terça-feira, 30 de setembro de 2014

Sustentabilidade marca nova agenda de desenvolvimento da ONU


O planejamento estratégico da ONU entra na reta final. No fim de 2015, as Nações Unidas pretendem aprovar as metas que substituirão Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
 

Da Deutsche Welle

Um mundo onde todas as pessoas vivam bem e onde o meio ambiente possa se recuperar da destruição causada pela industrialização e superpopulação: 17 objetivos de desenvolvimento sustentável devem preparar o caminho para que isso se torne realidade. Em 2015 termina o prazo para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), e eles deverão ser substituídos pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

"Para os ODS, aprendemos com os ODMs. Estes incluem as metas não atingidas por aqueles", assinala Paul Ladd, que lidera a equipe do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para a agenda de desenvolvimento pós-2015. "Os objetivos de desenvolvimento sustentável são, no entanto, mais amplos, para que façam frente aos novos desafios."

Problemas globais, soluções globais

 
Prostesto na Austrália antes da cúpula do clima da ONU: preocupação global

Os 17 novos objetivos, que um grupo de trabalho da ONU vai apresentar em Nova York, devem comprometer os países industrializados a um compromisso com a sustentabilidade. Destruição ambiental, mudanças climáticas, crescente desigualdade social e escassez de recursos são problemas globais, que só podem ser resolvidos em nível mundial.

"A percepção de que tudo é interdependente e de que, finalmente, as causas estruturais da pobreza devem ser abordadas ficou claro, acredito, para todos atualmente", diz Tobias Hauschild, especialista em serviços sociais básicos e desenvolvimento no escritório da organização Oxfam na Alemanha.

Ele saúda a inclusão dos países industrializados, mas adverte contra um otimismo prematuro, já que as metas serão adotadas somente no próximo ano em sua versão final. "A questão é saber que obrigações para os Estados advêm da nova agenda, e até que ponto os países estarão dispostos a serem controlados pelas Nações Unidas", avalia Hauschild.

Dogma do crescimento econômico
Também Bernd Bornhorst, presidente da Venro, a união das ONGs voltadas para a política de desenvolvimento na Alemanha, afirma ver muitos pontos positivos – sobretudo a exigência central do combate à miséria e a institucionalização da proteção climática e ambiental. Ao mesmo tempo, ele também diz ver fraquezas básicas.

Por um lado, porque muitos dos objetivos são formulados de forma vaga no esboço atual. Por outro, porque eles ainda se baseiam em conceitos antigos. "O que continuamos a criticar é, por exemplo, que toda a lógica está fortemente imbuída de uma grande ênfase no crescimento econômico, como se esse fosse, por assim dizer, a única condição para o desenvolvimento", comenta Bornhorst. Uma razão para ceticismo, diz o ativista. "Temos vivenciado que crescimento por si só não é suficiente, podendo até mesmo elevar a injustiça", afirma.

Desigualdade global

 
Desigualdade social cresce no mundo todo

No atual esboço, o décimo objetivo se dirige explicitamente contra a crescente desigualdade, não somente entre países ricos e pobres, mas também dentro dos países. "Politicamente, esse foi um tema muito controverso, porque a desigualdade, aparentemente, parece ser parte integrante de um sistema de economia de mercado", destaca Ladd.

Hauschild classifica o décimo objetivo como "muito progressista", fazendo alusão às pesquisas da Oxfam que comprovam a crescente desigualdade social. "Se as 85 pessoas mais ricas do planeta ganham tanto quanto 3,5 bilhões de pessoas, ou seja, a metade da população mundial, então é preciso abordar a questão da distribuição de riqueza."

Participação da sociedade civil
Outra novidade é que não somente os governos, mas também cidadãos e grupos de interesse no mundo todo puderam participar da elaboração dos objetivos.

A participação da sociedade civil não termina, no entanto, na definição da agenda. Ele continua sendo necessária para a implementação posterior dos objetivos, assinala Bornhorst. "As questões centrais que ali se encontram para debate, ou seja, modos de produção, padrões de consumo, precisam penetrar ainda mais na sociedade. Caso contrário, não existirão maiorias para isso, e nada vai mudar em nível individual."

Inicialmente, no entanto, o decisivo será, segundo Bornhorst, que os objetivos a serem aprovados no próximo ano também nomeiem compromissos concretos, para que "seja possível, posteriormente, também acompanhar, medir e contar se aquilo que foi prometido também foi cumprido."

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Um escritor na prisão perpétua

Ex-pistoleiro da máfia siciliana, preso há 23 anos, apresenta na cadeia um livro sobre sua vida escrito junto com o jornalista que relatava seus crimes. Romance recebeu o prêmio Sciascia

Por Pablo Ordaz, no El País


Giuseppe Grassonelli, à direita, segura o prêmio. Junto a ele, Carmelo Sardo. / Daniele Pace

Os dois são da Sicília, da mesma aldeia, quase da mesma idade, mas não haviam chegado a se conhecer quando, 25 anos atrás, um deles, Giuseppe Grassonelli, se transformou em um pistoleiro envolvido numa feroz guerra de máfias, enquanto o outro, Carmelo Sardo, fazia suas primeiras reportagens como jornalista policial em uma televisão local. Sempre que Grassonelli – que naquela sangrenta época se escondia sob o nome de Antonio Brasso – cometia um assassinato, costumava se sentar diante da TV para comprovar que não havia errado nem o tiro nem a identidade da vítima. E era o jovem Sardo – da mesma aldeia, quase da mesma idade – quem narrava os fatos diretamente do local do crime. Agora eles escreveram um livro juntos, Malerba (“erva daninha”, publicado na Itália pela Mondadori), vencedor, por votação popular, do último prêmio Leonardo Sciascia de romance.

Carmelo Sardo continua sendo jornalista. Giuseppe Grassonelli foi preso e condenado à prisão perpétua. Passou 23 de seus 49 anos de vida encarcerado. “De vida, não”, ressaltava ontem na penitenciária de segurança máxima de Sulmona, uma cidade de 25.000 habitantes na região dos Abruzos. “Na prisão não se vive, só se existe. A vida é outra coisa. Eu não posso devolver a vida àqueles de quem a tirei. No máximo estou lhes devolvendo o tributo da morte branca que é a prisão perpétua. A vida sem existência das plantas.”
Grassonelli já não é o “criminoso bárbaro” – segundo a sua própria definição –que em meados de 1986, com apenas 20 anos, decidiu participar a tiros de uma guerra entre famílias da Cosa Nostra. Seu avô, seu tio e seu melhor amigo foram aniquilados. Ele estava marcado para ser o seguinte e, de fato, ficou ferido em uma emboscada, mas a polícia chegou a tempo de trocar a sua morte por uma vida entre grades. Assim que foi detido, percebeu que “o Estado sempre ganha”, então renunciou à sua defesa e confessou sua culpa, mas se negou a se arrepender – “naquela Sicília todos fomos vítimas”– e a colaborar com a lei, o que lhe acarretou o regime carcerário mais duro: 22 horas de isolamento por dia.

