A escravidão moderna é um desafio crescente graças a uma mistura de conflitos armados, mudanças climáticas e pandemia, revela um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
As estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sugerem que 50 milhões de pessoas — ou uma em cada 150 indivíduos — estão presas em trabalhos ou casamentos forçados.
A OIT avalia que o fato de a
situação piorar é "chocante".
"Nada pode justificar a
persistência desse abuso fundamental dos direitos humanos", declarou Guy
Ryder, diretor-geral da entidade.
"Sabemos o que precisa
ser feito e uma abordagem prática é necessária. Sindicatos, organizações de
empregadores, sociedade civil e as próprias pessoas têm papéis críticos a
desempenhar."
A organização trabalhista da
ONU fez questão de enfatizar que a escravidão não se limita a países pobres
distantes — mais da metade de todo o trabalho forçado acontece na faixa de
renda média alta ou alta dos países mais ricos.
Os dados recém-divulgados
levam em conta tanto o trabalho quanto o casamento forçado como tipos de
escravidão moderna — nas duas situações, a vítima não pode sair "por causa
de ameaças, violência, engano, abuso de poder ou outras formas de coação".
"A prisão em trabalho
pode durar anos, enquanto na maioria das vezes o casamento forçado é uma
sentença perpétua", diferencia o relatório.
Cerca de 27,6 milhões de
pessoas estão em trabalho forçado, incluindo 3,3 milhões de crianças. Dentro
dessa parcela mais jovem, mais da metade é submetida a exploração sexual
comercial.
Outros 22 milhões de
indivíduos estão em casamentos forçados — mais de dois terços são mulheres — e
muitas vítimas nem haviam completado 15 anos quando o matrimônio ocorreu.
O fato de as coisas piorarem
se deve a uma mistura complexa de "crises agravantes", diz o
relatório. Juntas, elas aumentam a pobreza e o risco de escravização.
A pandemia de covid-19, por
exemplo, causou grande ruptura na renda das pessoas, levando a mais dívidas —
que são pagas com trabalho forçado em alguns lugares. A OIT diz que a pandemia
levou a um aumento da "pobreza global extrema" pela primeira vez em
20 anos.
A guerra e os conflitos
armados também levam a circunstâncias terríveis, como o recrutamento de
crianças para servir como soldados.
Já as mudanças climáticas
forçam as pessoas a deixarem suas casas e se tornarem migrantes — colocando-as imediatamente
numa situação de vulnerabilidade.
O relatório pede um esforço
internacional que reúna recursos e vontade genuína para resolver o problema.
"Promessas e
declarações de boa intenção não são suficientes", adverte a publicação
BBC News, David Molloy
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