sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Professor de literatura incentiva leitura utilizando poesia



Por Thayanne Magalhães - Tribuna Hoje

Para tentar reverter a perda do gosto pela leitura entre jovens e adolescentes de Alagoas, um professor de Literatura de Maceió resolveu apelar à poesia para intensificar a leitura de livros. “Além de fonte de prazer, a leitura é uma ótima ferramenta de aprendizado e obtenção de conhecimento", ensina o professor Jô Saulo.

A “perda do gosto pela leitura” dos jovens tem sido um fator preocupante para muitos educadores. Visando o resgate do hábito de ler – não apenas na frente do computador – o professor de Literatura Jô Saulo tem incentivado os seus alunos com a realização de uma oficina de poesias.

“A leitura, além de uma fonte de prazer, é uma ótima ferramenta de aprendizado e obtenção de conhecimento. Porém, o jovem tem perdido o gosto pela leitura e um dos grandes vilões para que isso esteja acontecendo, além da falta de incentivo familiar, é a tecnologia. A televisão, os videogames, o computador e principalmente a internet com suas redes sociais estão afastando os jovens do hábito da leitura”, opina o professor.

Para incentivar seus alunos do ensino médio, Jô Saulo realizou pela primeira vez uma oficina de poesia em uma escola particular de Maceió. O professor abordou os principais estilos e formas desta tendência literária, além de dar dicas sobre como os estudantes podem desenvolver suas produções poéticas.

“Pensando sobre a ausência de leitura na vida desses jovens e na formação de novos escritores, iniciei junto ao colégio onde leciono, iniciamos o projeto da oficina de poesia. Apesar de estar em fase inicial, alcançamos um número satisfatório de participantes para o programa extracurricular. Essa oficina é parte do incentivo que queremos passar para os alunos, para que, não somente retomem o gosto pela leitura, mas que também produções individuais e coletivas”, explica Jô Saulo.

“Durante a oficina são mostradas técnicas e várias formas de poesias que variam entre as estruturas clássicas e as poesias visuais, para que cada aluno encontre a forma que lhe deixe mais a vontade como escritor e possa seguir posteriormente seu próprio caminho literário”, continuou.

FAMÍLIA

O professor acredita que a falta de incentivo familiar desde a infância também seja um dos fatores nocivos para a falta de interesse para a leitura e também para a criação literária.

“Mas se pararmos para olhar com uma visão mais crítica, podemos observar que o problema não está somente na tecnologia ou na falta de incentivo da família. O que tem faltado é uma metodologia de ensino que seja usada a favor dos livros. Os docentes devem encontrar uma forma de utilizar a tecnologia a favor das aulas e como um mecanismo incentivador para a prática de leitura”, opina.

Jô Saulo acredita que o cinema também seja uma ferramenta elucidativa para as aulas, principalmente de Literatura, matéria que leciona.

“O cinema pode ser utilizado como motivador para a aproximação do jovem com a leitura, podendo ser utilizado como um interlocutor das obras literárias clássicas ou modernas. O professor tem que se ater às mudanças e o nosso foco educacional deve ser modificado de acordo com as evoluções sociais. A linguagem e a sociedade evoluem juntas”, conclui.

“Conservadorismo afasta aluno da leitura e é preciso inovar”

Outro fator que o professor destaca é o conservadorismo na educação. De acordo com Jô Saulo, defender o pensamento conservador é colaborar com um ensino desgastado que não atrai o aluno.

“Pelo contrário. O conservadorismo afasta o aluno. A defesa do conservadorismo é apoiar o estado na degradação educacional, que gera cidadãos limitados, manipulados e desesperançados, sem uma formação crítica e que funcionam como ‘robôs’ a serviço do capital”, opina.

“Como professor, acredito que devamos criar alternativas que ajudem o alunado a evoluir ideologicamente, a não seguir o pensamento de senso comum, através de um ensino diferenciado e criação de atividades que o aproximem do conteúdo com prazer ao invés da pressão de estarem sendo avaliados constantemente”.

De acordo com o professor, a orientação curricular para o ensino médio (2006) mostra que na transição do aluno do ensino fundamental para o ensino médio, existe uma baixa no processo de leitura dos textos ficcionais, tanto das obras infanto-juvenis, quanto dos autores com “alguma importância” na Literatura Brasileira.

“O que se percebe é que o método convencional, trazido nos livros e manuais didáticos, desobriga a leitura dos textos literários, dando lugar a um ensino estético das características especificas de cada escola literária. Além de uma leitura fragmentada que serve como exemplo dos estilos de épocas, sendo esse um grave problema no ensino da Literatura e um desmotivador da leitura”.  

Jô Saulo reforça a importância de novas alternativas de estímulo à leitura na escola, principalmente pelo número cada vez menor de “leitores dentro de casa”.

“A escola deve se renovar para suprir a falta do exemplo familiar e acompanhar o mundo em que o aluno vive. Vivemos em uma sociedade dinâmica e é essencial o desempenho da escola na formação do individuo. Deve-se levar em consideração também, que a linguagem e a leitura percorrem todas as áreas do conhecimento escolar, facilitando a aprendizagem e a interpretação de textos tão necessários não só no âmbito escolar, mas também no profissional”.

Alunos devem participar de concurso de poesia da Secult

Os alunos que participaram da oficina de poesia ministrada pelo professor de literatura Jô Saulo devem participar do I Concurso de Poesia Jorge de Lima, lançado pela Secretaria de Cultura do Estado de Alagoas (Secult).

“Um concurso como este é importante para o crescimento dos estudantes já que a poesia envolve arte e reflexão sobre um determinado tema ou situação, e isso faz com que os alunos se enriqueçam culturalmente”, analisa a supervisora pedagógica dos alunos da escola particular onde aconteceu a oficina, Naira de Souza.

Para a ela, incentivar aos alunos a participar deste concurso é muito importante. “Tudo o que envolve conhecimento deve ser estimulado, por isso nossa escola não poderia deixar passar esta oportunidade de disseminar ainda mais, entre os nossos estudantes, o gosto pela leitura e pela criação textual. Aqui, nós temos muitos alunos talentosos e com grande potencial para estar entre os melhores”, disse a supervisora.

O professor Jô Saulo reafirma a importância da participação dos alunos. “Quando informamos em sala de aula que o colégio realizaria estas oficinas, muitos alunos nos procuraram para se inscrever. O nosso principal objetivo é mostra-los que todos têm potencial e que o estímulo à leitura e à pesquisa aliados a prática textual poderá render excelentes resultados”, informa o professor.

A aluna da 1ª série  do Ensino Médio, Gabriela Borges, aprovou a iniciativa. “Esta oficina vai ser muito importante. É uma inovação que, com certeza, deverá se repetir outras vezes. Com as técnicas que vamos aprender será mais fácil para construirmos nossas poesias”, acredita a aluna.

Até o prazo final para as inscrições do concurso, mais oficinas serão realizadas abordando a mesma temática, também com os alunos da 3ª série do Ensino Médio.

O I Concurso de Poesia Jorge de Lima está sendo desenvolvido pela Secult e maiores informações sobre o certame podem ser encontradas no site: www.cultura.al.gov.br.

Podem participar da disputa, estudantes de todas as cidades alagoanas, que estejam cursando o Ensino Médio, tanto em escolas da rede pública quanto da rede privada. As inscrições vão até o dia 15 de setembro.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Coreia do Norte recebe primeiro show de banda ocidental de rock

Controverso grupo Laibach se apresenta para 1.500 pessoas em Pyongyang. Governo norte-coreano, porém, veta músicas e altera projeções de vídeo. Conjunto esloveno é considerado um modelo para a banda alemã Rammstein.

