Assim como a indústria do vestuário que a cada estação impõe novidades tipo ‘novo-do-mesmo’, todo o resto é confinado nesse ciclo vicioso, necessário para que o comércio e as vendas se processem.
Há aqui uma certa lógica que não deve ser desprezada. Ao impor essas “novidades” ao mercado, a economia se movimenta, se oxigena. Explico: a indústria da ‘novidade’ faz com que o governo arrecade tributos, com que empregos e oportunidades sejam gerados (ou pelo menos ocorrem menos demissões) e a vida seja tocada, levada, vivida, como se todos estivessem, de modo satisfatório, dando conta de suas responsabilidades.
No mundo moderno, o conhecimento é um valor econômico inconteste, um valor que faz reluzir e cintilar o mercado. E a educação – perdoem-me os ‘iluminados’ - um ramo específico da economia que movimenta riquezas em todos os rincões do planeta.
Máquinas, equipamentos, softwares, instalações, processos, qualidade e capital humano, a educação é um todo à parte. E também – como o restante dos setores econômicos – está sujeita às mazelas da desesperada busca pelo novo. Ocorre que, na maior parte das vezes, toma como revolucionário o que não passa de efêmera inovação; compra como substância o que não passa de reles e fugaz maquilagem.
Um botox aqui, um lifting ali, um peelings acolá e eis que estão todos satisfeitos, exuberantes contentando-se com o ‘novo-do-mesmo’, com o velho repaginado.
Assim tem ocorrido na educação. E o ensino não foge à regra. A cada início de ano letivo os educadores são bombardeados por novas teorias, novas tecnologias, novas metodologias, novas pedagogias, engenhosamente concebidas no afã de conduzir ao mais inovador, ao mais revolucionário, à redenção e à sublimação. Poucos se dão conta de que o ‘modernoso’ não passa de imposição do mercado, sobretudo o editorial.
É curioso observar que países que deram grandes saltos no setor da educação como Irlanda e Austrália, utilizam com costumeira freqüência as velhas e eficazes formas de ensino, o conhecido arroz-com-feijão.
Nos países que apostaram na educação e que agora colhem os frutos do investimento, os professores preocupam-se em dominar os assuntos e em aprender a ensinar. Dominar os assuntos e ensinar com eficácia. É simples assim. Nenhum mistério, nada de poção mágica ou tecnicismos revolucionários. Ensinam a calcular, a ler, escrever, interpretar... nada de discutir o sexo dos anjos ou desvendar a função social da existência. O segredo não é diáfano, é cristalino e transparente: reside em dominar os conteúdos pedagógicos e adquirir a capacidade de externar, transmitir com eficácia o conhecimento.
Para fazer a travessia não é necessário nada que se assemelhe às parafernálias contemporâneas e às teorias ditas revolucionárias, de enésima geração: na Irlanda e na Austrália as salas de aula são convencionais, o rigor e a disciplina são observados – portanto, democracia vale, mas democratismo, nem pensar! – avaliações e feedback são efetuados com habitual freqüência, o que mantêm professores e alunos sempre plugados, antenados. Alunos aprendem, sentem-se integrados, os pais ficam satisfeitos, felizes por testemunharem o crescimento dos filhos. Professores estudam, aprendem a transmitir conhecimento, ensinam com maestria, sentem-se recompensados, são valorizados... a auto-estima de todos os que participam do processo ensino-aprendizagem vai parar lá em cima.
Pode se surpreender meu amigo; ensinar e aprender é simples assim. Mesmo! Fuja da armadilha de buscar o novo pelo novo. Os que adoram reinventar a roda devem se livrar do “complexo de vira-lata” a que se referia o grande dramaturgo Nelson Rodrigues. O resto é conversa fiada.