Grassonelli escreveu a obra junto com o repórter que noticiava seus crimes na televisão

Grassonelli, até então quase analfabeto, se dedicou a estudar e se formou em Letras. Um dia, o professor Giuseppe Ferraro, de Nápoles, foi visitá-lo e lhe disse: “Os crimes ficam, mas as pessoas mudam. Quando escrevemos, falamos com nós mesmos. E o futuro é o relato que faremos no passado do nosso presente. Escreva a sua história”. Foi então que Grassonelli, novamente sentado diante da TV, se lembrou daquele rapaz siciliano que contava seus crimes em 1986. Chamou-o, contou a vida e lhe pediu – durante duas horas nas quais não largou das suas mãos – que o ajudasse a escrever tudo.
Daquele garoto travesso que seus pais já chamavam de Malerba e enviaram à Alemanha na esperança de driblar o destino ao homem preso de hoje em dia, sem esquecer nenhuma vírgula do chefe sanguinário. O resultado é um livro que, graças a uma permissão do Ministério de Justiça, Grassonelli e Sardo puderam apresentar ontem na prisão de segurança máxima. Como testemunhas, alguns dos 500 detentos – 170 cumprindo pena de prisão perpétua, e os demais com longas sentenças – e jovens de um colégio próximo: “Antes de vocês nascerem, eu já estava preso. Cuidem da sua liberdade. Aqui só se ouvem portas que se abrem e se fecham”.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Playing For Change - Chanda Mama


Queen lançará álbum com dueto inédito de Fred Mercury e Michael Jackson


EFE | 
No próximo da 11 de novembro, a banda Queen lançará o álbum "Queen Forever" com direito a três faixas inéditas, incluindo um dueto do ex-vocalista do grupo, Freddie Mercury junto Michael Jackson, além dos clássicos da banda.
Entre as canções do novo CD estão: "There Must Be More to Life Than This", com produção de William Orbit; "Let Me in Your Heart Again", que pertence às sessões de gravação do disco "The Works", e "Love Kills", primeiro sucesso solo de Mercury, composto em parceria com Giorgio Moroder, desta vez na versão balada.
Lançamento de álbum contará com música inédita de Freddie Mercury em dueto com Michael Jackson. EFE/Arquivo
Lançamento de álbum contará com música inédita de Freddie Mercury em dueto com Michael Jackson. EFE/Arquivo
De acordo com a gravadora Universal Music, o lançamento conta com a direção de Brian May e Roger Taylor, que pretendem transformar o projeto na "coleção definitiva das canções de amor de toda a vida do Queen". O disco estará disponível nos formatos: CD (com 20 faixas); CD duplo (com 36 músicas e um libreto) e em formato digital.
As faixas vão desde o sucesso mais antigo da banda, "Nevermore", de 1974, até "Too Much Love Will Kill You", 1995, entre outros grandes ícones como "Crazy Little Thing Called Love", "Somebody to Love", "These Are the Days of Our Lives" e "Las Palabras de Amor", na qual Mercury cantou algumas frases em espanhol.
Freddie morreu no dia 5 de setembro de 1946 devido a uma broncopneumonia agravada pela aids e foi considerado um dos melhores cantores de rock de todos os tempos.
A banda gravou 15 álbuns de estúdio, que venderam mais de 300 milhões de cópias, com recordes musicais incluindo "Greatest Hits" (1981), sua primeira coletânea que continua sendo o álbum mais vendido da história do Reino Unido.
Michael Jackson, "o rei do pop", morreu no dia 25 de junho de 2009, vítima de uma parada cardiorrespiratória. O disco "Xscape", divulgado ainda este ano com material inédito recuperado de seus arquivos, se tornou o número 1 do mundo e de maior sucesso comercial em 2014. EFE

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Get Up Stand Up | Playing For Change | Song Around The World



Brasileira que foi empregada quando criança lidera empresa social em Londres


O trabalho de Rosa Gonçalves como empregada doméstica em Santos (SP) no fim dos anos 70 era embalado pelos hits que saíam de um radinho de pilha, apoiado na janela da cozinha.
Por Mariana Schreiber, na BBC 

Um dia, perguntou para a patroa o que significava "She's my girl", nome da música de Morris Albert que fazia parte da trilha sonora da novela Anjo Mau, em 1976.

'Quando eu cheguei aqui (Londres) eu chorei por seis meses', diz Rosa
"Ela é minha namorada", foi a resposta.
"Ah, um dia eu vou aprender a falar inglês", disse Rosa.
"Imagina, inglês é para gente estudada. Você nunca vai aprender inglês", cortou a patroa.
Rosa solta um gargalhada ao contar a história, em sua casa em Londres. Na cidade onde mora desde 1978, ela virou liderança comunitária e empresária social.
"Olha onde eu vim parar. E falo inglês melhor que muitos no Brasil hoje em dia".
O relato de sua vida foi registrado neste ano pelo CliqueBrasiliance, um projeto de valorização da história da comunidade brasileira em Londres que colheu depoimentos de onze pessoas que emigraram do Brasil entre os anos 60 e 80.

Entre a roça e a cozinha

Rosa cresceu em Amparo, no interior de São Paulo. Ela conta que aos seis anos foi treinada para ser empregada. "Porque até aí eu sabia fazer o trabalho em casa, mas não na casa dos outros", diz.
Nesse dia, cozinhou e serviu seu primeiro almoço - matou uma galinha, a cortou em pedaços e refogou com chuchu.
Depois disso, passou anos se revezando entre o trabalho na roça e como doméstica. Aos 18, foi trabalhar para uma família em Santos. A jornada era quase ininterrupta – havia um dia de folga, às vezes apenas uma tarde, por semana.
Em uma ocasião, as crianças a chamaram de "King Kong", imitando gestos de macaco. "Quando me levantei para sair correndo atrás delas, foram chamar um tio, que quis me bater", conta ela.
BBC
Rosa se mudou para Londres aos 21 anos
Cerca de dois anos depois, em 1978, ela foi convidada por outra família a se mudar para Londres, onde trabalharia como empregada por dois anos. Mesmo diante do desafio de emigrar para um país totalmente diferente e distante, Rosa achou que era a chance de "andar para a frente".
O início foi muito difícil, mas ela não teve vontade de voltar.
"Quando eu cheguei aqui eu chorei por seis meses. Uma dor tão grande. Escrevia carta todos os dias. Não mandava todos os dias, então as cartas iam todas numeradas. Mas eu achava que se eu voltasse a vida podia ser pior", contou.