Da Deutsche Welle


A controversa banda eslovena Laibach realizou, nesta quarta-feira (19/08), um show diante de uma plateia de cerca de 1.500 pessoas em Pyongyang. Foi a primeira apresentação de um grupo de rock ocidental na Coreia do Norte. Visitantes estrangeiros do show relataram que a plateia reagiu de forma positiva, mas também cautelosa. Aproximadamente um décimo do público teria sido formado por estrangeiros – diplomatas, funcionários de organizações não governamentais e turistas.
Laibach combina sons industriais estridentes, muita decoração de aço e vídeos psicodélicos. O grupo formado em 1980 é considerada um modelo para a banda alemã Rammstein. Os eslovenos são controversos, pois expõem símbolos stalinistas e fascistas. Eles chegaram a encenar seus shows como marchas políticas e lançaram uma capa de álbum com suásticas. Críticos acusam a banda de simpatizar com o totalitarismo e glorificá-lo. Já os defensores do grupo estão convencidos de que Laibach estaria zombando das ideologias totalitárias.
O show de 45 minutos em Pyongyang diferiu, em parte, do set regular de músicas da banda. Consequentemente, Laibach tocou vários covers, incluindo canções de The Sound of Music comoEdelweiss e Do-Re-Mi – o musical é bastante conhecido na Coreia do Norte. A banda também executou uma canção folclórica do país acompanhada por um pianista norte-coreano.
O diretor norueguês Morten Traavik entre guardas de fronteira na zona desmilitarizada entre as duas Coreias
Segundo o portal de notícias 24ur.com, membros do governo da Coreia do Norte não estiveram presentes no show. No entanto, algumas músicas foram vetadas pelo governo poucas horas antes da apresentação – e algumas projeções de vídeo sofreram mudanças.
Laibach planeja um novo show na Coreia do Norte para esta quinta-feira. As apresentações foram organizadas pelo artista norueguês Morten Traavik, que já coordenou diversos outros projetos no país isolado. Segundo Traavik, a banda eslovena foi convidada pessoalmente pelas autoridades para as celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra, quando Pyongyang comemora especialmente a libertação da península coreana da ocupação japonesa.
A banda composta por seis músicos é a primeira de rock ocidental que realizou um show ao vivo na Coreia do Norte. O governo do país restringe fortemente as músicas que os cidadãos podem ouvir. Músicas estrangeiras, no entanto, têm se espalhado pelo país na última década através de pen drives e CDs contrabandeados.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

‘Os 8 Odiados’, novo filme de Tarantino, revela seu primeiro trailer

Filma protagonizado por Kurt Russell e Samuel L. Jackson, estreia nos EUA em dezembro


Do El País


É o oitavo filme de Quentin Tarantino. E, como tudo o que está relacionado ao cineasta, está sendo aguardadíssimo.
Os 8 Odiados só chegará às salas dos Estados Unidos em 25 de dezembro, mas a partir desta quinta-feira já é possível assistir ao primeiro trailer da produção.
O filme se passa 10 anos depois da Guerra Civil americana e conta uma história de caças a recompensas, traições e sobrevivência. A volta de Tarantino, três anos depois deDjango Livre, tem Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Samuel L. Jackson, Tim Roth, Michael Madsen e Walton Goggins no elenco. Todos, com exceção de Leigh, já atuaram em outras obras do diretor.
Os 8 Odiados foi totalmente rodado em 70mm, já que Tarantino se confirmou várias vezes como um dos mais inveterados defensores do celuloide. Aliás, o próprio trailer termina explicando o “glorioso” formato em que o filme foi gravado.
A oitava produção de Tarantino é uma sequência de Django Livre(2012), com a qual compartilha alguns personagens, e conta ainda com Bruce Dern, Demian Bichir e Channing Tatum. A trilha sonora é de Ennio Morricone.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Um ponto de leitura no meio da praça no interior de Rondônia



Do portal G1


Para propagar a leitura em um bairro de Vilhena (RO), a 700 quilômetros de Porto Velho, um jornalista decidiu montar uma biblioteca ao ar livre na praça da cidade. E a ideia do comunicador foi ousada: utilizar uma estante da própria casa. São mais de 200 obras disponíveis, que podem ser folheadas e levadas para casa a qualquer momento.

De acordo com Itamar Lima, a ideia foi concretizada por acreditar na leitura como agente de transformação social. "O conhecimento, a leitura tem poder de transformação do ser. Na verdade é uma maneira de facilitar o acesso à leitura de quem não tem, principalmente de leituras paradidáticas, e dar esse acesso às crianças para que elas possam ter o hábito da leitura dos livros",explana o jornalista.

A estante literária, que foi colocada na Praça Luiz Crocetta, no final do mês de junho, tem um acervo com mais de 200 obras, entre livros, revistas, enciclopédias e aumenta a cada dia, com doações vindas de várias localidades do município. E como a estante é pequena, uma nova está sendo confeccionada por um voluntário, para ser colocada ao lado da já existente.

Segundo Itamar, os livros são recolhidos durante o período noturno e colocados na estante novamente durante o dia. Prevendo a época de chuvas, uma capa que recobrirá a estante será feita. O jornalista espera que pessoas de outros bairros se inspirem na ideia e também implantem uma estante literária nas praças mais próximas de suas casas.

"A ideia parte disso, de que nós devemos dar a nossa contribuição para a sociedade. Para que crianças e adolescentes, que às vezes não tem acesso à uma biblioteca em casa, para que eles possam investir o tempo deles em leitura", esclarece.

Os moradores podem ficar com os livros emprestados por até 14 dias. Na estante literária há uma agenda onde o usuário anota seu nome, nome do livro e dia de empréstimo. "A ideia é que todo mundo tenha acesso à leitura. Ninguém pode pegar o livro e deixar na casa dele guardado, o livro é de todos", informa Itamar.

Atração
E parece que a novidade tem agradado os frequentadores da praça, como a dona de casa Edna Aparecida. "Acho muito importante porque tenho três crianças e eles sempre estão aqui de manhã brincando e acabam vindo olhar os livros, principalmente minha filha que está no sétimo ano e ela gosta muito de ler", comenta.

E a filha de Edna, Fabiane Gomes, é uma das usuárias habituais da biblioteca. Ela prefere as histórias de aventura e aprova a biblioteca ao ar livre. "É muito legal, porque incentiva as pessoas a lerem", diz.

Outra moradora que aprovou a estante cheia de livros na praça foi a secretária do lar, Renata Ramos. "Um bom incentivo, por que ao invés de as crianças estarem na rua elas vem na pracinha, se divertem, acham os livros interessantes e acabam pegando pra ler. É um incentivo a mais pra dentro de casa e quando está na escola", explica.

