quinta-feira, 1 de maio de 2014

450 anos de Shakespeare: uma singela homenagem


Há 450 anos nascia William Shakespeare, um dos grandes gênios da humanidade, que exerceria enorme influência no pensamento da civilização ocidental. Como singela homenagem aos momentos de prazer que o Bardo me propiciou, seguem trechos de algumas de suas peças:
“Não concedais à natureza mais do que aquilo que ela exige e a vida do homem será de tão baixo valor como a dos animais.” (Lear, em Rei Lear)
“‘Não está dentro de minha capacidade’, uma ova! Está em nós ser isso ou aquilo outro. Nossos corpos são jardins, dos quais nossas vontades são os jardineiros. [...] Se à balança de nossas vidas faltasse o prato da razão para estabilizar o outro, da sensualidade, o sangue e a baixeza de nossas natureza acabariam por nos conduzir a conclusões absurdamente grotescas. Mas dispomos da razão para resfriar nossos impulsos de paixão e fúria, os ardores de nossa carne, nossos desejos, as luxurias desenfreadas. Vejo, portanto, isso que você chama de amor como sendo mero rebentão ou enxerto.” (Iago, em Otelo)
“É morta… Não devia ser agora. Sempre seria tempo para ouvir-se essas palavras. Amanhã, volvendo trás amanhã e trás amanhã de novo. Vai, a pequenos passos, dia-a-dia, até a última sílaba do tempo inscrito. E todos esses nossos conténs têm alumiado aos tontos que nós somos nossos caminho para o pó da morte. Breve candeia, apaga-te! Que a vida é uma sombra ambulante: um pobre ator que gesticula em cena uma hora ou duas, depois não se ouve mais; um conto cheio de bulha e fúria, dito por um louco, significando nada.” (Macbeth, em Macbeth)
“Delírio! O meu pulso, como o seu, marca o tempo calmamente, e soa música saudável. Não é loucura o que eu proferi; é só me pôr à prova que repito, palavra por palavra, aquilo que a loucura embolaria. Mãe, pela graça divina, não passa em tua alma esse enganoso ungüento de que não é o teu delito que fala, mas a minha demência. Isso é apenas uma pele fina cobrindo tua alma gangrenada, enquanto a pútrida corrupção, em infecção oculta, corrói tudo por dentro. Confessa-te ao céu; arrepende-te do que se passou e evita o que há de vir; não joga estrume sobre ervas daninhas que elas crescem ainda com mais força. Perdoa-me por minha virtude: É! Na velhacaria destes tempos flácidos, a virtude tem que pedir perdão ao vício; sim, curvar-se e bajulá-lo pra que ele permita que ela o beneficie.” (Hamlet, em Hamlet)
“Em tempos de paz, nada fica melhor em um homem que a humildade e uma modesta calma. Mas, quando a guerra vem trovejar em nossos ouvidos, então imitem a ação do tigre: tencionem os músculos, evoquem todo o seu sangue, disfarcem sua natureza simpática com uma raiva cruel, dura. Depois, emprestem ao olhar um aspecto pavoroso, permitam-se ter os olhos esbugalhados; que, para enxergar, eles avancem nas órbitas, como canhões de bronze. Deixem as sobrancelhas tomarem conta do semblante: o cenho franzido sobre os olhos de modo tão temerário quanto um penhasco debruçado sobre o mar selvagem, e este lhe corroendo a base com a energia devastadora das águas.” (Rei, em Henrique V)
“Embora os altos crimes por eles perpetrados tenham me deixado em carne viva, ainda assim tomo o partido de minha razão, porquanto mais nobre, contra minha fúria. A ação mostra-se mais rara na virtude que na vingança. Em sendo eles penitentes, a única intenção de meu propósito agora pára de somar rugas à minha fronte.” (Próspero, em A Tempestade)
“Mas acontece que tal homem não existe, porque, meu irmão, os homens sabem aconselhar e consolar quando a dor é aquela que eles próprios não sentem. [...] Claro, claro, é obrigação de todo homem pedir paciência àqueles que se contorcem sob o peso da tristeza, mas não existe em homem algum nem a virtude nem a capacidade de ser tão moral assim quando é ele quem tem de suportar o mesmo fardo. Portanto, não me dês conselhos; meu desalento grita mais alto que tuas censuras.” (Leonato, em Muito Barulho por Nada)
“Apenas, meu bom amo, por mais que admiremos essa virtude, essa disciplina moral, rogo-lhe não nos tornemos estóicos ou insensíveis. Nem tão devotos da ética de Aristóteles a ponto de achar Ovídio desprezível. Apóie a lógica nos seus conhecimentos do mundo e pratique a retórica na conversa usual; inspire-se na música e na poesia e não tome da matemática e da metafísica mais do que o estômago pode suportar; o que não dá prazer não dá proveito. Em resumo, senhor, estude apenas o que lhe agradar.” (Trânio, em A Megera Domada)
Shakespeare muito me agrada. Espero que agrade ao leitor também…
Rodrigo Constantino, na Revista Veja