Povo ianomâmi é considerado de recente contato — Foto: Valéria Oliveira/g1 |
Relatório foi divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (Hay) nesta segunda-feira (11). Documento também aponta que o garimpo cresceu 46% na reserva indígena durante o ano passado.
Garimpeiros exigem sexo com
meninas e mulheres indígenas como moeda de troca por comida na Terra Yanomami.
É o que aponta o relatório da Hutukara Associação Yanomami (Hay), divulgado
nesta segunda-feira (11).
As informações foram
antecipadas pelo jornal "O Globo" neste domingo (10). O documento
traz relatos de indígenas, pesquisadores e antropólogos, e mostra que ao menos
três adolescentes, de até 13 anos, ficaram doentes e morreram em 2020 após os
abusos praticados pelos garimpeiros.
"Elas eram novas, tendo
apenas tido a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado a morte
dessas moças, os ianomâmis protestaram contra os garimpeiros, que se afastaram
um pouco. As lideranças disseram para eles [garimpeiros] que estando tão
próximos, se comportam muito mal.”, diz o relato de uma pesquisadora indígena
após conversa com uma mulher ianomâmi.
Na região do Rio Apiaú, os
moradores relataram à Hutukara que um garimpeiro que explora a região ofereceu
drogas e bebidas aos indígenas e, quando todos já estavam bêbados, estuprou uma
das crianças da comunidade.
Há também a denúncia de um
“casamento” arranjado de uma adolescente ianomâmi com um garimpeiro, com a
promessa de pagamento de mercadoria, que nunca foi cumprida.
Para Dário Kopenawa,
vice-presidente da Hay, o governo precisa avaliar as ações adotadas até hoje,
pois muitas operações de combate ao garimpo "não surtiram efeitos".
“Esse documento mostra a
realidade que estamos vivendo e suas consequências, de muita violência e
vulnerabilidade. O meu povo está sofrendo. Pedimos o apoio da população para se
unir ao nosso grito de socorro para a retirada imediata dos garimpeiros do
nosso território”, disse Dario Kopenawa.
O g1 procurou o Ministério
Público Federal (MPF), o Ministério da Saúde e a Fundação Nacional do Índio
(Funai) e aguarda retorno.
A Terra Indígena Yanomami é
a maior reserva do país, com mais 10 milhões de hectares distribuídos no
Amazonas e Roraima, onde fica a maior parte. São mais de 28,1 mil indígenas que
vivem na região, incluindo os isolados, em 371 aldeias. Além da destruição
ambiental, a presença do garimpo também provoca a disseminação de doenças e
desnutrição.
O relatório revela que em
2021, o garimpo ilegal avançou 46% em comparação com 2020. No ano passado, já
havia um salto de 30% em relação ao período anterior. De 2016 a 2020, o garimpo
na Terra Yanomami cresceu 3.350%, conforme o estudo.
O número de comunidades
afetadas diretamente pelo garimpo ilegal soma 273, abrangendo mais de 16 mil
pessoas.
“A extração ilegal de ouro
[e cassiterita] no território ianomâmi trouxe uma explosão nos casos de malária
e outras doenças infectocontagiosas, com sérias consequências para a saúde e
para a economia das famílias, e um recrudescimento assustador da violência
contra os indígenas”, diz a Hutukara.
Em novembro do ano passado,
reportagem do Fantástico (TV Globo) e o g1 (assista abaixo) mostrou a grave
situação da saúde na Terra Yanomami. Em uma das comunidades, a Xaruna, equipe
encontrou uma das piores situações dentro da reserva indígena, com dezenas de
crianças desnutridas e com sintomas de malária.
O monitoramento começou a
ser feito em outubro de 2018, e a área total destruída pelo garimpo somava
cerca de 1,2 mil hectares, com maior concentração nos rios Uraricoera e
Mucajaí.
De lá até 2021, a área
impactada dobrou e atingiu em em dezembro passado o total de 3.272 hectares,
segundo a Hay. O crescimento, conforme o relatório, foi acentuado
principalmente a partir do segundo semestre de 2020, coincidindo com o avanço
da Covid-19 na região.
A imagem de uma cratera a
céu aberto (veja acima) causada pelo garimpo ilegal, ameaçando a estrutura da
Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) de Homoxi, mostra o avanço da atividade
garimpeira, cada vez mais próxima das comunidades. A foto foi divulgada por
Dário Kopenawa numa rede social.
O relatório da Hay também
mostra que, o polo de Homoxi não é o único. Dos 37 polos de saúde existentes na
Terra Indígena, 18 possuem registro de desmatamento relacionado ao garimpo.
No final de janeiro de 2022,
a Hutukara realizou registros aéreos para o relatório, que mostram a
proximidade do garimpo das comunidades indígenas e, além da enorme destruição
da floresta, a poluição dos rios e o flagrante de aeronaves, helicópteros e outros
equipamentos usados na atividade ilegal.
Vanessa Fernandes, G1.globo
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