Da Deutsche Welle
Grandes arquitetos e icônicas construções são o foco do trabalho do fotógrafo Ola Kolehmainen. O finlandês, que desde 2005 vive em Berlim, é um dos mais importantes representantes da Escola de Helsinki, grupo de fotógrafos e artistas que têm em comum a busca por uma consciência estética intensa e precisa.
A exposição Geometric Light (Luz geométrica), em cartaz na Haus am Waldsee em Berlim, é também o nome de uma série de imagens que integra a mostra e revela o caráter fortemente artístico e abstrato que Kolehmainen imprime em suas composições fotográficas. Com a sobreposição de negativos e o contraste de cores, o artista cria fotografias que remetem às pinturas construtivistas de Paul Klee e František Kupra.
No entanto, o mais impressionante – e corpo celeste da exposição – são os desdobramentos imagéticos que Kolehmainen constrói em seus estudos e reflexões sobre a mesquita Santa Sofia, em Istambul, construída entre os anos 532 e 537, e as mesquitas projetadas pelo arquiteto turco Mimar Sinan no século 16.
"As fotos fogem do caráter documental, tradicional na fotografia contemporânea alemã, para criar essas espetaculares e belas imagens, que não são só decorativas. Nessa diferença reside a magia do trabalho de Kolehmainen. Sua visão é orgânica e não se prende só no intelectual. Ele cria uma nova maneira de observarmos a arquitetura", disse a curadora Katja Blomberg, na abertura da exposição em Berlim.
Teoria pessoal e artística
O que pode ser visto na capital alemã é um aprofundamento dos estudos arquitetônicos que permeiam todo o trabalho de Kolehmainen, nome fortemente associado a grandes arquitetos modernos, como Mies van der Rohe, Frank Gehry e Alvar Aalto.
Por anos, ele tentou evitar o trabalho do finlandês Alvar Aalto, um dos principais nomes da vertente orgânica da arquitetura moderna no século 20. "Não queria que pensassem que eu era nacionalista", comenta o artista, em tom de brincadeira. No entanto, há uma conexão muito forte entre ambos na obsessão pela relação entre luz e espaço. "Sinan foi uma grande influência no trabalho de Aalto", explica Kolehmainen.
Por essa perspectiva, o finlandês fez uma viagem no tempo, até a origem da sua inspiração. Por 20 dias, ele fotografou a catedral de Santa Sofia em Istambul e foi a fundo no trabalho do arquiteto Mimar Sinan, não só na Turquia, mas principalmente no sul da Espanha.
"Nos últimos anos me interessei por me aproximar dessas obras arquitetônicas e tentar criar em cima delas. Para mim, era importante usar o elemento visual para criar em cima do que eu podia ver. Queria que minhas imagens fugissem da realidade", diz o finlandês.
Mesmo que poético, o olhar de Kolehmainen é curioso e perspicaz nas suas relações artísticas e históricas. Ele apresenta suas experiências e compartilha seu olhar criando surpresas e mostrando novos ângulos e perspectivas dos prédios, ressaltando detalhes e fachadas.
"O que podemos ver em Geometric Light é o meu estudo desses lugares, e parte desse estudo é a relação entre essas fotos através das cores. Queria provar que minhas teorias pessoais funcionam, mesmo que elas não estejam escritas. Esse foi o caminho que encontrei para demonstrá-las de uma maneira artística e não acadêmica", explica Kolehmainen.
Experiência de luzes e cores
Na exposição em Berlim, o conceito de luz e cor das fotos de Kolehmainen ganha uma perspectiva adicional. Geometric Light ganhou uma instalação de cores desenvolvida especialmente para a Haus am Waldsee pelos artistas Matthias Sauerbruch e Louisa Hutton.
"Ola perguntou se uma antiga amiga poderia criar uma concepção de cores para a exposição.
Trabalhamos sempre com várias cores aqui na Haus am Waldsee, mas essa é a primeira vez que uma colaboração entre artistas é criada para interligar o espaço e as obras através das cores", explica a curadora Katja Blomberg.
A sensibilidade e a percepção de luz e cores das fotos ganham uma nova perspectiva com a maneira que as obras são expostas e com as cores nas quais elas são contrastadas.
"Ola cria um diálogo entre luzes e cores que é muito abstrato e sensível. Tentamos recriar esse diálogo entre as próprias fotos, as cores e a arquitetura", afirma Hutton.
A inglesa não achou problemático que o orçamento para o seu trabalho bastasse apenas para um dos andares da Haus am Waldsee. "O cubo branco é ideal para realçar a intensidade de cores nas fotos mais geométricas. Aquelas fotos pediam um ambiente mais neutro", explica.
Hutton, que gosta de chamar as fotografias de Kolehmainen de pinturas, diz que a ideia era reproduzir a ambiguidade das obras. "Trabalhamos com a técnica do contraste simultâneo, onde a sobreposição cria uma ilusão através de relações com cores opostas ou complementares."
A artista também brincou com a arquitetura da Haus am Walsee, uma mansão construída no subúrbio de Berlim na década de 1920 pelo arquiteto Max Werner. Desde 1946, o espaço é dedicado a exposições de arte contemporânea.
"Outro paradoxo é como a arquitetura da Haus am Walsee é ignorada pela maneira como utilizamos essas cores nas paredes. Nossa intenção foi realçar ou rearranjar esses detalhes para torná-los mais visíveis e complementares às pinturas de Ola", diz Hutton.