China defende diante de representante da ONU avanços do país em termos de direitos humanos
“(...) A alta
comissária "deve exigir do governo chinês informações" sobre as
pessoas detidas de maneira arbitrária em Xinjiang, afirmou a pesquisadora Maya
Wang, especialista em China da ONG Human Rights Watch (HRW) (...)”
O presidente da China, Xi
Jinping, defendeu nesta quarta-feira (25) os avanços de seu país em termos de
direitos humanos após novos vazamentos na imprensa sobre a repressão da minoria
muçulmana uigur em Xinjiang, que coincidem com a visita à região da alta
comissária da ONU, Michelle Bachelet.
Cenário de confrontos
étnicos e de ataques islamitas e separatistas, Xinjiang, no noroeste da China,
vive há vários anos uma campanha que as autoridades de Pequim justificam como
uma operação antiterrorista.
Investigações ocidentais
acusam a China de reter um milhão de uigures e integrantes de outras minorias
muçulmanas em centros de detenção desta região remota do oeste do país, onde
são vítimas de "trabalhos forçados e esterilizações forçadas".
Na terça-feira, um consórcio
de 14 meios de comunicação internacionais, incluindo a britânica BBC, o francês
Le Monde e o espanhol El País, publicou documentos e fotografias que jogam luz
sobre a situação dos uigures, com mulheres, crianças e idosos internados em
"campos de detenção".
Os milhares de documentos e
fotografias apontam para uma repressão ordenada a partir da cúpula do poder,
incluindo o presidente Xi Jinping, e foram entregues por uma fonte anônima ao
investigador alemão Adrian Zenz, o primeiro que acusou em 2018 o governo chinês
de internar os uigures.
Pequim rejeita as acusações,
que define como "a mentira do século". A China afirma que os campos
são centros de formação profissional para manter a população afastada do
separatismo e do islamismo na região.
"Os temas relacionados
com os direitos humanos não devem ser politizados, instrumentalizados ou
tratadas com padrões duplos", alertou Xi Jinping nesta quarta-feira,
durante uma reunião virtual com Bachelet, a alta comissária das Nações Unidas
para os Direitos Humanos.
"Cada país tem uma
situação diferente, que depende de sua história, sua cultura e seu
desenvolvimento econômico", afirmou o presidente chinês.
Em Washington, o porta-voz
do Departamento de Estado, Ned Price, disse que o governo dos Estados Unidos
está consternado com as últimas denúncias sobre Xinjiang, após o vazamento dos
documentos.
- "Caminho
próprio" -
Por isto, cada país deve
seguir "um caminho próprio de desenvolvimento em termos de direitos
humanos, que se adapte às suas condições e às necessidades de seu povo",
afirmou Xi Jinping, de acordo com o canal estatal CCTV.
Xinjiang não foi citado de
maneira específica no comunicado sobre a reunião, mas a emissora informou que
Xi disse a Bachelet que não existe um "país ideal" em termos de
direitos humanos.
A ex-presidente chilena
afirmou no Twitter que "as reuniões com o presidente Xi e altos
funcionários (chineses) foram valiosas para discutir diretamente [...]
preocupações relativas aos direitos humanos na China e no mundo".
A visita de Bachelet a
Xinjiang acontece até o momento com discrição. Por causa da pandemia, a missão
da ONU respeita uma bolha sanitária que a mantém afastada da imprensa
estrangeira.
Não foram divulgados
detalhes sobre os locais e instalações que Bachelet visitará, o que a aumenta
as dúvidas sobre a sua liberdade de movimento e ação.
- Kashgar e Urumqi -
A ex-presidente chilena visitou
Xinjiang na terça-feira e nesta quarta-feira deveria viajar à capital regional,
Urumqi, que já foi cenário de atentados contra civis.
Bachelet também pretende
visitar Kashgar, no sul de Xinjiang, onde a população uigur é majoritária e a
campanha de repressão do governo muito agressiva.
Bachelet é a primeira alta
comissária da ONU para os Direitos Humanos a visitar a China desde 2005, após
anos de negociações com Pequim sobre as condições da viagem.
De acordo com seu gabinete,
ela se reunirá com membros da sociedade civil que trabalham para melhorar a
situação dos direitos humanos.
Ativistas da diáspora uigur
e associações dos direitos humanos temem que a viagem se transforme em uma
operação de relações públicas para Pequim e afirmaram que a funcionária da ONU
deve ser inquisitiva em sua investigação.
A alta comissária "deve
exigir do governo chinês informações" sobre as pessoas detidas de maneira
arbitrária em Xinjiang, afirmou a pesquisadora Maya Wang, especialista em China
da ONG Human Rights Watch (HRW).
Sébastien RICCI y Laurie
CHEN, AFP
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