Ilegal

Depois de um ano, Rosa deixou o emprego de doméstica e passou a ser camareira em um hotel, onde ganhava 35 libras por semana para trabalhar de 7h às 14h, todos os dias da semana. De tarde, fazia diárias em pousadas por 5 libras. Atualizado pela inflação, isso seria o equivalente a uma renda semanal de cerca de 225 libras hoje ou R$ 850.
Seu visto de dois anos venceu e a brasileira continuou ilegalmente em Londres. Quando se recusou a se relacionar com um homem, amigo do dono de uma pousada onde alugava um quarto, foi denunciada para a imigração.
Rosa passou a tarde na cela de uma delegacia de polícia, mas acabou sendo liberada. Era início dos anos 80, época de protestos violentos em Brixton, bairro de forte migração afrocaribenha no sul de Londres.
A tensão racial era alta no período e havia problemas mais sérios para a polícia se preocupar, conta. Depois disso, conseguiu regularizar sua situação.

Líder comunitária

Rosa passou anos morando em quartinhos alugados até que, em 1984, se mudou para um apartamento em Ferrier Estate, uma espécie de conjunto habitacional em Greenwich, no sudoeste de Londres, com prédios de concreto onde viviam cerca de 5 mil pessoas.
Ela gostava do local e de sua diversidade – havia pessoas dos mais variados locais do mundo, ela lembra. Mas Ferrier Estate era considerado decadente e perigoso e o governo local decidiu demoli-lo para dar lugar a um mega empreendimento imobiliário.
Controverso, o processo se arrastou por mais de um década. A ideia começou a ser discutida em 1999, depois de alguns anos começaram as remoções e apenas em 2010 teve início o processo de demolição. O novo condomínio ainda está sendo erguido.
A perspectiva de demolição de sua casa levou Rosa a participar das negociações sobre como as pessoas seriam removidas, para onde seriam levadas e quais seriam seus direitos. Acabou se tornando uma liderança do bairro.
BBC
Rosa com dois dos seus três filhos

Empresária social

Hoje, aos 57 anos, ela mora em outra casa em Greenwich com seus três filhos, frutos de dois casamentos, e dirige uma empresa social, o Guarida Community Café.
Atualmente, a companhia está em fase de captação de recursos para abrir um café na comunidade em janeiro, num espaço cedido pelo governo local. O objetivo é oferecer treinamento e trabalho para jovens de Greenwich, tanto na área de gestão e administração como na cozinha e no atendimento ao público.
Mais para frente, Rosa também quer fazer um intercâmbio com comunidades pobres brasileiras - levar jovens que participam do Guarida Community Café para morar e trabalhar numa favela do Brasil e trazer jovens dessa comunidade para conhecer o projeto em Greenwich.
Ela acredita que essa será uma experiência importante para que jovens das classes menos favorecidas de Londres valorizem o que têm.
"Eles têm tudo, mas acham que são coitadinhos. O intercâmbio vai mostrar que há outros jovens como eles, que vivem realidades mais difíceis. A experiência servirá para que, em vez de ficar se lamentando, cresçam", acredita.
O projeto é uma forma também de se reconectar com o país. Há 36 anos em Londres, ela só foi voltou três vezes ao Brasil. O plano é comemorar seus 60 anos lá. "Morro de saudades", suspira.

Brasiliance

O projeto Brasiliance foi financiado com recursos da loteria britânica destinados à preservação da história de diferentes comunidades na Grã-Bretanha.
Os depoimentos dos onze brasileiros ficarão disponíveis no Instituto de Estudos Latino Americanos (The Institute of Latin American Studies).
Eles serviram de inspiração para a peça Kitchen, da brasileira Gaël Le Cornec, uma das pessoas que foi treinada para colher os depoimentos. O espetáculo deve entrar em cartaz em Londres em maio de 2015.
"História oral é uma coisa fundamental. É uma forma de ver a história de outra forma, pelo que as pessoas viveram e não só pelos livros", acredita Gael.
Os motivos que trouxeram os brasileiros entrevistados para Londres foram variados - alguns vieram estudar, outros trabalhar e parte emigrou por causa da ditadura militar (1964-1985).
Nenhum tinha planos de se instalar definitivamente, mas acabaram ficando. "Eu vi que essa pessoas se integraram na comunidade inglesa ou com a comunidade local em que eles vivem", conta.

O projeto Brasiliance deu origem também a um livro e a um DVD infantis que foram distribuídos em escolas de Londres.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Guantanamera | Playing For Change | Song Around The World



O sucesso do bocejo no lugar do escândalo

Taylor Swift e Mark Zuckerberg lideram uma geração de famosos alérgica à provocação e com ‘hobbies’ saudáveis

