Para o Parlamento
Europeu, o Estado de direito na Hungria foi degradado ao ponto de o país se
tornar "um regime híbrido de autocracia eleitoral".
A declaração foi feita em
uma resolução aprovada nesta quinta-feira (15). Reunidos em Estrasburgo, 433
eurodeputados votaram a favor, 123 contra e 28 se abstiveram, um resultado que
valida o relatório apresentado pela deputada ambientalista francesa Gwendoline
Delbos-Corfield, e que foi aplaudido após a votação.
Em outras palavras, o
documento afirma que a Hungria não é mais uma verdadeira democracia. Em 48
páginas, a longa resolução do Parlamento Europeu "lamenta profundamente
que a falta de ação decisiva da União Europeia (UE) tenha contribuído para a
erosão da democracia, do Estado de direito e dos direitos fundamentais na
Hungria, como mostram indicadores relevantes”.
Desde 2010, a Hungria é
governada pelo nacionalista ultraconservador Viktor Orbán, de 59 anos, que
mantém laços de cooperação com a Rússia de Vladimir Putin. O contestado chefe
de Estado europeu chegou a receber uma visita de Jair Bolsonaro em fevereiro
deste ano, após a passagem do presidente brasileiro por Moscou.
"As coisas mudaram
drasticamente" na Hungria nos últimos anos, sublinhou Gwendoline
Delbos-Corfield durante um debate no Parlamento Europeu, na quarta-feira (14),
observando, em particular, que "a independência da Justiça é tão
improvável na Hungria quanto na Polônia". "Sabemos que a própria
família de Orbán se beneficia de fundos europeus", continuou ela, citando
ainda restrições aos direitos parlamentares, espionagem de jornalistas,
controle do governo sobre as universidades e uma "infame lei" contra
pessoas LGBT + "que se assemelha às leis de Putin", além de destacar
o endurecimento das condições para o aborto.
O documento pede às
instituições europeias que "prestem mais atenção ao desmantelamento
sistêmico do Estado de Direito" no país.
O serviço de imprensa do
Parlamento Europeu sublinhou que "a Hungria não pode mais ser considerada
uma democracia plena".
A Resolução pede ao Conselho
Europeu que "emita recomendações à Hungria o mais rapidamente possível,
pedindo ao país para que cumpra todas as sentenças e recomendações"
adotadas.
Os eurodeputados também
apelaram à Comissão Europeia para "que faça pleno uso dos instrumentos
disponíveis para lidar com o risco evidente de uma grave violação por parte da
Hungria dos valores em que a União se baseia".
Bloqueio de fundos
De acordo com a resolução, a
Hungria não deve receber fundos para recuperação pós-pandemia se não cumprir as
recomendações da UE sobre o Estado de direito e as decisões judiciais. A UE
adotou o chamado Mecanismo de Condicionalidade, pelo qual cada país do bloco só
poderia receber recursos para a sua recuperação se respeitasse internamente o
Estado de Direito.
Em 2018, o Parlamento
Europeu já havia aberto um processo contra a Hungria por "risco de grande
violação dos valores europeus" (artigo 7.º do Tratado), que pode, em
última instância, privar o país do seu direito de voto no Conselho.
RFI, com informações da AFP
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