E como a ideia é socializar a leitura, Itamar informa que a estante literária vai continuar a receber doações de livros, que podem ser deixados na praça. "O comunicador tem que compartilhar as ideias, compartilhar o conhecimento e facilitar o acesso ao conhecimento às pessoas", ressalta.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

WhatsApp para incentivar leitura



Debora Schilling Machry

Eu sou muito insistente na questão da escrita e da leitura. Como professora de ciências, eu mostro aos meus alunos que, assim como os músculos do corpo, o cérebro também precisa se exercitar e que lendo, ele se exercita. Apesar disso, a maioria deles não gosta de ler e tem dificuldades de concentração, precisando de motivação contínua para estudar. Além disso, eu tinha muita dificuldade na correção das atividades, devido aos inúmeros erros ortográficos feitos por eles. Então, decidi trabalhar a leitura de uma forma que envolvesse os estudantes. O problema é que a ideia era utilizar o celular para isso e, apesar de ser uma ferramenta incrível, seu uso é proibido em sala de aula. A diretoria recolhe os aparelhos no começo do dia.

Sendo assim, eu resolvi a questão de outra forma. Comecei a escrever artigos para a seção de opinião dos jornais de São Leopoldo, do Rio Grande do Sul, sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula com os 6ºs, 7ºs e 8ºs anos. Depois, eu tiro foto da página do jornal com o artigo publicado e mando para meus alunos pelo grupo do WhatsApp, para que eles leiam em casa pelo celular.

A partir dessa atividade, eu peço que eles respondam o que o artigo pode mudar ou alterar na aprendizagem em casa. Eles relatam as aplicações do que leram, mas também podem mandar fotos de animais que acham curiosos para trabalharmos em aula ou denunciar entulhos de lixo para que eu ligue para a prefeitura. A participação no grupo é também um trabalho social. Dessa forma, eu sei que estão aplicando o conhecimento passado presencialmente.

Depois de tudo isso, eu faço a hora do conto científico em sala. Para ler o artigo e discuti-lo com os alunos, eu crio um clima no ambiente: apago as luzes, levo uma vela ou vamos ler na rua, o que acaba envolvendo os estudantes.

É um projeto bem diferente na escola porque, de um modo geral, os professores têm medo do celular, porque é uma ferramenta nova e nem todo mundo se adapta. Eu mesma não tinha um smartphone, ganhei um esse ano. Foram os alunos que me ensinaram a usar o aparelho. Algumas coisas eu ainda não sei fazer, mas vou aprender. Eu perdi o medo.

O grupo do WhatsApp é mais um recurso didático. É uma prática que estamos desenvolvendo e aprendendo com ela. Eu nunca usei a tecnologia desse jeito, então eu estou achando ótimo. Os alunos estão aderindo aos pouco, mas todos que fazem parte dos grupos participam bem. Eles estão mais concentrados e conseguem entender melhor o que eu falo nas aulas. A leitura facilitou muito a aprendizagem.

Eu sei que a minha vocação é essa. É na escola que eu consigo fazer meu trabalho socioambiental. Sou respeitada pela minha profissão. Tudo isso me motiva a não desistir e me faz acreditar que a educação ainda vai ser valorizada.

(Porvir)
*

Debora Cristina Schilling Machry é bióloga formada pela Unisinos, especialista em Microbiologia. É professora de Ciências da rede pública e privada. Já foi Supervisora da Educação Ambiental do município de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, Conselheira no Conselho do Meio Ambiente e interlocutora na Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos. Atualmente, escreve artigos de opinião para jornais regionais e coordena projetos socioambientais.

domingo, 23 de agosto de 2015

Livro bebível consegue filtrar água suja



Por Jonathan Webb - BBC News


O "livro bebível" é feito de papel tratado e traz informações impressas nas páginas sobre como e por que a água deve ser filtrada.

Para filtrar a água adequadamente, as páginas têm nanopartículas de prata ou cobre, que matam bactérias à medida que a água passa pelas páginas.

Os cientistas fizeram testes em 25 fontes de água contaminadas espalhadas por África do Sul, Gana e Bangladesh. Nos testes, o papel conseguiu remover mais de 99% das bactérias.

Após as filtragens, a água ficou com um nível de contaminação parecido ao da água que sai das torneiras nos Estados Unidos, segundo os cientistas. Também foram detectados níveis minúsculos de prata ou cobre na água filtrada, mas dentro do considerado seguro.

Os resultados da experiência foram apresentados no 250º Encontro da Sociedade Americana de Química, em Boston, nos Estados Unidos.

Teri Dankovich, pesquisadora em pós-doutorado da Universidade Carnegie Mellon em Pittsburgh, desenvolveu e testou a tecnologia durante vários anos, trabalhando com a Universidade McGill, no Canadá, e, depois, com a Universidade da Virgínia.

"(O livro) É voltado às comunidades de países em desenvolvimento", disse Dankovich à BBC, acrescentando que 663 milhões de pessoas no mundo todo não têm acesso a água potável.

"Tudo o que você precisa fazer é arrancar uma folha, colocar em um suporte para filtro comum e despejar água de rios, riachos, poços etc, e, do outro lado, vai sair água limpa - e bactérias mortas também."

Isso porque as bactérias absorvem os íons de prata ou cobre enquanto atravessam o papel.

100 litros

Segundo os testes realizados pela cientista, uma página pode limpar até 100 litros de água. Um livro inteiro pode fornecer água limpa por quatro anos.

A pesquisadora já testou o papel em laboratório usando água contaminada artificialmente e, depois disso, fez exames em campo em países em desenvolvimento, com ONGs como Water is Live e a iDE.

Nos testes em países africanos e em Bangladesh, a contagem de bactéria nas amostras de água filtrada caiu em média mais de 99% e, na maioria das amostras, caiu para zero.

Leia mais: Inventor de filtro que absorve bactérias e agrotóxico recebe prêmio de inovação

"Depois que filtramos a água com o papel, mais do que 90% das amostras não tinham bactérias viáveis", afirmou.

"É muito animador ver que este papel não funciona apenas no laboratório, mas também demonstrou sucesso em fontes de água reais que as pessoas estão usando."

Desafio

Alguns locais de testes se tornaram grandes desafios para o papel criado por Dankovich: por exemplo, um córrego que recebia diretamente esgoto não tratado com alto nível de bactérias.

"Mas ficamos muito impressionados com o desempenho do papel, que conseguiu matar quase completamente as bactérias naquelas amostras. E elas eram bem nojentas, então pensamos - se (o material) conseguir fazer isso, provavelmente vai conseguir fazer muito."

Agora, Dankovich espera aumentar a produção do papel. Atualmente, a cientista e os estudantes que participam da pesquisa fazem tudo à mão.

O próximo passo seria também distribuir os livros para que moradores de áreas problemáticas usem os filtros sozinhos.

"Precisamos colocar isso nas mãos das pessoas para ver quais serão os efeitos. Não dá para fazer muito quando você é uma cientista trabalhando sozinha", afirmou.

Daniele Lantagne, engenheira ambiental da Universidade Tufts, nos Estados Unidos, afirmou que os dados coletados nos testes são promissores.

"Há muito interesse no desenvolvimento de novos produtos para tratamento de água", disse a engenheira à BBC.

Depois desses dois primeiros estágios de testes - no laboratório e em países da África e Ásia -, a equipe terá de desenvolver um "projeto de produto que possa ser comercializado" para um dispositivo no qual as páginas do "livro bebível" possam ser encaixadas.

Mas, há um problema, segundo Lantagne: o papel parece matar bactérias, mas ainda não se sabe se pode matar outros microorganismos perigosos.

"Quero ver os resultados para protozoários e vírus. É promissor, mas não vai salvar o mundo amanhã. Eles completaram uma fase importante e há mais (fases) para enfrentar", disse.

Para Kyle Doudrick, da Universidade de Notre Dame, no Estado americano de Indiana, é importante fazer com que as pessoas compreendam como usar os filtros e com que frequência eles precisam ser trocados. Mas o resultados dos testes são animadores.