Por Xavi Sancho, no El País

Em outubro de 2003, Oprah Winfreydecidiu dedicar um programa à supostamente desenfreada vida sexual dos adolescentes. O título era:Será que o seu filho leva uma vida dupla? Entre os especialistas convidados, estava uma tal Michelle Bunford, jornalista especializada nos jovens e nas coisas que eles fazem, que falou a uma plateia atônita sobre a popularidade das rainbow partiesentre os cinquenta adolescentes que tinha entrevistado recentemente. Nesses eventos, cada garota pintava os lábios de uma cor diferente e, em seguida, praticava felação com seus amigos, deixando em seus membros uma simpática gama cromática que lembrava as cores do arco-íris. Fez-se um enorme silêncio nos lares norte-americanos.
Em 31 de agosto, o jornal britânicoDaily Telegraph publicou um artigoassinado pela jornalista Rachael Dove. Aos 24 anos, a jovem afirmava ter ressaca com duas taças de vinho e preferir ficar em casa tricotando a ir para a balada. Confessava ter um namorado que fazia pão e celebrava a vida anódina de jovens como a cantora neozelandesa Lorde (“quando vou a uma festa, penso: o que significa isto?”), Taylor Swift, ex-namorada de qualquer um que já tenha segurado uma guitarra nos Estados Unidos desde 1998 (“gosto de usar roupas vintage, me fazem sentir como uma dona de casa dos anos cinquenta, e, por algum motivo, eu adoro”), ou Ed Sheeran, o bardo britânico com um aspecto tão anódino que não seria aceito nem como atendente na GAP (“se tivesse uma filha, eu não gostaria fizessetwerking; ouvi Wrecking Ball – um single de Miley Cyrus – a música é boa, mas o vídeo te distrai muito”). Seu artigo nos informava que 20 são os novos 40 e rotulava essa nova geração de jovens saudáveis e perfeitamente prontos para se tornar avós como Geração Bocejo (em inglês, Generation Yawn).
Entre as celebridades citadas como modelos de conduta estavam, além das já mencionadas, as atrizes Blake Lively e Jessica Alba, o enxadrista Magnus Carlsen, o tenista Andy Murray, a blogueira adolescente e permanentemente animada com a ideia de um novo sabor de cupcakeTavi Gevinson, e o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg. Todos desenvolvem, fora do seu campo profissional, atividades tão chatas que nem merecem ser listadas. As razões para o advento dessa Geração Bocejo vão desde a paixão por hábitos saudáveis (no Reino Unido, 31 bares fecham a cada semana e, na Espanha, a percentagem de jovens que consomem drogas pela primeira vez caiu 6% nos últimos cinco anos) até a aceitação de que já não existem tabus a quebrar, passando pela crise econômica (é mais caro sair para beber do que sair para pedalar) ou a reação natural a atitudes dos pais. “Tive uma infância caótica. Acho que essa é a minha maneira de me rebelar”, confessou Jazz Mellor, filha de Joe Strummer da banda punk The Clash e fundadora de um clube social no leste de Londres que promove atividades como ponto cruz ou conserto de bicicleta. Entre seus membros convivem adolescentes, gente de vinte e poucos anos e muitos quarentões.
 duas maneiras de ver a juventude: o “twerking” ou uma neutralidade suíça
Michael Rovner, nova-iorquino de 42 anos, figura chave para entender a cena alternativa da cidade na década de noventa e atualmente diretor de uma agência de marketing, declarou no ano passado ao The New York Observer: “Quando era jovem, trabalhei em um café onde eram feitas leituras alternativas. Vinham velhotes de 40 anos, olhávamos para eles com desconfiança e fazíamos tudo para sentirem que estavam arruinando a festa. Agora posso ir a um concerto de Sky Ferreira e o pior que um jovem pode fazer é me chamar de senhor”. O artigo defendia a recuperação do gap entre gerações. Mas a realidade parece nos mostrar que, mais de um abismo intransponível entre pais que ouvem Fleetwood Mac e Taylor Swift e filhos que escutam Taylor Swift e Fleetwood Mac, o que existe são duas formas claramente opostas de vender juventude. Por um lado, o twerking de Miley Cyrus. Por outro, a neutralidade quase suíça de Ed Sheeran e outros membros do seu exército do bocejo. Na última edição do MTV VMA, a filha de Billy Ray Cyrus chamou o inglês de “idiota”.
“O público está sempre mais interessado em tudo o que tem a ver com sexo. Por isso, qualquer reportagem sobre os hábitos sexuais dos jovens acaba parecendo realmente alarmante, porque a próxima geração é o futuro desta sociedade. Se os jovens estão em perigo, então o futuro parece aterrorizante. Como a mídia poderia resistir a publicar histórias perturbadoras?”. É assim que Kathleen Bogle, autora de Kids Gone Wild (um livro sobre os mitos midiáticos recentes a respeito dos hábitos sexuais dos adolescentes), explica o fato de essa Geração Bocejo, apesar de ser tão ou mais relevante do que aquela que vem balançando o traseiro há uma década, só ter sido agrupada e embalada quando uma jovem jornalista britânica decidiu sair do armário brandindo um novelo de lã. “Tendemos a pensar que todos os jovens compartilham certos interesses, e isso é falso. O que acontece é que, após a apresentação de Miley no MTV Awards de 2013, os pais pensaram que ela era o exemplo de toda uma geração que tinha dado errado, conclusão à qual nunca chegariam vendo Swift. Mas a realidade é outra. Nos EUA os adolescentes são menos ativos sexualmente do que eram há 20 anos”, diz Bogle. De fato, as rainbow parties jamais existiram. Eram uma lenda urbana.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

La Bamba | Playing For Change | Song Around The World



O planeta explode...

Deutsche Welle

População mundial pode superar 12 bilhões no final do século

Estudo indica crescimento populacional bem acima do máximo de 9 bilhões estimados anteriormente. África deve quadruplicar número de habitantes até 2100.
Ao contrário das expectativas, a população mundial deve continuar crescendo pelo menos até o final deste século. Em 2100, a população da Terra pode chegar a 12,3 bilhões de pessoas, segundo um estudo da Universidade de Washington e da ONU divulgado nesta quinta-feira (18/09) na revista científica Science.
O prognóstico, feito com base na análise estatística de dados da ONU de 2012, indica um aumento de quase 2 bilhões de pessoas em relação a cálculos anteriores. Segundo o pesquisador Adrian Raftery, que participou do estudo, foi consenso nos últimos 20 anos que a população mundial – atualmente em 7,2 bilhões – chegaria até os 9 bilhões de pessoas e então se estabilizaria ou começaria a diminuir.
População deve quadruplicar na África
Mas a nova análise mostra que há uma probabilidade de 80% de a população global atingir um número entre 9,6 bilhões e 12,3 bilhões de pessoas em 2100. Para o diretor do estudo, Patrick Gerland, as elevadas taxas de natalidade na África são o principal responsável por esse impulso. A população africana deve quadruplicar até o final do século – a taxa atual é de cerca de 4,6 filhos por mulher.
Para chegar ao novo resultado, os pesquisadores usaram novos métodos de cálculos de probabilidade, além de incluir os indicadores recentes sobre o vírus da aids no sul da África. Dessa maneira, eles podem afirmar, com 95% de certeza, que em 2100 pelo menos 9 bilhões de pessoas habitarão a Terra.
Se o continente africano deve ter um crescimento exponencial, passando dos atuais 1 bilhão para 4 bilhões de habitantes, na Ásia, por exemplo, o pico de crescimento populacional deverá ser atingindo já na metade deste século.
"O rápido crescimento populacional em países com elevadas taxas de natalidade pode trazer uma série de desafios", escrevem os pesquisadores. Esse fenômeno pode causar impactos ambientais, nas condições de trabalho e contribuir para o aumento da pobreza, da taxa de mortalidade materna e infantil, além da criminalidade.
Menos trabalhadores para cada aposentado
O estudo aponta também, que em muitos países, a proporção entre trabalhadores e aposentados vai diminuir drasticamente. No Brasil, atualmente para cada aposentado há 8,6 trabalhadores, mas a proporção deve cair para 1,5 trabalhador por aposentado até o final do século.
Redução grande também é esperada nos Estados Unidos: dos atuais 4,6 trabalhadores por aposentado para 1,9 em 2100; na China, de 7,8 para 1,8; na Índia, de 10,9 para 2,3 e na Nigéria, de 15,8 para 5,4.

domingo, 21 de setembro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Redemption Song | Playing For Change


Cairo islâmico ganha brilho em sua rua mais espetacular


EFE | Cairo 

A rua de Al Moez do Cairo é mais do que uma via cheia de vitrines de joias, antiguidades e narguilés: trata-se de uma janela do rico legado histórico do bairro islâmico da cidade, que agora volta a brilhar com seu próprio jogo de luzes.

Embora não seja promovida ao nível das maravilhas como as Pirâmides e o tesouro de Tutancâmon, Al Moez é uma das vias antigas da cidade egípcia que melhor conserva sua essência, apesar do caos, do barulho e da poluição que a acompanham.

Rua Al Moez, no Cairo, é legado histórico do bairro islâmico da cidade. EFE
Rua Al Moez, no Cairo, é legado histórico do bairro islâmico da cidade. EFE


Os últimos trabalhos de iluminação e restauração, que custaram cerca de US$ 2,5 milhões e foram apresentados nesta semana, pretendem reabilitar a região e aumentar a atração turística durante a noite, disse à Agência Efe o secretário-geral do Conselho Superior de Antiguidades do Egito, Mustafa Amin.

