CULTURA, do Deutsche Welle
Obra de Max Weber mantém atualidade, nos 150 anos do sociólogo
Em 21 de abril de 1864, nasceu o conceituado autor de "A ética protestante e o espírito do capitalismo". Suas ideias encontram interesse em emergentes como o Brasil e são aplicadas em certas regiões, diz especialista.
A obra de Max Weber é atualmente reconhecida por representantes de diferentes facções e tendências na ciência e política. O sociólogo nascido em 21 de abril de 1864 em Erfurt, Turíngia, ocupou-se de conceitos como objetividade e liberdade de valores, burocracia e carisma. Até hoje, suas teorias têm grande influência na área das ciências sociais.
Entre os escritos weberianos, um dos mais importantes é A ética protestante e o espírito do capitalismo, que descreve a relação íntima entre o protestantismo e os primórdios da industrialização e do capitalismo moderno a Europa Ocidental. Seu Economia e sociedade é um dos clássicos mais significativos da sociologia.
Por ocasião dos 150 anos do nascimento do autor, a DW entrevistou Edith Hanke, editora científica e responsável pelas obras completas de Max Weber publicadas pela Academia Bávara de Ciências. Entre outros focos de pesquisa, Hanke se dedica à recepção dos escritos do sociólogo alemão morto em 1920, em Munique.
DW: Max Weber nasceu há 150 anos. Quão intensa é a pesquisa sobre ele hoje em dia?
Edith Hanke: Nós vivemos um momento de grande interesse nele, também na Alemanha – naturalmente, devido ao jubileu –, por exemplo, em artigos na mídia. No entanto, quando estou no exterior, noto um interesse mais forte, em parte. Na semana passada, estive em Paris com pesquisadores franceses de Max Weber. Lá, ele faz parte do currículo do ensino médio. Quer dizer, eles também têm um conhecimento weberiano muito mais amplo – coisa que, na Alemanha, continua restrita a pequenos círculos acadêmicos.
Por que ocorre isso na Alemanha?
Eu acho que nós não estamos bem conscientes da grandeza de Max Weber. Ele é realmente um "best-seller de exportação" para o exterior, no que concerne o mundo intelectual e acadêmico. A maioria dos alemães não sabe disso.
Em que países o interesse por Max Weber é especialmente grande?
É interessante: nos últimos tempos a recepção de Max Weber é especialmente intensa nos assim chamados países emergentes, sobretudo no Brasil, México, China e na Turquia.
Por que especificamente nesses países?
Minha explicação é que sociedades que se encontram num processo radical de transformação econômica, política ou social, recorrem a Weber para poder explicar essa mudança. Muitas vezes é uma classe intelectual que conhece e cultiva essa fonte, procurando analisar a transformação segundo as categorias weberianas.
Geralmente se trata da transição de sociedades agrárias, pré-industriais, para sociedades industrializadas. Trata-se, justamente, de muito mais do que apenas a mudança dos processos de produção: há igualmente – e isso também é uma visão de Weber – muita mudança mental envolvida. Isso pode ter efeitos sociais, é claro, mas também políticos: as pessoas passam a ter mais participação política. São processos bem fundamentais, e a minha impressão é que nesse ponto Weber é muito importante.
A obra weberiana não abarca apenas as ciências sociais, mas também a ciência econômica, histórica, cultural e política. Ocorre uma recepção da totalidade dessa obra, ou ela está restrita a uma área principal?
Na maior parte dos casos, fala-se de A ética protestante e o espírito do capitalismo, que Max Weber escreveu em 1904-1905. Nele, ele procura explicar o nascimento do capitalismo a partir de características bem específicas dos protestantes rigorosos, e como a atitude deles fomentou a ascensão do capitalismo. Esse texto tem sempre um papel central na recepção weberiana. Também importante é Economia e sociedade, uma obra muito extensa, considerada escrito central da sociologia.
Fora isso, depende dos países em questão. A Itália ou a Espanha, por exemplo, abordam Weber mais a partir das categorias que ele estabelece. Mas os escritos políticos também despertam periodicamente interesse. É curioso examinar quais países se conectam mais fortemente com quais obras weberianas: é algo que está relacionado às distintas características culturais nacionais.
A recepção da obra de Max Weber também tem aplicação concreta?
Há um exemplo bem interessante, numa região da Anatólia Central, na Turquia: lá se fala, de fato, de um "calvinismo islâmico". É uma região economicamente muito bem sucedida nos últimos anos, que adotou o conceito weberiano de ética trabalhista protestante. Eles se reportam explicitamente a Weber. Lá há principalmente pequenas e médias empresas. Também o modelo burguês da autogestão – que tem um papel grande em Weber – é lá aplicado aos lucros econômicos. Com eles são financiadas escolas ou concedidas bolsas de estudos, por exemplo. Os cidadãos tomam a vida nas próprias mãos, assim libertando-se um pouco do governo central em Ancara.
Esse é um exemplo em que a obra weberiana serviu de modelo para determinada forma de ação social. Nesse caso, porém, a obra dele também foi combinada com uma cultura totalmente diferente, de uma região totalmente outra.