"Em geral, de todas as tecnologias disponíveis - filtros de cerâmica, esterelização com raios UV e assim por diante - esta é promissora, pois é barata e é uma ideia cativante", disse.

sábado, 22 de agosto de 2015

Dia 01/10, uma mobilização nacional pela leitura



Envolver o maior número de pessoas em todo o território nacional em prol da leitura é a proposta do DIADELER.TODODIA!, programado para o próximo dia primeiro de outubro.

Livros, jornais, revistas, gibis são as principais plataformas que podem ser utilizadas para a leitura mas nada impede que sejam lidas bulas, receitas e manuais. A coordenação do DIADELER.TODODIA! quer chamar a atenção de pais, professores, governantes e da sociedade como um todo para a importância do ato de ler.

A dinâmica da mobilização para o dia primeiro de outubro é uma maratona de 12 horas de duração durante as quais alunos e professores, profissionais liberais e operários, donas de casa e policiais, religiosos e incrédulos leiam, mesmo que por alguns segundos, seja uma pequena poesia, a Biblia ou um volumoso clássico da literatura, em sistema de revezamento.


A população brasileira não tem o hábito da leitura, quando comparada com outros países. O brasileiro lê, na média, 4 livros/ano sendo que apenas1,5 livro é lido por inteiro. O resultado é sentido no ranking internacional dos exames que avaliam desempenho dos alunos brasileiros, como o Pisa, onde o Brasil sempre ocupa as últimas colocações.

No dia 9 de abril último, a Secretaria de Cultura e Turismo de Barueri, cidade da Grande São Paulo, promoveu o DIADELER.TODODIA! e conseguiu que bombeiro lesse debaixo d´água e que policiais rodoviários promovessem uma blitz da leitura num dos pedágios da rodovia Castello Branco, uma das mais importantes estradas paulistas. Ao final da maratona de 12 horas (das 9 da manhã às 21 horas) foram computados mais de 93 mil participantes, incluídas crianças não alfabetizadas e que participaram de sessões de leitura.

A experiência foi tão bem sucedida que se decidiu por uma edição nacional. Cidades de todo o país estão sendo convidadas por e.mail a participarem. A coordenação da mobilização afirma que não tem sido fácil conseguir uma forma de contato com os serviços municipais de educação e de cultura para que somem esforços pela leitura. Não é preciso gastar absolutamente nada a não ser muita disposição para convidar a comunidade local para ler. 



Informações mais detalhadas como respostas a possíveis dúvidas, ficha cadastral e até vídeos-depoimento de diversas personalidades sobre a importância de ler estão no www.diadelertododia.com

Outras formas de contato: diadeler@barueri.sp.gov.br ou ainda pelo telefone 11 4199 1600.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Novo livro na praça: Amor de elefante



Nesta peça dramática apresento - de uma forma bastante inusitada - duas personagens em busca da realização de seus sonhos. Enfatizo o caráter político dos obstáculos interpostos, vinculo as barreiras artificialmente criadas ao aparelhamento do Estado por grupos de interesses, contraponho o messianismo vigente aos valores da liberdade e da democracia, para finalizar a trama de um modo surpreendente, conduzindo o leitor ao mais inesperado e sublime dos desfechos.

Para acessar o livro, clique aqui.


Novo livro na praça: O bruxo Esculfield do castelo de Chamberleim: Peça teatral infantil em três atos



Uma dramaturgia criativa e provocante: a estória de um bruxo malvado que sequestra estudantes para neles incutir as sementes do mal e da perdição.

A partir do individualismo exacerbado vigente nas sociedades contemporâneas,
O leitor é convidado à reflexão sobre princípios e valores que deveriam ser universais, como a solidariedade, a fraternidade, a verdade e a justiça.

Envolva-se e se enverede por essa trama fascinante. Deixe-se surpreender com os desdobramentos e o epílogo dessa inquietante peça teatral.

Para acessar o livro, clique aqui.

Smartphone é o 2º dispositivo mais usado para leitura



Tudo Celular


Os dispositivos móveis são os aparelhos mais utilizados por boa parte da humanidade, milhões de pessoas ao redor do mundo o utilizam para lazer, mas para muitos também faz parte da rotina profissional. De qualquer forma, é justamente por isso que as fabricantes de dispositivos móveis estão sempre tentando desenvolver novos smartphones e tablets mais aprimorados e com funcionalidades inteligentes para o dia a dia.

Os celulares atuais são utilizados para diversos fins, muitas pessoas escutam músicas, assistem vídeos, usam como GPS, entre outros recursos. É justamente por isso que muitos gadgets específicos acabaram morrendo, como os leitores de MP3. Agora os aparelhos também estão sendo muito utilizados para ler conteúdo digital.

Os leitores digitais chegaram ao público no final da década de 90, atualmente há alguns aparelhos que são muito famosos e o mercado de publicações digitais está aumentando consideravelmente. Porém, ao mesmo tempo que os gadgets do tipo começaram a ficar famosos, muitas pessoas estão utilizando smartphones e tablets com a mesma função.

De acordo com informações do The Wall Street Journal, o futuro dos livros digitais está provavelmente atrelado aos smartphones. Isso não quer dizer que os e-readers vão desaparecer do mercado, mas que atualmente mais pessoas utilizam os dispositivos móveis para ler conteúdo.

    Leia também: Samsung quer enviar satélites para o espaço em busca de criar uma humanidade conectada

As informações foram retiradas de um relatório da Nielsen, concluindo quais são os dispositivos de leitura preferido dos usuários. Em 2012 o resultado indicou que 50% das pessoas entrevistadas preferiam e-readers, como o Kindle da Amazon. Agora, apenas 32% afirmam que utilizam o leitor de e-book como primeira opção. Entre 2009 e 2015 os tablets passaram de 30% a 41% a ser opção dos usuários.

Os smartphones ainda não estão em primeiro lugar, mas a pesquisa revela que o dispositivo é o segundo mais utilizado para realizar leitura. Em 2009 apenas 24% dos entrevistados utilizavam os aparelhos para leitura, agora a porcentagem aumentou para 54%. Certamente o número deve aumentar consideravelmente nos próximos anos, já que mais e mais pessoas estão adquirindo dispositivos móveis. Um recente estudo até afirmou que 84% da população dos Estados Unidos possui smartphones.

Novo livro na praça: Quem vai querer a nova escola



Nesta peça teatral discuto as candentes questões que envolvem a educação no país, e o faço quebrando a rigidez e a complexidade dos temas enfocados, tornando-os – através de uma abordagem lúdica e criativa - de simples compreensão.

Neste contexto, são evidenciados, no enredo, problemas que estão a comprometer a educação: o volume dos recursos orçamentários alocados; a qualidade do ensino; a pedagogia modelada pela ideologia; cotas e valores; a gestão, a democratização e a sustentabilidade do sistema; dentre outros.

Para quebrar o clima que reflexões sobre assuntos de tamanha importância carregam, a trama é desenvolvida com profusão de cenas hilárias, quadros divertidos, personagens pitorescas, explorando o humor leve e inteligente, característica das comédias gregas encenadas na antiguidade.


Para acessar o livro, clique aqui.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

“Um conflito, um conflito, meu reino por um conflito!”


Conflito é o choque, o enfrentamento entre duas forças que mutuamente se excluem.

Ao observarmos a trajetória da humanidade verificamos que o conflito encontra-se no epicentro do movimento evolucionista.