"Colocamos luzes e as fixamos em lojas e casas que dão para a rua para que o povo não pense só em viver aqui ou ter um negócio, mas também entenda que é sua responsabilidade receber bem os estrangeiros", afirmou Amin.

Desta forma, disse, o visitante poderá apreciar a qualquer hora os elementos das fachadas e os monumentos no quilômetro de comprimento que tem a rua.
Seu nome completo, Al Moez Ledin Alá al Fatimi, corresponde ao do quarto califa fatímida e ao primeiro que governou o Egito no século X, fazendo do Cairo a capital de seus domínios.

Outros povos também deixaram sua marca: tal foi o caso da influência dos mamelucos (1250-1517) no palácio Barquq e no complexo de mausoléu e escola de Nasser Ibn Qalawon.

Além de mesquitas como a deslumbrante Al Hakim e a de Al Aqmar, no entorno existem construções singulares como a Casa Al Suheimi e os chamados complexos "sabil-kuttab" (fonte e escola, planejados para proporcionar água aos sedentos e educação religiosa aos "ignorantes").

Os arquitetos não desperdiçaram a chance de revestir suas obras com luxuosos mármores, azulejos, madeira e com metais como o cobre.

Até hoje existe a tradição dos artesãos que trabalham o cobre, que durante longo tempo foram a marca da rua.

Agora compartilham suas oficinas com joalherias, lojas de especiarias e objetos decorativos, entre outros.

"Há muitos tempo que trabalham em diferentes setores, mas eu me especializei nos metais antigos e no cobre", afirmou o dono de antiquário Ahmed Youssef, que herdou de seu pai a loja fundada há meio século.

Esses negócios, passados normalmente de geração em geração, sobrevivem apesar da queda do turismo e da deterioração que sofreu a região após a revolução que derrubou Hosni Mubarak do poder em 2011.

Moradores e trabalhadores como Walid Dardiri, vendedor de lâmpadas, lamentam que os veículos continuem passando pela rua de pedra, congestionando-a e incomodando os transeuntes.

"A rua deveria ser para passear, para os turistas; por isso queremos fechá-la para o trânsito", aponta Dardiri, que não esconde o seu apego ao bairro.

O vendedor de joias Mustafa Mohammed lembra com nostalgia dos dias nos quais - segundo disse - havia "silêncio" e não existia "tanta concorrência desleal" entre companheiros.

E, embora não tenha vivido nessa época, também se lembra de como no passado as portas da parte antiga se fechavam e só os moradores ficavam em seu interior.

Coroada no alto pelas portas de estilo medieval Al Futuh e Zuweila, a rua Al Moez inspira esse tipo de pensamentos e dá asas à imaginação sobre essa época complexa da história egípcia.

Os novos no lugar também ficam maravilhados sob o feitiço de suas luzes.

"É a primeira vez que a visito e me parece muito histórica e limpa, comparada com as demais ruas egípcias. Não sei por que, mas o ambiente é mágico e pacífico", destaca Ayah el Adi, um estudante de Alexandria com curiosidade pela vida do Cairo islâmico.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Sittin' On The Dock Of The Bay | Playing For Change


Projeto Playing for Change leva a música das ruas para o mundo

Deutsche Welle

Criado em 2005, o projeto Playing for Change lançou dois CDs com artistas de 30 países, criou sete escolas de música e deu origem a uma banda, que viaja em turnê mundial difundindo a ideia da integração pela música.

Congolenses Mermans Kenkosenki e Jason Tamba durante a gravação de CD

Inspirar, conectar e promover a paz através da música. Essa é a missão do projeto multimídia Playing for Change. Em 2005, o produtor musical Mark Johnson e sua equipe saíram pelo mundo afora filmando músicos de rua, que, sem estarem reunidos, gravaram uma versão de Stand by me.

A canção tornou-se um hit na internet, com mais de 30 mil acessos, e desde 2008 uma banda formada por integrantes do projeto viaja em turnê mundial. Na de 2011, ano em que o Playing for Change lança seu segundo CD, o grupo acaba de tocar para milhares de fãs no Marrocos, no Brasil, na Alemanha e na Espanha.

"Ir a Rudolstadt foi a realização de um sonho", disse Johnson sobre o festival TFF da pequena cidade alemã, em que o grupo se apresentou no último dia 3 de julho. A chuva torrencial não desanimou o público da banda, considerada pelo diretor do TFF, Bernhard Hanneken, “um dos grupos mais interessantes do festival, com sua música e conceito originais”. Milhares de fãs cantaram junto com os 12 músicos, de dez nacionalidades.

Antes disso, a banda já havia tocado para 15 mil pessoas em Rabat, no Marrocos, em maio, e subido três vezes nos palcos brasileiros em junho. Em São Paulo, o grupo multicultural apresentou-se no clube Bourbon Street, nome da famosa rua de Nova Orleans de onde vem Grandpa Elliot – a figura mais emblemática e o líder da banda.

"Foi engraçado colocá-lo num voo de dez horas e dizer a ele que estava em Bourbon Street novamente", diz Johnson. Com uma voz cheia de "alma", nas palavras do produtor, o gaitista e cantor cego anima as ruas da cidade do jazz há 60 anos.

A Playing for Change Band também se apresentou em Belo Horizonte e no Bourbon Festival de Paraty, onde 10 mil pessoas repetiam "fica comigo", traduzindo o título de Stand by me. "Foi incrível. Ritmo e música são indissociáveis da vida dos brasileiros, o melhor público para o qual já tocamos", declarou Johnson à Deutsche Welle.

Show em São Paulo: "Os brasileiros foram o melhor público para o qual já tocamos"

A ideia
Tudo começou quando Johnson estava caminhando pelas ruas de Santa Monica, na Califórnia, e ouviu a voz de Roger Ridley cantando o clássico de 1961 Stand by me. "Dei-me conta de que a melhor música que eu já havia ouvido estava no caminho para o estúdio e não dentro dele. E foi aí que decidi levar o estúdio até as pessoas", diz.

Johnson amadureceu a ideia com a cofundadora do projeto, Whitney Kroenke, e filmou Ridley tocando. Com a ajuda dos produtores Enzo Buono e Jonathan Walls e um fone de ouvido, ele transmitia, então, a gravação a músicos de rua que ia encontrando pelo mundo, os quais iam sendo adicionados à trilha.

Stand by me logo conseguiu mais de 30 mil acessos no YouTube e, a partir daí, o site do projeto foi visitado por usuários de 195 países. "Isso é quase o mundo todo", entusiasma-se Johnson. "Sem a internet, não conseguiríamos atingir o público que alcançamos."

