto. O hidrogênio tem três vezes mais energia do que a gasolina com a vantagem de ser uma fonte limpa.

Com amplo potencial para geração eólica e solar, o Brasil teria capacidade de produzir hidrogênio verde para consumo próprio e para exportação.

O Estado de S. Paulo, Denise Luna Rio


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