Quando o homem das cavernas sentia fome e encontrava-se diante da necessidade de sair em busca de comida, não experimentava um conflito? Provavelmente raciocinava assim: “se não comer, morro de fome. Se vou à caça estarei sujeito às feras, às condições inóspitas e às intempéries. Serei capaz de suportar mais algumas horas sem alimentar ou devo partir para a caçada imediatamente? (...). São dúvidas que traduzem uma variedade de conflitos.

E o homem contemporâneo não experimenta conflitos no seu dia a dia, do instante em que acorda até o momento em que se recolhe para dormir? O trânsito caótico, a concorrência predatória no local de trabalho, a qualidade de ensino no local de estudo, as relações com os filhos e a esposa no lar, a decisão de assistir à um filme ou à uma peça de teatro, as discussões com o vizinho ... Enfim, existe alguma coisa na vida que não possa ser expressar através de um conflito?


Em psicologia o conflito emerge diante da necessidade de proceder uma escolha entre situações que poderiam ser categorizadas como incompatíveis.
Dessa forma, todas as situações de conflito levariam a um ambiente de antagonismo, impactando a ação ou a tomada de decisão por parte do indivíduo ou do grupo social.

Já em algumas escolas da sociologia, o conflito é visto “como o desequilíbrio de forças do sistema social (...)”.

Pois assim como o conflito é uma das forças motrizes que alavanca o desenvolvimento humano, também é o conflito a mola propulsora que dá movimento e sustentabilidade ao teatro.



O texto teatral deve sempre girar em torno de um grande conflito, podendo existir sub-conflitos em seu interior: esta é a lei primeira, a regra de ouro da dramaturgia.

Podemos ter uma variedade de tipos de conflitos:

a) psicológico,
b) existencial,
c) emocional,
d) social,
e) econômico,
f) político,
g) agrário,...


A existência de uma força contrária, impedindo que a personagem central conquiste seus objetivos é que gera o conflito. Daí os termos protagonista e antagonista. O que experimenta o conflito, o que assume a condição de personagem principal é o protagonista (proto: primeiro; gonia: ação). Já o personagem que corporifica a força contrária é o antagonista (anto: contra).



Portanto, ao se deparar com a necessidade de escrever uma peça teatral para melhor mobilizar seus alunos, cuide de identificar e esclarecer o conflito que será explorado. Estude-o com profundidade, lance luzes sobre todas as suas facetas, desvelando-o inteiramente. Fazendo assim, as demais fases do processo, as demais etapas da dramaturgia, se sucederão naturalmente, como que obedecendo à lei da gravidade.

Na peça Ricardo III, Shakespeare relata o drama do rei que, ao perder o cavalo na batalha de Bosworth, grita desesperadamente: “Um cavalo, um cavalo, meu reino por um cavalo!”. O dramaturgo eficaz procura um bom conflito como o garimpeiro o ouro. Por isto não seria estranho escutá-lo a suspirar: “Um conflito, um conflito, meu reino por um conflito!”.



Antônio Carlos dos Santos , criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção do teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O Haiti é aqui...

Bairro Jalousie, em port-au-Prince, no Haiti. foto: Rebecca Blackwell/AP


Jalousie, port-au-Prince, no Haiti, no Brasil
Papa Doc do Brasil; Lula e Dilma do Haiti
O Haiti é aqui
O Brasil é o Haiti
Rodoux Faugh

domingo, 2 de agosto de 2015

Doutores em pedofilia


A sociedade brasileira forjou ao longo de sua história, duas grandes academias. Uma é a escola formal, destinada a produzir, reproduzir e disseminar o conhecimento, um tipo de saber que arremessa a humanidade em direção ao desenvolvimento e ao progresso. Mas infelizmente existe uma outra, a escola das ruas, um certo tipo de ‘academia’ que em outros tempos, teve lá a sua importância relativa, mas que hoje, constitui-se inequivocamente em universidade e centro de excelência para a titulação da bandidagem, o doutoramento de pedófilos, a modernização do tráfico de entorpecentes, a sacralização de tudo o que alguns preferem denominar ‘inferno’.

Num passado que já vai longe, as ruas – em que pesem os riscos e perigos sempre presentes - descortinavam, ou insinuavam pelo menos, um segundo cenário, envolto numa áurea de romantismo, inspirando espíritos aventureiros, desbravadores, conquistadores. Mas nos dias de hoje, as ruas perderam quase tudo o que havia de encanto e, só muito raramente, quase no limite das impossibilidades, apresentam-se como um espaço saudável e produtivo para as crianças e a nossa juventude.

Tão logo emerge da hibernação, ainda na fase da amamentação do filhote recém-nascido, a mãe-ursa passa a conviver com seu maior temor: encontrar um urso-macho, quem sabe o próprio parceiro que a emprenhou, que não relutará em avançar sobre o pequeno e frágil filhote para devorá-lo, saciando a fome de seis meses.

O reino animal é assim. Pais que deveriam proteger os rebentos são os primeiros a extrair-lhes todas as possibilidades. E o que os brasileiros têm construído neste país continente não difere muito do mundo selvagem. As ruas comprovam isso um dia sim e o outro também. Em tempo algum nossas ruas estiveram tão sintonizadas com as variações dos termos selva, selvagem, selvageria.

Nos núcleos urbanos a violência fincou âncoras em todos os quadrantes. Está presente nos lares, nos locais de trabalho, nas escolas, nos espaços de convivência, nos centros religiosos. Espaço algum escapa de seus inumeráveis tentáculos. Mas é na rua que a violência encontra um dos seus campos mais propícios, um de seus terrenos mais férteis.

Um outro campo, um outro território aonde a violência tem plena guarida compõe-se de gabinetes refrigerados, instalações e organizações estatais e paraestatais que trataram de volatizar os limites entre o público e o privado, diluindo-os no jogo de interesses rasteiros, no tráfico das mais infames influências, na volúpia da corrupção e das propinas.

No Brasil de hoje envergonha a tênue linha que separa o certo do errado, o justo do injusto, a ética da gatunagem explícita. E é neste espaço cinzento, cendrado e sombrio que nossas escolas formais agonizam, numa crise típica de moribundos que aguardam o sacramento da extrema-unção.

Enquanto as ruas se aperfeiçoam, se aprimoram, se qualificam para ensinar mais e melhor o que não presta, nossas escolas fragilizadas, depauperadas, agonizantes, sem viço e brilho, ensinam pouco, muito menos que deveriam. Enquanto as ruas exibem a exuberância do ensino-bandido, as escolas exibem a mediocridade do ensino-desastrado, do ensino-ineficaz.

Nossas escolas formais deveriam alfabetizar, ensinar os alunos a interpretar e efetuar operações de cálculo, habilitando-os a receber os conteúdos que serão apresentados nas fases seguintes. Mas, desde a pré-escola, parece que os parâmetros flexionaram e os professores agora se esmeram em incutir no estudante o paradigma que navega na crista da onda: “engajamento social”. Esse é o paradigma, essa é a palavra de ordem.

Raios! Nossas crianças e nossos jovens não sabem interpretar um texto trivial, sequer dominam as operações matemáticas, apresentam as piores notas nas avaliações internacionais para medir o conhecimento acumulado, mas quando se trata do quesito “engajamento social”, estão mais que antenados, seja lá o que signifique a destemida expressão.