Outros vídeos foram produzidos e, em 2009, o primeiro álbum do projeto foi lançado, incluindo, além de Stand by me – gravada em quatro continentes, com 35 músicos, entre eles o carioca Cesar Pope –, canções como One Love e Talkin' Bout a Revolution. A versão de War, no more trouble contou com a participação de Bono, vocalista do U2.

Em 2011, o projeto lança seu segundo álbum, PFC 2: Songs Around The World. Dessa vez, entre outros lugares, os produtores passaram pelo Rio de Janeiro e por Salvador, e o CD traz a cantora brasileira Sandra de Sá como convidada. A compilação inclui os clássicos Redemption Song, de Bob Marley, e Imagine, de John Lennon. Entre os dois álbuns, mais de 300 músicos, de quase 30 nacionalidades, envolveram-se no projeto.

A fundação
Ao viajar pelo mundo, Johnson e sua equipe perceberam que precisavam dar um retorno àquelas pessoas que haviam lhes mostrado sua música e sua cultura. Foi então que, em 2007, criaram a Fundação Playing for Change, com o objetivo de construir escolas de música e arte. Sete escolas – erguidas pela comunidade e para a comunidade – já foram inauguradas, quatro na África e três na Ásia. E, segundo Johnson, isso é só o começo.

O produtor Mark Johnson com morador de Kirina, Mali, onde o projeto construiu uma escola

A fundação, uma organização sem fins lucrativos, é mantida pela venda de CDs e ingressos para os concertos do projeto e também por indivíduos e instituições interessadas em apoiar as escolas. Para Johnson, a fundação é provavelmente a componente mais importante do Playing for Change. "É uma maneira de preservar e conectar culturas e tornar o mundo melhor para as próximas gerações", explica.

François Viguié – percussionista natural de Toulosse, França, e membro do projeto desde 2005 – cita o exemplo da escola de Tamale, em Gana. "As crianças não têm água nem eletricidade, mas agora têm a oportunidade de aprender música."

A banda
Depois de participar da gravação de Stand by me, Viguié é hoje um dos músicos que se apresenta em alguns dos shows da turnê mundial da banda Playing for Change. Criado em 2008, o grupo já realizou 75 shows. "Decidimos juntar todos aqueles músicos que se apaixonaram uns pelos outros, mas nunca haviam se encontrado", conta Johnson.

Além dos músicos convidados de cada cidade e do líder do grupo, Grandpa Elliot, participam desta turnê o holandês Clarence Bekker, Louis Mhlanga, do Zimbábue, Roberto Luti, da Itália, Titi Tsira, da África do Sul, e os congoleses Jason Tamba e Mermans Kankosenski – baterista e baixista que Johnson conheceu em Cape Town, África do Sul. "Quando Mark falou comigo sobre o projeto, fiquei tão contente. Era exatamente o que eu queria fazer", relata Kankosenski.

O percussionista francês François Viguié e o emblemático Grandpa Elliot

Com uma formação atual de 12 músicos, provenientes de dez países, a banda combina soul, blues e reggae, tocando as versões de canções conhecidas que aparecem nos dois CDs do projeto e composições originais, como Don't worry, do primeiro álbum. "É incrível todas essas culturas diferentes produzindo algo juntas", destaca o produtor Johnson.

Agora, entre 6 e 9 de julho, Viguié, Kankosenski, Grandpa Elliot e os demais músicos da grande "família global" apresentam-se na Espanha – em Barcelona, Valencia, Madri e Córdoba, onde encerram esta turnê. "Estamos tentando mostrar ao mundo que a música não é apenas entretenimento, mas uma linguagem universal que pode nos unir apesar de nossas diferenças", declara Viguié.

Autora: Luisa Frey
Revisão: Alexandre Schossler

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

War/No More Trouble | Playing for Change | Song Around The World


Fatih Akin tenta elaborar trauma do genocídio armênio em novo filme

Da Deutsche Welle

Durante a Primeira Guerra, centenas de milhares de armênios foram assassinados pelas forças otomanas. Em "The cut", estreado em Veneza, o cineasta turco-alemão toca fundo num tabu nacional da Turquia.


The cut (O corte), de Fatih Akin, foi estreado na mostra competitiva do Festival de Cinema de Veneza 2014 no último fim de semana: primeiro à imprensa internacional, em seguida a convidados dos setores da cultura, política e economia.

Na soirée de gala, a imagem das damas de vestido longo e cavalheiros de smoking em ambiente festivo não combinava, absolutamente, com o que se viu na tela, ao longo de duas horas. Pois a produção propõe um mergulho num capítulo profundamente obscuro da história turco-armênia.

Tendo como pano de fundo o genocídio de centenas de milhares de armênios durante a Primeira Guerra Mundial, perpetrado sob as ordens do Império Otomano, Akin conta a história de um pai armênio desesperado, à procura de suas duas filhas. A produção não poupa as cenas de crueldade, com claras indicações sobre a gana homicida dos soldados turcos.

Política antes da arte
Após a première em Veneza, as reações não foram exatamente entusiásticas. Mas, enquanto a imprensa especializada se mostrou predominantemente desapontada, houve ressonância positiva entre o público da apresentação de gala. Alguns espectadores se revelaram abalados pelas cenas mostradas.


Apesar do tema ser tabu, Fatih Akin está confiante com chances da produção na Turquia

Falando à DW, Fatih Akin afirmou que as primeiras reações dos profissionais da mídia turca foram positivas para ele. Ele sentiu forte entusiasmo por parte de certos colunistas, e estes "têm grande influência na Turquia", explica. "Eles não se ocupam tanto assim da cinematografia, não são críticos de filme no sentido clássico, mas sim colunistas políticos das mais diferentes alas."

O cineasta turco-alemão deixa claro que, para além da recepção da crítica, com base no valor estético de seu filme, o mais importante para ele é a temática tratada. Considerando-se que o genocídio dos armênios é tabu até hoje na Turquia, o otimismo de Akin surpreende: ele não tem dúvidas de que The cut será também exibido no país.

"O tom básico [entre os colunistas] é o mesmo: esse filme pode ser mostrado na Turquia sem reservas, ele precisa ser mostrado na Turquia", descreve o diretor. Isso o alegrou muito: "Meu maior sonho é que ele entre na programação regular dos cinemas da Turquia."

Tentativa de processar um trauma
Ao realizar The cut, Akin tinha duas grandes preocupações. "Para mim era importante que o espectador turco possa se identificar inteiramente com o protagonista, que, afinal, é armênio": essa era sua meta principal.

A segunda é "que um armênio que assista ao filme, naturalmente também se identifique com o herói armênio e aceite o filme", sobretudo sendo ele da autoria de alguém de origem turca. Os pais de Fatin Akin emigraram em meados da década de 1960 para a Alemanha, ele mesmo nasceu em Hamburgo, em 1973.

