Da revista Veja
O senhor está trabalhando numa nova obra há vários anos. O que pode adiantar sobre ela?
Estou acabando um romance que é o livro da minha vida. Ele é dedicado a três pessoas: Miguel Arraes, Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Campos. Eu exercito três gêneros literários: romance, teatro e poesia. Mas sempre fiz isso separadamente. Nessa nova obra, estou tentando fundir o dramaturgo, o romancista e o poeta num só. Por isso a considero como minha obra definitiva.
O senhor conheceu Eduardo Campos com quantos anos? Conheço Eduardo desde antes de ele nascer. Fui ao casamento do pai dele com Ana Arraes. Naquela época, já era amigo de Maximiano Campos, pai de Eduardo, e Miguel Arraes, avô dele. Eu consegui um editor para publicar o primeiro livro do pai dele, Sem Lei Nem Rei, e escrevi uma apresentação do livro. Havia um boato na cidade de que quem fosse ao casamento iria ficar mal visto pelos órgãos de segurança, mas nunca dei bola para essas coisas. A cerimônia parecia uma operação de guerra. Um tenente que se comoveu e chorou acabou sendo punido por isso. Enfim, assisti ao nascimento de Eduardo e desde aí ficamos amigos. Ele frequentou minha casa desde cedo. Era colega de turma de minha filha Mariana – inclusive pulou ou repetiu um ano para estudar junto com ela. Tínhamos contato praticamente diário. Muito depois, ele se casou com Renata, que é sobrinha de minha mulher. Posso dizer que essa águia política foi criada aqui em casa. Eu o considero quase como um filho e ele já disse que vê em mim uma fusão do pai e do avô. Não preciso dizer mais, né?
O senhor recentemente disse que o candidato é o político mais brilhante que o senhor conheceu. Mas o senhor também foi muito próximo de Miguel Arraes. Em que sentido ele supera o avô?
O senhor conheceu Eduardo Campos com quantos anos? Conheço Eduardo desde antes de ele nascer. Fui ao casamento do pai dele com Ana Arraes. Naquela época, já era amigo de Maximiano Campos, pai de Eduardo, e Miguel Arraes, avô dele. Eu consegui um editor para publicar o primeiro livro do pai dele, Sem Lei Nem Rei, e escrevi uma apresentação do livro. Havia um boato na cidade de que quem fosse ao casamento iria ficar mal visto pelos órgãos de segurança, mas nunca dei bola para essas coisas. A cerimônia parecia uma operação de guerra. Um tenente que se comoveu e chorou acabou sendo punido por isso. Enfim, assisti ao nascimento de Eduardo e desde aí ficamos amigos. Ele frequentou minha casa desde cedo. Era colega de turma de minha filha Mariana – inclusive pulou ou repetiu um ano para estudar junto com ela. Tínhamos contato praticamente diário. Muito depois, ele se casou com Renata, que é sobrinha de minha mulher. Posso dizer que essa águia política foi criada aqui em casa. Eu o considero quase como um filho e ele já disse que vê em mim uma fusão do pai e do avô. Não preciso dizer mais, né?
O senhor recentemente disse que o candidato é o político mais brilhante que o senhor conheceu. Mas o senhor também foi muito próximo de Miguel Arraes. Em que sentido ele supera o avô?
Veja bem, eu sou um escritor e lido com as palavras. Usei a palavra brilhante de propósito. Doutor Arraes não era brilhante como ele, não conseguia construir um discurso como o neto, por exemplo, mas isso não quer dizer que Eduardo é mais importante do que Arraes. Arraes faz parte da história brasileira. Eduardo não tem nem idade para isso. Pode ser que daqui a alguns anos venha a ter uma posição política tão importante quanto ele, mas por enquanto não tem. Além de mais brilhante, ele também é mais simpático do que o avô. Arraes disse a mim mais de uma vez: “Não sei por que o povo vota em mim, não. Sou muito antipático”.
O senhor cantou um frevo no horário eleitoral na primeira eleição de Eduardo Campos, em 2006. Como se deu isso?
O senhor cantou um frevo no horário eleitoral na primeira eleição de Eduardo Campos, em 2006. Como se deu isso?
Cantei Madeira do Rosarinho porque fala sobre resistência numa hora em que Eduardo estava sendo muito atacado. A música ficou sendo o hino de guerra da campanha. Teve duas coisas muito engraçadas nessa época. Eu sempre quis ser escritor e aos 12 anos escrevi meu primeiro conto. Nunca mudei de ideia. Nessa época eleitoral, eu vinha num táxi quando paramos no sinal. Vi um rapazinho vendendo caneta e eu, um escritor, fiquei comovido e comprei várias para ajudá-lo. Ele agradeceu e, de repente, disse: “Acho que estou conhecendo o senhor”. Eu fiquei todo orgulhoso porque pensei que como escritor estivesse atingindo o povo. Daí ele perguntou: “O senhor não é o cantor da campanha de Eduardo Campos?”. Passei como cantor de campanha, isso é uma humilhação danada para um escritor. Noutro dia, numa padaria, uma amiga minha ouviu duas pessoas conversando. Um homem disse para o outro: “É, pelo jeito vamos ter que aguentar Eduardo Campos pelos próximos quatro anos”. Então, o outro respondeu: “Aguentar Eduardo não é nada, ruim é aguentar Ariano Suassuna com aquela voz horrorosa cantando Madeira do Rosarinho”.
Como...
Como...
Rapaz você pegou a faca e não vai descansar enquanto não tirar a minha última gota de sangue. Já basta, não basta, não? Bom, vou dizer mais uma coisa sobre meu relacionamento com Eduardo. Eu gostava muito de Doutor Arraes, tinha um respeito enorme por ele. Só depois eu vi que isso era ligado à figura de meu pai. Arraes não tinha idade para ser meu pai, mas via nele uma figura paterna, dado o respeito que tinha por ele e pelo paralelismo entre os dois: ambos eram sertanejos, foram governadores e sofreram perseguições políticas. Quando o escritor argelino Albert Camus visitou o túmulo do pai percebeu que o pai nunca tinha alcançado a idade dele. Naquele momento, o pai passou a ser para ele o pai caçula. O mesmo processo está acontecendo comigo. Meu pai nunca alcançou a idade que estou. Depois de um tempo, deixei Doutor Arraes de lado e peguei a figura de Eduardo. Ele foi eleito governador com 42 anos e meu pai com 38. Comecei a ver nele o reflexo de meu pai caçula também. Meu pai era como ele, uma pessoa brilhante. Por isso quis defendê-lo naquela campanha.