Pouco tempo atrás questionaram uma professora do ensino fundamental que resolveu ensinar a seus alunos nada mais nada menos que a ciência dos palavrões. E assim se defendia a educadora revolucionária: “se a escola não ensina palavrões aos alunos, quem o fará”?


Os pais dos alunos da engajada professora verificaram que seus filhos não sabiam ler, escrever, calcular e muito menos interpretar pequenos e singelos textos. Não aprenderam na escola. Mas na escola aprenderam o significado de todos os palavrões, seus cadernos tornaram-se dicionários das palavras malditas, das mais sutis às cabeludas como as caranguejeiras.

Beber leite e chupar manga seria um bom mote para aulas de nutrição, de biologia, de ecologia, de saúde, de química, e de inúmeras outras disciplinas, inclusive geografia e matemática. Todavia, a professora adepta da pedagogia das ruas optou pelo que deveria ser uma aula de educação sexual, mas que pela banalidade e vulgaridade, reduziu-se a uma “aula” de e sobre cafetinagem e depravação.

Então ficamos assim: os professores remunerados para ensinar conteúdos pedagógicos, ensinam as ‘artes’ das ruas; enquanto os bandidos e traficantes cuidam de fazer às vezes da escola formal, ensinando leitura, interpretação de textos e operações de cálculo. Ou alguém acredita que a malandragem pode prescindir do conhecimento acadêmico e científico. Sendo assim, como se sairiam com os balanços contábeis das fortunas geradas pelo tráfico de drogas e entorpecentes? Como se sairiam com a complexidade das operações bancárias, das intrigadas tecnologias para a indústria da lavagem de dinheiro, da ciência de desbravar os mais promissores paraísos fiscais, das espertezas, indolências e cafumangos dos que se divertem com a língua, apelidando o mensalão e o achaque aos cofres públicos de caixa dois?

Ainda que fragilizadas, esgotadas, carcomidas nas entranhas, acreditam os pais que nossas escolas constituem um abrigo seguro, um bunker, uma casamata onde os filhos mantêm-se protegidos dos perigos das ruas.

Tratem eles de manter rigorosa vigilância sobre os políticos que elegeram, caso contrário, nem para esse papel a escola se prestará mais.

Felizmente, cresce o número dos que se indignam com a situação do país. E indignar é o primeiro passo para que a nação se mobilize, para que os brasileiros promovam as transformações capazes de nos assegurar um lugar dentre os países desenvolvidos, um lugar privilegiado no século XXI, um lugar onde caibam todos os nossos sonhos e esperanças.

Antônio Carlos dos Santos criou a metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção do Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Educação, gestão e democracia


A palavra democracia já se popularizou entre nós. Tornou-se parte do vocabulário popular, se incorporando ao cotidiano das pessoas. Se por um lado esta situação representa um avanço expressivo, dado que qualquer que seja o significado adotado, falar em democracia sempre será oxigenar o ambiente político; por outro pode encerrar certa hipocrisia, um invólucro bem produzido para escamotear formas mais sutis de opressão e dominação. Quem não se lembra que a parte da Alemanha assumidamente bucocrático-comunista do período muro de Berlim se denominava pomposamente “democrática”?

De origem grega, a palavra democracia na realidade encerra uma multiplicidade de significados ditados sobretudo pela teoria política, ou mais apropriadamente pelas idiossincrasias circunstanciais. Originalmente significa uma forma de governo caracterizada pelos cidadãos exercerem diretamente o poder de decisão, quando prevalece a maioria.

Mas mesmo a maioria grega era bastante relativa, pois dela se excluíam as mulheres e a esmagadora maioria da população escrava.

O crescimento das cidades e a explosão demográfica ensejaram a modernização do estado e as necessárias adaptações foram tomando forma, de sorte que da democracia direta passamos para a democracia representativa, quando o exercício da decisão se processa através de representantes preliminarmente eleitos.

No Brasil, a história democrática é caracterizada por idas e vindas - infelizmente mais vindas que idas. Momentos de expansão – vezes acelerados - revezando com outros letárgicos e sonolentos. Longos períodos de obscurantismo e opressão cedendo uma fração do tempo aos frágeis, curtos e efêmeros períodos das liberdades.

Desde a proclamação da república já tivemos sete cartas magnas. Sete constituições, o que registra nossa extrema vulnerabilidade e o quanto nosso ordenamento legal é volátil.

Os limites da constituição imperial de 1824 estavam mais que evidentes quando estabeleceram inamovíveis vinculações do exercício dos direitos políticos ao nível de renda dos cidadãos, uma forma nada sutil de excluir a maioria da população do processo de participação institucional. Como que para redimir a tendência ultra-elitista, a constituição de 1891 se volta para outra direção, garantindo alguns direitos, assegurando a representação das minorias e instituindo o sufrágio universal masculino. Mas manteve os analfabetos, mendigos, soldados e religiosos ao largo desta importante conquista política e social.

Decorre daqui, portanto, dois problemas que de certa forma perduram até a atualidade.

O primeiro é que o voto aberto, nas condições em que foi estabelecido, permitiu a manipulação eleitoral, o voto de cabresto e o coronelismo, que de certa forma – assumindo formatos mais sofisticados – ainda dominam o panorama político em vários rincões do país.

E o segundo é que a falta de justiça eleitoral independente depositou nas mãos do governo o reconhecimento dos deputados eleitos.

No ano de 1934 surge uma nova constituição, inspirada na alemã, e que incorpora a Justiça do Trabalho e outras conquistas trabalhistas.

Se sete foram as constituições, as intervenções militares foram nove, testemunhando nossa cultura autoritária e a onipresença dos quartéis.

Quando lançamos o olhar sobre o conjunto dos mandatários da nação, percebemos que dos trinta e três presidentes brasileiros, dez não completaram o mandato. Destes dez, quatro foram depostos por golpes, três morreram, e um sofreu impeachment.

Do total dos presidentes brasileiros é curioso observar que apenas quinze foram escolhidos pelo voto direto, portanto menos da metade.

Mas a história política brasileira mostra um outro viés: a utilização do eleitorado como massa de manobra das elites dirigentes. Esta situação chegou a tal grau que, durante a república velha, apenas 3% dos que poderiam votar eram chamados a colocar o voto na urna.

Em contrapartida, mais recentemente foi a opinião pública que, mobilizada, possibilitou o impedimento do ex-presidente Fernando Collor.

Já tivemos presidente que imaginava ser a gestão pública um ramo da engenharia civil. Era o caso de Washington Luiz que chegou a afirmar que “governar é construir estradas”.

Se Washington Luiz foi o benemérito originário das grandes empreiteiras, não ficou atrás quando o assunto era a exclusão social. Conseguiu atribuir às forças policiais uma função muito maior que a de assegurar a elucidação de crimes e a prisão de delinqüentes. Foi Washington Luiz quem perenizou a expressão “a questão social é caso de polícia”.

Mas nossa sina autoritária tem raízes mais profundas. Nosso primeiro presidente, o marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891), determinou o fechamento do congresso, decretando a seguir o estado de sítio.

Floriano Peixoto (1891-1894) arquitetou durante todo o tempo contra as liberdades individuais, sobretudo a de opinião e foi o primeiro a fazer prisões políticas.

Arthur Bernardes (1922-1926) conseguiu aprimorar os desvios despóticos de Floriano Peixoto, tornando-se o primeiro a construir uma prisão especial para presos políticos.

E daí segue um conjunto de acontecimentos de cunho autoritário, incorporados às nossas tradições e imaginário; registrando o quanto a democracia tem sido até o momento uma cantilena principalmente para os excluídos.