Cineasta Fatih Akin (centro) e equipe em Veneza

"O filme é a tentativa de processar um trauma", diz o cineasta, e filosofa: "o que fazemos, como indivíduos, quando temos um trauma? Vamos ao psiquiatra, nos deitamos no divã, fazemos uma análise e refletimos sobre o nosso trauma."

Com um pouco de sorte, a pessoa se liberta do trauma e consegue lidar melhor com ele. Seu filme, portanto, é a oferta a um amplo público para que trabalhe o trauma do genocídio dos armênios. "O que vale para o indivíduo, vale também para o coletivo", pontifica.

Após a apresentação de gala, alguns armênios na plateia enfatizaram como é importante que o tema tenha sido finalmente tratado. O ator Simon Abkarian, que participou da produção, comentou na coletiva de imprensa: "Este é o filme pelo qual nós, armênios, estávamos esperando."

Como levar o genocídio à tela?
Parte da crítica apontou falhas dramatúrgicas em The cut, acusando-o de não conseguir se decidir entre o drama histórico-político e o filme de gênero. Akin diz não concordar que se classifique seu trabalho apenas como um filme político sobre o assassinato em massa dos armênios.

"Na verdade, eu não sei o que é genocídio. Que gênero cinematográfico é esse? Que meios se deve usar? Será que um filme pode sequer fazer jus a algo assim?", indaga o diretor. E conclui: "quem só quiser saber algo sobre o acontecimento, é melhor que rode um documentário."

Ele narrou uma história que começa durante o genocídio, prossegue Akin, mas que também é "uma tragédia, uma aventura, um western, um drama, um épico". Essa foi sua intenção, desde o início. "Eu precisava contar uma história, universal, simples." Portanto decidiu conscientemente relatar sobre um destino individual, "da maneira mais cinematográfica e convencional possível".

Essa abordagem popular certamente ajuda The cut em seu lançamento na Alemanha. Na Turquia, independente de sua autoconfiança, Fatih Akin teria motivos para temer a oposição por parte dos nacionalistas. Pois ele já foi ameaçado de morte antes: ao anunciar uma produção sobre o escritor armênio assassinado Hrant Dink, projeto que acabou tendo que abandonar.

Tahar Rahim desempenha o papel principal em "The cut", o ferreiro armênio Nazaret Manoogian

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Stand By Me | Playing For Change | Song Around the World


A arqueologia como dano colateral

Da barbárie do califado à destruição dos grandes tesouros da Síria, o EL PAÍS percorre as últimas frentes de uma guerra silenciosa e recorrente contra a memória

Por Jacinto Antón no El País



Um rebelde cruza o velho mercado de Alepo, na Síria. / AFP

São tempos turbulentos para os vestígios do passado, especialmente noOriente Médio, berço da civilização. Sofrem as múmias, as antigas cidades mesopotâmicas, como Ebla, as mesquitas centenárias e os castelos dos cruzados – o estonteante Krak dos Cavaleiros, que fascinou Lawrence da Arábia, recebeu um tiro de canhão da artilharia síria – , e se inutilizam sítios arqueológicos que deveriam continuar dando frutos.
O patrimônio e a atividade arqueológica são as vítimas mais silenciosas da guerra. Os danos colaterais que sofrem são, em geral, os menos considerados. Tem sua lógica, sem dúvida: em conflitos bélicos, revoltas armadas e revoluções, o sofrimento e a morte de seres humanos deixam em segundo plano qualquer outra consideração; nenhum tesouro do passado vale tanto quanto uma vida humana. Dito isto, a destruição provocada pelas guerras em termos de cultura material é espantosa e empobrece a todos nós como espécie. Não é nada novo. A guerra, historicamente – embora às vezes tenha oferecido uma oportunidade paradoxal, como no caso da expedição de Bonaparte ao Egito, que praticamente iluminou a ciência da egiptologia – , não teve piedade do patrimônio ancestral: os monumentos, obras de arte e outros vestígios da antiguidade sempre sofreram de maneira dramática, como se o segundo cavaleiro do apocalipse, a guerra em seu cavalo vermelho, se deleitasse ao destruir a beleza e o conhecimento para impor sua terrível estética de armas, bandeiras e ensanguentados campos de batalha.
Recordemos eventos notáveis como o bombardeio do Partenon pela frota veneziana do almirante Morosini em 1687, que devastou o templo convertido em depósito de pólvora pelos turcos, ou a destruição com artilharia e foguetes dos grandes Budas de Bamiyan pelos talibãs em 2001, durante o longo conflito no Afeganistão.
A própria dinâmica da guerra muitas vezes leva a destruir ou danificar edifícios históricos, museus, obras e sítios arqueológicos. Raramente os militares modificam seus planos e ações por causa do patrimônio histórico. César não pensou nos danos que poderia causar à Biblioteca de Alexandria e à posteridade ao incendiar o porto. Nem os alemães entrincheirados ali, nem os Aliados, que a bombardearam em 1944 até arrasá-la, mostraram qualquer consideração pela antiga e venerável abadia beneditina de Monte Cassino, uma das muitíssimas maravilhas destruídas na Segunda Guerra Mundial. Tampouco as tropas norte-americanas deixaram de acampar nas ruínas da Babilônia, perto do palácio de verão de Saddam Hussein, e os pesados Abrams rolaram sobre os pavimentos milenares como rivais dos carros dos medos.
Outras vezes são o revanchismo e o ódio ideológico que guiam a mão destruidora – ao estilo da tocha de Alexandre em Persépolis –, como aconteceu com o museu de Cabul, mais uma vez vítima da barbuda iconoclastia talibã, ou a Biblioteca de Sarajevo. Provoca arrepios imaginar o que podem fazer – e já estão fazendo, segundo testemunhos – osfanáticos do Estado Islâmico (EI) cujos domínios correspondem a algumas das áreas de maior riqueza arqueológica do mundo, como os cursos superiores do Tigre e do Eufrates. Basta lembrar os estragos perpetrados por outros fanáticos islâmicos, os de Ansar Dine em Timbuktu em 2012.
A pilhagem segue como um tubarão o rastro da guerra. Vespasiano e Tito levaram para Roma os velhos artefatos sagrados dos judeus. Wellington, depois de derrotar o sultão Tipu, o Tigre de Misora, saqueou Seringapatam e pilhou seus tesouros (hoje no Museu Victoria & Albert). E que dizer do Terceiro Reich. O exército israelense, por sua vez, protagonizou episódios de destruição intencional do patrimônio, especialmente na Palestina e no Líbano. Os museus estão entre as primeiras vítimas da guerra e seus tesouros se espalham e desaparecem rapidamente através das redes obscuras do tráfico ilegal de antiguidades.
O panorama que se segue, a cargo dos correspondentes do EL PAÍS, das ameaças e danos a algumas das áreas mais conturbadas no Oriente Médio é um lembrete dessas outras vítimas do conflito que não devem ser esquecidas.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Tears On My Pillow by Roger Ridley | Playing For Change, Live outside series



“Nunca deixo o velho entrar em casa”

