O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, declarou neste sábado (10) que os países em desenvolvimento pagam o "preço terrível" da dependência mundial de combustíveis fósseis, durante uma visita a áreas do Paquistão atingidas por inundações atribuídas às mudanças climáticas.
Quase 1.400 pessoas morreram
desde junho nessas inundações causadas pelas monções e que cobriram um terço do
Paquistão - uma área do tamanho do Reino Unido - destruindo casas, comércios,
estradas, pontes e plantações.
Guterres espera que sua
visita encoraje a comunidade internacional a apoiar financeiramente o país, que
precisa - segundo estimativas de Islamabad - de pelo menos US$ 10 bilhões para
reconstruir a infraestrutura danificada ou destruída.
Uma quantia que o Paquistão
considera impossível de levantar sozinho, devido ao seu endividamento.
Para Guterres, a ajuda
financeira "não é uma questão de generosidade, é uma questão de
justiça".
"O Paquistão e outros
países em desenvolvimento [...] estão pagando um preço terrível pela
intransigência dos grandes emissores que continuam apostando nos combustíveis
fósseis", disse Guterres antes de visitar áreas inundadas no sul do
Paquistão.
"De Islamabad, lanço um
apelo global: parem com essa loucura. Invistam agora em energias renováveis.
Acabem com a guerra contra a natureza", disse.
As monções, que geralmente
duram de junho a setembro, são essenciais para irrigar as plantações e para
repor os recursos hídricos do subcontinente indiano. Mas o Paquistão não via
chuvas tão torrenciais há pelo menos três décadas.
- "Suicídio
coletivo" -
Na sexta-feira, Guterres já
havia manifestado sua indignação com a indiferença do mundo, especialmente dos
países mais industrializados, diante das mudanças climáticas.
"É uma loucura, um
suicídio coletivo", disse ele.
"Meu coração está com
todos que perderam entes queridos nesta tragédia e com todos os que foram
afetados pela perda de suas casas, seus negócios e seus meios de
subsistência", acrescentou o secretário-geral da ONU.
O Paquistão é responsável
por menos de 1% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas ocupa o
oitavo lugar entre os países mais ameaçados por eventos climáticos extremos,
segundo um estudo da ONG Germanwatch.
Este ano, o país já
enfrentou uma onda de calor que em alguns casos ultrapassou os 50°C, grandes
incêndios florestais e inundações devastadoras causadas pelo rápido
derretimento das geleiras.
As inundações afetaram cerca
de 33 milhões de pessoas, deixando-as desabrigadas, e derrubando cerca de 500
pontes.
Neste sábado, Guterres deve
visitar a cidade de Mohenjo Daro, classificada como Patrimônio Mundial da
UNESCO e ameaçada pelas inundações.
"Se ele vier nos ver,
que Alá o abençoe", disse à AFP Rozina Solangi, uma dona de casa de 30
anos de uma aldeia inundada perto de Sukkur, no sul.
"Todas as crianças, os
homens, as mulheres estão assando neste calor escaldante. Não temos nada para
comer, nem um teto sobre nossas cabeças. Algo tem que ser feito pelos pobres",
acrescentou.
O escritório nacional de
meteorologia indica que durante a estação das monções de 2022 choveu cinco
vezes mais do que o normal.
O mau tempo provocou o
transbordamento repentino dos rios das montanhas do norte, arrastando estradas,
pontes e edifícios em minutos, e um lento acúmulo de água nas planícies do sul
que submergiram centenas de milhares de quilômetros quadrados de terra.
Centenas de acampamentos
improvisados foram montados nos poucos espaços secos no sul e oeste do país.
Rodovias elevadas ou
ferrovias são muitas vezes os últimos lugares onde a água não chegou.
Com as pessoas aglomeradas,
também junto com o gado, teme-se o aparecimento de epidemias. Numerosos casos
de dengue e sarna já foram relatados.
AFP, Muhammad Daud
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