Criado em 2005, o projeto Playing for Change lançou dois CDs com artistas de 30 países, criou sete escolas de música e deu origem a uma banda, que viaja em turnê mundial difundindo a ideia da integração pela música.
Congolenses Mermans Kenkosenki e Jason Tamba durante a gravação de CD
Inspirar, conectar e promover a paz através da música. Essa é a missão do projeto multimídia Playing for Change. Em 2005, o produtor musical Mark Johnson e sua equipe saíram pelo mundo afora filmando músicos de rua, que, sem estarem reunidos, gravaram uma versão de Stand by me.
A canção tornou-se um hit na internet, com mais de 30 mil acessos, e desde 2008 uma banda formada por integrantes do projeto viaja em turnê mundial. Na de 2011, ano em que o Playing for Change lança seu segundo CD, o grupo acaba de tocar para milhares de fãs no Marrocos, no Brasil, na Alemanha e na Espanha.
"Ir a Rudolstadt foi a realização de um sonho", disse Johnson sobre o festival TFF da pequena cidade alemã, em que o grupo se apresentou no último dia 3 de julho. A chuva torrencial não desanimou o público da banda, considerada pelo diretor do TFF, Bernhard Hanneken, “um dos grupos mais interessantes do festival, com sua música e conceito originais”. Milhares de fãs cantaram junto com os 12 músicos, de dez nacionalidades.
Antes disso, a banda já havia tocado para 15 mil pessoas em Rabat, no Marrocos, em maio, e subido três vezes nos palcos brasileiros em junho. Em São Paulo, o grupo multicultural apresentou-se no clube Bourbon Street, nome da famosa rua de Nova Orleans de onde vem Grandpa Elliot – a figura mais emblemática e o líder da banda.
"Foi engraçado colocá-lo num voo de dez horas e dizer a ele que estava em Bourbon Street novamente", diz Johnson. Com uma voz cheia de "alma", nas palavras do produtor, o gaitista e cantor cego anima as ruas da cidade do jazz há 60 anos.
A Playing for Change Band também se apresentou em Belo Horizonte e no Bourbon Festival de Paraty, onde 10 mil pessoas repetiam "fica comigo", traduzindo o título de Stand by me. "Foi incrível. Ritmo e música são indissociáveis da vida dos brasileiros, o melhor público para o qual já tocamos", declarou Johnson à Deutsche Welle.
Show em São Paulo: "Os brasileiros foram o melhor público para o qual já tocamos"
A ideia
Tudo começou quando Johnson estava caminhando pelas ruas de Santa Monica, na Califórnia, e ouviu a voz de Roger Ridley cantando o clássico de 1961 Stand by me. "Dei-me conta de que a melhor música que eu já havia ouvido estava no caminho para o estúdio e não dentro dele. E foi aí que decidi levar o estúdio até as pessoas", diz.
Johnson amadureceu a ideia com a cofundadora do projeto, Whitney Kroenke, e filmou Ridley tocando. Com a ajuda dos produtores Enzo Buono e Jonathan Walls e um fone de ouvido, ele transmitia, então, a gravação a músicos de rua que ia encontrando pelo mundo, os quais iam sendo adicionados à trilha.
Stand by me logo conseguiu mais de 30 mil acessos no YouTube e, a partir daí, o site do projeto foi visitado por usuários de 195 países. "Isso é quase o mundo todo", entusiasma-se Johnson. "Sem a internet, não conseguiríamos atingir o público que alcançamos."
Outros vídeos foram produzidos e, em 2009, o primeiro álbum do projeto foi lançado, incluindo, além de Stand by me – gravada em quatro continentes, com 35 músicos, entre eles o carioca Cesar Pope –, canções como One Love e Talkin' Bout a Revolution. A versão de War, no more trouble contou com a participação de Bono, vocalista do U2.
Em 2011, o projeto lança seu segundo álbum, PFC 2: Songs Around The World. Dessa vez, entre outros lugares, os produtores passaram pelo Rio de Janeiro e por Salvador, e o CD traz a cantora brasileira Sandra de Sá como convidada. A compilação inclui os clássicos Redemption Song, de Bob Marley, e Imagine, de John Lennon. Entre os dois álbuns, mais de 300 músicos, de quase 30 nacionalidades, envolveram-se no projeto.
A fundação
Ao viajar pelo mundo, Johnson e sua equipe perceberam que precisavam dar um retorno àquelas pessoas que haviam lhes mostrado sua música e sua cultura. Foi então que, em 2007, criaram a Fundação Playing for Change, com o objetivo de construir escolas de música e arte. Sete escolas – erguidas pela comunidade e para a comunidade – já foram inauguradas, quatro na África e três na Ásia. E, segundo Johnson, isso é só o começo.
O produtor Mark Johnson com morador de Kirina, Mali, onde o projeto construiu uma escola
A fundação, uma organização sem fins lucrativos, é mantida pela venda de CDs e ingressos para os concertos do projeto e também por indivíduos e instituições interessadas em apoiar as escolas. Para Johnson, a fundação é provavelmente a componente mais importante do Playing for Change. "É uma maneira de preservar e conectar culturas e tornar o mundo melhor para as próximas gerações", explica.
François Viguié – percussionista natural de Toulosse, França, e membro do projeto desde 2005 – cita o exemplo da escola de Tamale, em Gana. "As crianças não têm água nem eletricidade, mas agora têm a oportunidade de aprender música."
A banda
Depois de participar da gravação de Stand by me, Viguié é hoje um dos músicos que se apresenta em alguns dos shows da turnê mundial da banda Playing for Change. Criado em 2008, o grupo já realizou 75 shows. "Decidimos juntar todos aqueles músicos que se apaixonaram uns pelos outros, mas nunca haviam se encontrado", conta Johnson.
Além dos músicos convidados de cada cidade e do líder do grupo, Grandpa Elliot, participam desta turnê o holandês Clarence Bekker, Louis Mhlanga, do Zimbábue, Roberto Luti, da Itália, Titi Tsira, da África do Sul, e os congoleses Jason Tamba e Mermans Kankosenski – baterista e baixista que Johnson conheceu em Cape Town, África do Sul. "Quando Mark falou comigo sobre o projeto, fiquei tão contente. Era exatamente o que eu queria fazer", relata Kankosenski.
O percussionista francês François Viguié e o emblemático Grandpa Elliot
Com uma formação atual de 12 músicos, provenientes de dez países, a banda combina soul, blues e reggae, tocando as versões de canções conhecidas que aparecem nos dois CDs do projeto e composições originais, como Don't worry, do primeiro álbum. "É incrível todas essas culturas diferentes produzindo algo juntas", destaca o produtor Johnson.
Agora, entre 6 e 9 de julho, Viguié, Kankosenski, Grandpa Elliot e os demais músicos da grande "família global" apresentam-se na Espanha – em Barcelona, Valencia, Madri e Córdoba, onde encerram esta turnê. "Estamos tentando mostrar ao mundo que a música não é apenas entretenimento, mas uma linguagem universal que pode nos unir apesar de nossas diferenças", declara Viguié.
Autora: Luisa Frey
Revisão: Alexandre Schossler