O evento, que celebra as várias noções de sustentabilidade, dura até domingo com mais de 700 atividades gratuitas e inclusivas, até para os ‘eco-chatos’
CAMILA MORAES, no El País
Para alguns, uma vida sustentável envolve deslocamentos a pé; para outros, em bicicleta. Certas pessoas encaram sustentabilidade de um ponto de vista verde. Outras gostam de muitas cores e associam o arco-íris à ideia de diversidade de gênero. Há quem prefira música ao vivo ou cinema ao ar livre, comidas orgânicas ou uma alimentação estritamente vegetariana, a água dos oceanos ou o sol que produz energia limpa, o reaproveitamento de materiais ou a preservação das florestas. A Virada Sustentável, que ocupará São Paulo de 28 a 31 de agosto, prefere tudo isso – e ao mesmo tempo, agora.
O evento, idealizado pelo jornalista André Palhano e pela publicitária Mariana Amaral há quatro anos, nasceu com um objetivo claro: desmistificar a ideia de que sustentabilidade é um conceito exclusivamente associado à ecologia e agregar sob o mesmo guarda-chuva as diversas iniciativas do paulistano em busca de uma vida mais equilibrada.
São, somente neste ano, 750 atrações em mais de 140 pontos da cidade. Prova inquestionável de que uma iniciativa que começou pequena alcançou as proporções de sua imensa ambição, mobilizando uma metrópole em torno de seu equilíbrio, mais do que de seus desequilíbrios. A expectativa é superar o público dos anos anteriores, que passou de 480 mil pessoas em 2011 a 810 mil em 2013.
André Palhano, que coordena a programação, acredita que o sucesso da Virada se deva ao seu "modelo diferente" que, ao contrário de outros eventos do mesmo tipo, empresta do que ele chama de "a tecnologia do piquenique" a perspectiva 100% comunitária. "Funcionamos assim: cada um leva uma coisa e chama os amigos. A força da Virada é a sua articulação. Por isso, ela teve um crescimento natural, que exigiu esforços de acolhimento muito mais do que de a captação de recursos", explica o jornalista.
Outro fator que favorece o projeto, para ele, é que os temas sócio-ambientais são livrados de uma mensagem "eco-chata" e de regras de conduta e abraçados por um festival cultural que fala também de economia criativa, design, arquitetura e de outras modernidades mais. Afinal, não basta salvar o planeta, é preciso viver feliz nele: "De que adianta ser 100% ecoeficiente e se matar por questões religiosas?".
Para os interessados, não faltará o que discutir e fazer nas cinco grandes regiões paulistanas – para todas as idades e de graça. Tem encontros, debates e seminários sobre assuntos que vão de empreendedorismo a consumo consciente; mais de 120 aulas de ioga ao ar livre; uma bike tour em que um monitor que fala com os pedalantes sobre os principais pontos turísticos da cidade através de um microfone acoplado ao capacete de cada um; oficinas de hortas caseiras, cosméticos naturais, entre outras especialidades; e exposições e intervenções artísticas, como, no Grajaú, a de Alexandre Orion – famoso por seu trabalho com tintas produzidas com fuligem raspada de túneis.
Embora não vire a madrugada, o evento que acontece anualmente foi inspirado na Virada Cultural e na Virada Esportiva. Além de nove pessoas na organização oficial, a atração conta com a colaboração de mais de 100 voluntários, de 200 parceiros e da Prefeitura e o Governo do Estado.
Empolgadas com a experiência de São Paulo, outras capitais, como Recife e Curitiba, já importaram a ideia. André celebra essa contaminação: "Vivemos em um mundo em que os desafios são superurgentes, mas, ao mesmo tempo, temos mais eficiência para alterar essa realidade. Para isso, basta mostrar um mundo incrível, mais que um mundo horrível".
Destaques da Virada
Circuito de instalação Causa+Arte: Jaime Prades, ISE, Binho Ribeiro, Bijari e UrbanTrashArt idealizaram obras que refletem os conceitos e eixos de atuação de cada organização participante sobre sustentabilidade, resultando em um circuito de instalações que ficará exposto ao público no Parque do Ibirapuera até o dia 28 de setembro de 2014.
Pic Nic à Moda Antiga: comida, música, confraternização e protesto se unem no piquenique organizado pelo Comitê Aliados do Parque Augusta e pela Sociedade de Amigos e Moradores dos bairros de Cerqueira César e Consolação (SAMORCC), que fechará parte da rua Augusta. O objetivo é engajar a população no tema do Parque Augusta – que parte dos moradores da região deseja criar no terreno abandonado entre as ruas Marquês de Paranaguá e Caio Prado.
Estreia de 'A Lei da Água (Novo Código Florestal’: trata-se de um filme que pretende esclarecer as mudanças do Código Florestal Brasileiro após três anos intensos de debate. No Auditório do Ibirapuera.
Seminário Eficiência Hídrica e Edifícios Inteligentes: o encontro na FIESP discutirá temas como “Linha Branca e Eficiência Hídrica”, “Plano de Segurança da Água” e “Registro de Emissão e Transferência de Poluentes (RETP)”.
Exposição Território do Brincar: um passeio pela geografia de gestos infantis que habitam brincadeiras de diversas regiões brasileiras na Praça Victor Civita. Fruto da pesquisa do Projeto Território do Brincar, o projeto foi realizado com o Instituto Alana e coordenado pela educadora Renata Meirelles e pelo documentarista David Reeks.
Rolê ao extremo sul: um passeio de ônibus ao extremo sul da capital que inclui uma visita à aldeia Tenondé Porã.
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