quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Finlandês cria diálogo de luzes e cores com fotos que tematizam arquitetura

Mostra "Geometric Light" explora contrastes criados pelo fotógrafo finlandês. Entre o realismo e a abstração, ele busca revelar a "alma" de grandes obras arquitetônicas.


Da Deutsche Welle

Grandes arquitetos e icônicas construções são o foco do trabalho do fotógrafo Ola Kolehmainen. O finlandês, que desde 2005 vive em Berlim, é um dos mais importantes representantes da Escola de Helsinki, grupo de fotógrafos e artistas que têm em comum a busca por uma consciência estética intensa e precisa.

A exposição Geometric Light (Luz geométrica), em cartaz na Haus am Waldsee em Berlim, é também o nome de uma série de imagens que integra a mostra e revela o caráter fortemente artístico e abstrato que Kolehmainen imprime em suas composições fotográficas. Com a sobreposição de negativos e o contraste de cores, o artista cria fotografias que remetem às pinturas construtivistas de Paul Klee e František Kupra.

No entanto, o mais impressionante – e corpo celeste da exposição – são os desdobramentos imagéticos que Kolehmainen constrói em seus estudos e reflexões sobre a mesquita Santa Sofia, em Istambul, construída entre os anos 532 e 537, e as mesquitas projetadas pelo arquiteto turco Mimar Sinan no século 16.

Fotografias de Kolehmainen remetem ao construtivismo de Klee e Kupra

"As fotos fogem do caráter documental, tradicional na fotografia contemporânea alemã, para criar essas espetaculares e belas imagens, que não são só decorativas. Nessa diferença reside a magia do trabalho de Kolehmainen. Sua visão é orgânica e não se prende só no intelectual. Ele cria uma nova maneira de observarmos a arquitetura", disse a curadora Katja Blomberg, na abertura da exposição em Berlim.

Teoria pessoal e artística
O que pode ser visto na capital alemã é um aprofundamento dos estudos arquitetônicos que permeiam todo o trabalho de Kolehmainen, nome fortemente associado a grandes arquitetos modernos, como Mies van der Rohe, Frank Gehry e Alvar Aalto.

Por anos, ele tentou evitar o trabalho do finlandês Alvar Aalto, um dos principais nomes da vertente orgânica da arquitetura moderna no século 20. "Não queria que pensassem que eu era nacionalista", comenta o artista, em tom de brincadeira. No entanto, há uma conexão muito forte entre ambos na obsessão pela relação entre luz e espaço. "Sinan foi uma grande influência no trabalho de Aalto", explica Kolehmainen.

Por essa perspectiva, o finlandês fez uma viagem no tempo, até a origem da sua inspiração. Por 20 dias, ele fotografou a catedral de Santa Sofia em Istambul e foi a fundo no trabalho do arquiteto Mimar Sinan, não só na Turquia, mas principalmente no sul da Espanha.

Kolehmainen passou 20 dias fotografando a mesquita Santa Sofia em Istambul

"Nos últimos anos me interessei por me aproximar dessas obras arquitetônicas e tentar criar em cima delas. Para mim, era importante usar o elemento visual para criar em cima do que eu podia ver. Queria que minhas imagens fugissem da realidade", diz o finlandês.

Mesmo que poético, o olhar de Kolehmainen é curioso e perspicaz nas suas relações artísticas e históricas. Ele apresenta suas experiências e compartilha seu olhar criando surpresas e mostrando novos ângulos e perspectivas dos prédios, ressaltando detalhes e fachadas.

"O que podemos ver em Geometric Light é o meu estudo desses lugares, e parte desse estudo é a relação entre essas fotos através das cores. Queria provar que minhas teorias pessoais funcionam, mesmo que elas não estejam escritas. Esse foi o caminho que encontrei para demonstrá-las de uma maneira artística e não acadêmica", explica Kolehmainen.

Experiência de luzes e cores
Kolehmainen é associado à arquitetura moderna

Na exposição em Berlim, o conceito de luz e cor das fotos de Kolehmainen ganha uma perspectiva adicional. Geometric Light ganhou uma instalação de cores desenvolvida especialmente para a Haus am Waldsee pelos artistas Matthias Sauerbruch e Louisa Hutton.

"Ola perguntou se uma antiga amiga poderia criar uma concepção de cores para a exposição.
Trabalhamos sempre com várias cores aqui na Haus am Waldsee, mas essa é a primeira vez que uma colaboração entre artistas é criada para interligar o espaço e as obras através das cores", explica a curadora Katja Blomberg.

A sensibilidade e a percepção de luz e cores das fotos ganham uma nova perspectiva com a maneira que as obras são expostas e com as cores nas quais elas são contrastadas.

"Ola cria um diálogo entre luzes e cores que é muito abstrato e sensível. Tentamos recriar esse diálogo entre as próprias fotos, as cores e a arquitetura", afirma Hutton.

A inglesa não achou problemático que o orçamento para o seu trabalho bastasse apenas para um dos andares da Haus am Waldsee. "O cubo branco é ideal para realçar a intensidade de cores nas fotos mais geométricas. Aquelas fotos pediam um ambiente mais neutro", explica.

Geometric Light está em cartaz na Haus am Waldsee

Hutton, que gosta de chamar as fotografias de Kolehmainen de pinturas, diz que a ideia era reproduzir a ambiguidade das obras. "Trabalhamos com a técnica do contraste simultâneo, onde a sobreposição cria uma ilusão através de relações com cores opostas ou complementares."

A artista também brincou com a arquitetura da Haus am Walsee, uma mansão construída no subúrbio de Berlim na década de 1920 pelo arquiteto Max Werner. Desde 1946, o espaço é dedicado a exposições de arte contemporânea.

"Outro paradoxo é como a arquitetura da Haus am Walsee é ignorada pela maneira como utilizamos essas cores nas paredes. Nossa intenção foi realçar ou rearranjar esses detalhes para torná-los mais visíveis e complementares às pinturas de Ola", diz Hutton.