Mesmo nos dias de hoje, quando vivemos uma experiência democrática jamais experimentada, salta aos olhos o que parece uma inesgotável capacidade de nossas elites políticas de promover exclusão social. A verdade é que, se avançamos na democratização da vida política, no campo econômico o que se fez foi muito pouco, haja vista o país ostentar uma das mais perversas concentrações de renda do planeta.

Este passado histórico afeta todos nós e, de uma maneira especial, os educadores. É que cabe a esta categoria especial de pessoas uma atividade por demais nobre: a de reproduzir o conhecimento, reciclá-lo, torná-lo assimilável para os aprendizes; desvendar os mistérios que emolduram as artes e o saber, e torná-los disponíveis e acessíveis a todos. E como conviver neste ambiente ignorando esta herança autoritária já incorporada – ainda que inconsciente - ao nosso modo de ser, pensar e agir? Este é o desafio do verdadeiro educador, transformar-se em um agente em permanente renovação, transformador de si e das coisas, um homem capaz de re-elaborar permanentemente o mundo, ao mesmo tempo em que re-elabora a si próprio. Um agente que enxerga o outro, e não só seus alunos, como literais parceiros neste processo dinâmico e ininterrupto de resgate da ética e da solidariedade. Um cidadão que não entenda a sala de aula como seu universo, e sim que perceba o universo como sua sala de aula.

É deste professor que nossos alunos e alunas necessitam. Nada de falsos libertários, loquazes ventríloquos, papagaios de pirata, cintilantes, onipresentes; sempre com as respostas prontas e definitivas na ponta da língua, mas hipócritas e pobres de conteúdo. Precisamos do professor que consiga superar e romper a redoma autoritária em que a sociedade está envolta. Do professor que ao invés de se colocar acima, se coloque ao lado do aluno, que partilhe com ele as dúvidas e que aceite o desafio de comungar a busca pela melhor das alternativas. Sim ao professor que - ao contrário da prepotência e arrogância da academia, dê guarida à humildade, à troca, à generosidade.

Se o que queremos construir é uma sociedade que partilhe os valores e as condições que nos transformem todos em cidadãos, então teremos que procurar por novos educadores e gestores públicos, por um agente que entenda a educação e a gestão como uma troca entre iguais com diferentes tipos de conhecimento. E que todo conhecimento tem, no seu devido contexto, importância individual e social.

Antônio Carlos dos Santos é professor universitário, criador da metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e da tecnologia de produção de teatro popular de bonecos Mané Beiçudo.

domingo, 12 de julho de 2015

A frieza tomada emprestada dos serial killers


Como - em pleno século XXI – pode o analfabetismo estar tão entranhado entre nós?

Como é possível a chaga devassar de tal forma a alma nacional, envergonhando, prostrando e humilhando a nação?

Estamos adentrando o futuro com milhões de brasileiros amargando a situação de analfabetos. E que fique claro, não estou me referindo aos analfabetos funcionais.

Estima o IBGE que a população brasileira já ultrapassa 202,7 milhões de habitantes. Sendo assim, a conta expressa uma realidade insuportavelmente medonha, de toda inaceitável. Admitir com naturalidade que mais de 13 milhões de brasileiros estejam distantes da leitura crítica, estejam ao largo da cidadania, estejam ainda sob os grilhões do obscurantismo é admitir que o destino nos reserva a banalidade, a pequenez, é admitir que estamos fadados à mediocridade e ao subdesenvolvimento. Não se trata de negar o obvio ou ignorar a realidade. Ao contrário, trata-se de reagir, resistir, protestar, não com a naturalidade dos néscios, dos hipócritas, e sim com a indignação dos justos, com a revolta incontida das pessoas de bem, com infinito desprezo para o que cuidam de perpetuar um cenário tão bizarro e nefasto.

É difícil acreditar, mas, das 5.560 cidades brasileiras menos de uma centena podem ser consideradas livres do analfabetismo. Conseguiram índices similares aos dos países desenvolvidos. Custa reconhecer, mas, do total das urbes brasileiras, apenas 1% das cidades conseguiram enfrentar e resolver o problema. O restante do país, 99% dos municípios tupiniquins são, no mapa, como manchas indeléveis, máculas de vergonha e tragédia, território disforme estigmatizado pela brutalidade da chaga medieval.

Este é um problema - um dos mais graves – cuja solução não pode ser postergada. Qualquer governo que se preze deveria tomá-lo como estratégica. Equacionar e resolver esta questão deveria figurar como ponto de honra, ainda que para isso fosse necessário mobilizar a nação num esforço de guerra. Para que o país consiga dar vazão e curso ao desenvolvimento devemos erradicar o analfabetismo, dobrá-lo, colocá-lo de joelhos numa batalha sem tréguas, sem clemência.

Se este é um discurso na boca de todos - ou pelo menos de muitos - a aplicação, a prática tem sido exercida por muito poucos, quase ninguém. Neste ponto, a distância entre teoria e prática tem se mostrado imensuravelmente dolorida.

Aliás, associar teoria à prática tem sido desafio perene, onipresente para os brasileiros. Às vezes a teoria galopa um cavalo árabe, um corredor invencível, enquanto a prática se ajeita num pachorrento burro de carga. Outras vezes, é o contrário que se verifica, e a prática avança léguas deixando a teoria lá atrás, submersa numa nuvem densa de poeira. Parece que um dos fundadores de Pindorama, só para azucrinar nossas vidas, besuntou a teoria com óleo e a prática com água, de modo que misturar os dois passou – dentre nós - à categoria das impossibilidades físicas.

Políticos e autoridades que cultuam a ética costumam esculpir suas obras em rocha. Por isto são reconhecidos pelos contemporâneos e pelos que só viverão nos séculos seguintes. Deixam saudades. Já os que permitem que 13 milhões de brasileiros amarguem – em pleno século XXI – a escuridão da idade média, são loquazes, prolixos e escondem por detrás de olhares candidamente doces a frieza que tomaram emprestada dos serial killers. Enganam-se, portanto, os que acreditam que esses porcalhões entalham suas obras em água ou em vento. Não. Utilizam uma rocha ainda mais dura, porque o mal que perpetram atravessará muitos séculos à custa da dor, do sofrimento de milhões de brasileiros. A história os tem como os senhores da miséria.


Ilustração: Jornal Folha de São Paulo


Antônio Carlos dos Santos criou a metodologia Quasar K+ de Planejamento Estratégico e a tecnologia de produção de teatro popular Mané Beiçudo.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Um teatro que educa e constrói - Mané Beiçudo


Ao longo dos anos a “forma” tem sido uma das maiores preocupações dos que lidam, no dia a dia, com a produção artística. Quando não um pesadelo, se torna ao menos uma questão perturbadora. Para os teatrólogos-educadores assume um contorno um tanto diferenciado, dado às peculiaridades desta arte - o teatro - onde a vida é na realidade, recriada e revivida sobre um simples estrado; quando o homem alça vôo rumo a outros horizontes, outros mundos, novos universos.

Nas diferentes épocas também o teatro foi acompanhando, com desenvoltura, as novas exigências que a sociedade estabelecia. Os espetáculos em seu aspecto formal acompanharam as evoluções do tempo e dos costumes, se mostrando ora rebuscados, espalhafatosos e medíocres, ora oníricos, sublimes e contundentes.

Contemporaneamente, com o advento da era moderna, do micro-chips, da generalização da informática, da internet, da massificação da televisão, a cultura popular parece perder espaço.

Através da televisão – o grande instrumento de comunicação de massa - é incorporada ao cotidiano dos indivíduos uma estética cada vez mais agradável aos sentidos, mais perfeita na forma, mas em contrapartida, mais vazia de conteúdo.

Milhões de pessoas em todo o mundo, famintas e desesperadas, desempregadas e desoladas, se vêem inseridas no luxo da grã-finagem das novelas e dos enlatados, “vivenciando” inacreditáveis contos de fada que expressam realidades intangíveis, fora de alcance dos mortais comuns.

Ainda que inconscientemente - o que torna o quadro mais grave e seu enfrentamento mais difícil - essa “cultura” alienante é incorporada às manifestações artísticas locais, despersonificando cada vez em maior grau, a cultura, os valores e as tradições genuinamente populares.

 É bom salientar que o processo educativo-cultural deve ser infinitamente mais amplo que a megalomania colonizadora e oficialesca de incentivar tão somente os festejos populares, os folguedos e o folclore. Quando ocorre a promoção intensiva do folclore – ignorando as demais formas de manifestações culturais e artísticas - estamos tão somente replicando o modelo colonizador, insistindo à exaustão na repetição pela repetição, na inércia, sem abrir espaços para o que é novo e renovador, impedindo a ação do movimento. Quando valorizamos apenas e tão somente o artesanal, o que se repete sem modificações, estamos estimulando o não transforma, o não questiona, o não critica, o não incomoda.

O folclore e as tradições populares são importantes e fundamentais porque compõem o substrato de nossa identidade cultural, de nossa formação enquanto um povo, uma nação. É necessário estudá-los, compreendê-los, divulgá-los, mas sem que isso limite nossa capacidade de continuar criando, inovando, refletindo sobre nossa produção. Assim como devemos manter as portas escancaradas para o folclore, devemos mantê-las também para a arte que conduz à crítica, que leva à reflexão, que enseja a transformação, a arte que se nutre nas ruas, nas fábricas, nas escolas...

Os grupos teatrais inseridos neste processo também são vítimas dele. A falta de acesso à capacitação - resultante em grande parte da adoção de políticas públicas equivocadas, faz com que, não raro, nos deparemos com grupos imitando cantores da moda, shows televisivos, os últimos “sucessos” da ocasião, levando o coração à boca para assegurar a aquisição do “estroboscópio” - impacto da novela das oito; relegando a realidade objetiva à um enésimo plano. Então ignoram o dia a dia das comunidades, ignoram o processo de busca por uma estética popular, passam a desdenhar a imperiosa necessidade de interagir com os que estão bem ao lado.



Como conseqüência imediata, os grupos tendem a ignorar os diversos elementos cênicos que, conjugados, possibilitam à platéia uma imersão mais profunda no contexto abordado e na realidade local. Há até mesmo os que se deixam engabelar por uma compreensão errônea do Teatro Pobre de Jerzy Grotowski.

O diretor polonês desenvolveu uma série de técnicas, baseadas em sua realidade européia, cujo objetivo era acentuar o processo de identificação ator/espectador. Nesta metodologia os elementos cênicos são desprezados em função da interação pretendida.

Não devemos perder de vista que a realidade brasileira é bem diferente, bastante distinta da européia.

As diferenças são gritantes e falam por si. Aqui somos o melhor da Bélgica com o que de pior existe na Biafra. Algumas poucas ilhas de excelência envoltas em um mar de fome e miséria. Este é o Brasil das inacreditáveis contradições, da descomunal concentração da renda, da perversa injustiça social, o lugar e o espaço onde o século XXI carrega as heranças malditas do XV.

O povo tem direito à arte em sua forma mais aperfeiçoada e lúdica, em seu conteúdo mais transformador. Pois não é do povo que a arte emana?

 Deve resultar daí um novo contexto, uma nova realidade em que o povo deixa de ser objeto e passa a atuar como sujeito da ação.

O fundamental é aprofundar os processos de identificação com o povo, com as comunidades locais, revigorando o teatro, embebendo-o dos costumes, crendices e manifestações que só a comunidade, em séculos de elaboração, foi capaz de manejar.

Todo o esforço será pouco no sentido de retornar ao povo uma arte esteticamente bela, lúdica, estruturalmente embebida de conflitos sociais, comprometida com a comunidade, libertária em sua essência. Todos os recursos cênicos deverão ser disponibilizados na busca desta linguagem popular.

Maquilagem, iluminação, cenários e adereços são meios que devemos dispor para alcançar este desafio. Ignorá-los, como fez Grotowski, não será boa medida. O desafio será aperfeiçoá-los, adequando-os à nossa realidade, utilizando o material disponível na praça, adotando uma postura adequada, uma postura que educa e constrói.

Mais grave que a falta de condições materiais para o desenvolvimento da arte, é a falta de condições para que o artista possa, com desenvoltura, efetuar a análise crítica de sua produção e da própria sociedade. Esta última condição é pedra de sustentação da cultura popular, pedra angular do teatro de bonecos Mané Beiçudo, um teatro concebido para a educação.

Este contexto – onde a leitura crítica da realidade é enviesada - gera uma situação em que os grupos, por força das circunstâncias, passam a - sem fontes de financiamento - imitar e repetir o que a televisão produz com fartos e ilimitados recursos. O resultado não poderia ser outro senão o supra-sumo do ridículo, do fracasso, do medíocre. Automaticamente o público relaciona o que vê no palco com o que assiste na TV e... desaparece dos teatros.

O resgate das autenticas manifestações culturais populares é o primeiro passo para se consolidar, nos planos teórico e prático, um teatro verdadeiramente popular. O modo de viver, andar, falar, vestir, pensar, as ansiedades e aspirações da comunidade, tudo são variantes que devem ser conhecidas em profundidade.

Um outro passo é incorporar a consciência de que a falta de recursos financeiros não está, necessariamentevinculado ao espetáculo insosso, de mau gosto, desagradável e mal elaborado. A carência financeira deve ser compensada por altas e concentradas doses de criatividade, qualidade farta e que lateja em nossa gente. Criatividade que de tão intensa transborda em nossos festejos e manifestações populares.

A mobilização da sociedade por mais investimentos em cultura e educação, deve caminhar lado a lado com a incansável luta por um processo de capacitação que priorize a técnica e a estética alternativa.

É necessário conquistar efetivamente uma estética popular, transformando o pouco que temos em um espetáculo encantador, mágico, crítico, renovador, características fundamentais no teatro que procuramos.

Ninguém melhor que Brecht para dirimir esta questão: “temos na verdade, necessidade de um teatro ingênuo, mas não primitivo; poético e não romântico; próximo da realidade, mas não imbuído de politicalha”.

Estes componentes figuram de forma explícita no Teatro Popular de Bonecos Mané Beiçudo. Um teatro fruto da atuação conjunta de artistas, educadores e comunidade. Da dramaturgia à concepção do espetáculo, tudo é elaborado de forma coletiva, numa perspectiva de, compreendendo a realidade, desnudando suas variadas facetas, cuidar de sua transformação – zelando pelos processos lúdico, crítico e planejado. Este é o objetivo do Teatro Popular de Mané Beiçudo. Um teatro concebido e estruturado para responder às demandas do ensino e da educação.

Artigo de Antônio Carlos dos Santos publicado no portal de Associação dos Professores de São Paulo - Aproesp.