                                       O cineasta norte-americano Clint Eastwood, Nova York, em 2013. / G. C. (GETTY IMAGES)

Clint Eastwood acaba de rodar seu novo filme ‘American sniper’

Por Rocio Ayuso, no El País

Frank Capra se aposentou aos 64 anos. Billy Wilder, quando era cerca de 10 anos mais velho e já tinha deixado para trás a qualidade de criador que alcançou em suas obras-primas. Entre seus companheiros de armas, atores nascidos em 1930, há de tudo: aposentados como Sean Connery, convalescentes como Gene Hackman e falecidos como Steve McQueen. E alguns mais jovens, como Jack Nicholson, desapareceram das telas. Então qual é o segredo de Clint Eastwood? Aos 84 anos, ele continua ativo como ator, diretor, produtor, músico e até político. É nessa última área que mais críticas foram feitas a esse liberal republicano, sendo que muitos pensam que ele está ficando senil ou que o sucesso lhe subiu à cabeça. No resto de sua carreira, quem não o bajula, admira o fato de um octogenário continuar a rodar, e não um, mas dois filmes por ano. É o caso agora com Jersey boys eAmerican sniper. “Meu segredo é o mesmo desde que fiz Rawhide, em 1959: ficar ocupado. Nunca deixo o que é velho entrar em casa”, diz Eastwood ao EL PAÍS.
Outros filmam muitas tomadas por falta de confiança no que querem"
É verdade que ele está parecendo mais frágil: olha para baixo ao falar, seu corpo balança em tremores ligeiros, sua barba por fazer tem partes grisalhas e mais finas, e de vez em quando o ouvido esquerdo o deixa na mão. Mas ainda se percebe sua força, em suas respostas, à sua volta, comportando-se como o rei do estúdio Warner, com o qual trabalha há décadas, enquanto seus assistentes avisam ao interlocutor que é melhor sentar-se do seu lado direito. “Se a gente deixa de viver olhando para frente, não há outra alternativa senão olhar para trás, e isso é cair na nostalgia”, diz Eastwood, eternamente recordado pelo papel de Dirty Harry. O cineasta prefere deixar a nostalgia para Jersey Boys, filme baseado no musical homônimo que, depois de fazer sucesso nos palcos da Broadway e de Londres, foi transposto ao cinema num filme que focaliza a vida de Frankie Valli e seu grupo, The Four Seasons. O musical é algo inusitado na carreira de Eastwood, que usou praticamente o mesmo elenco que levou a obra aos teatros.

Um ator que dirigiu 34 filmes

A obra de Clint Eastwood como diretor de cinema abrange grandes títulos:
O estranho sem nome (1973).
O cavaleiro solitário (1985).
O destemido senhor da guerra (1986).
Bird (1988).
Coração de caçador (1990).
Os imperdoáveis (1992).
Um mundo perfeito (1993).
As pontes de Madison (1995).
Meia-noite no jardim do bem e do mal (1997).
Cowboys do espaço (2000).
Sobre meninos e lobos (2003).
Menina de ouro (2004).
Cartas de Iwo Jima (2006).
A Troca (2008).
Gran Torino (2008).
O diretor admite que, embora o grupo conte com grandes números comoCan’t take my eyes off of you, esse não é “seu tipo de música”: ele se interessa muito mais pelo jazz de Charlie Parker ou Lester Young que por esses grupos melódicos do passado ou pelo pop dos anos 1960. “Prefiro o country, cujas canções contam uma história, e você entende as letras”, resmunga o diretor, traindo a idade, que admite ter pegado pesado na cerveja “quando as outras pessoas experimentavam drogas”. Mas Eastwood é apaixonado por histórias, e em Jersey boys encontrou uma história boa: o reflexo de uma era, a década que se divide entre os anos 1940 e 1950, vista não desde os olhos de um astro, mas da perspectiva de um grupo de amigos saídos de um bairro operário de Nova Jersey. E o fato de ser um musical não o incomodou. No final, e sem soar saudosista, Eastwood reconhece que passou anos alimentando uma mágoa como diretor. “Sempre senti uma inveja saudável de Milos Forman, porque eu teria gostado de dirigirAmadeus”, recordou, falando do filme sobre a vida do menino prodígio da música clássica.
A idade também não mudou o estilo de Clint Eastwood, conhecido por rodar apenas uma tomada de cada sequência. Ele explica em poucas e ferinas palavras. “Nem sempre é uma tomada. Rodo todas as que forem necessárias para captar o momento como ele precisa ser. Mas é verdade que procuro captar o momento na primeira tomada. Outros diretores devem ter suas razões para filmar muitas tomadas, entre elas a falta de confiança no que querem.” Eastwood já tem sua ideia tão clara em sua cabeça que vai montando o filme ao mesmo tempo em que o roda. É isso o que lhe permite sobreviver nessa indústria: graças às filmagens rápidas e econômicas, pode arriscar-se com as histórias que lhe interessam sem medo do fracasso. Isso, e porque ele se chama Clint Eastwood e já recebeu dez indicações ao Oscar, das quais levou a estatueta em quatro ocasiões, todas depois de ter passado dos 60 anos.

A esta altura de minha carreira, não tenho medo de nada”
Tanto Jersey boys como American sniper foram projetos que caíram em suas mãos. No caso do primeiro, Eastwood nunca tinha assistido ao musical. Quanto ao segundo, ele estava pelo menos lendo com interesse o livro do militar de forças especiais Chris Kyle, sobre suas experiências como atirador. Kyle é considerado pelo Exército norte-americano o atirador mais letal (ele chegou a responsabilizar-se pela morte de 255 insurgentes iraquianos, 40 em um só dia, embora o Pentágono lhe atribua apenas 150), e seus inimigos o apelidaram de Demônio de Ramadi. Foi assassinado nos Estados Unidos em 2013, já aposentado, por um soldado que tentava ajudar em sua reincorporação na sociedade civil. American Sniper tem um roteiro muito detalhado e que Eastwood reconhecer ter sido um dos mais difíceis que filmou recentemente. Novamente, foi a história que despertou seu interesse. “Nesta altura da minha vida, não tenho mais medo de nada”, ele admite. Quando muito, tem na cabeça o bem-estar de sua família, e não é medo, mas preocupação. E pouca. Recém-separado de sua segunda esposa, Dina Eastwood, ele diz que com tanto cinema não tem tido tempo de desfrutar sua solteirice recuperada. Sobre a promissora carreira de ator de seu filho Scott Eastwood, fruto de um romance breve com a aeromoça Jacelyn Reeves há 28 anos, o cineasta tampouco tem muito a dizer. “Apenas que fico satisfeito pelas coisas estarem indo bem com ele, porque, na idade dele, eu me considerava um sujeito de sorte simplesmente por ter trabalho”, ele acrescenta, novamente deixando sua idade transparecer na conversa.

domingo, 14 de setembro de 2014

sábado, 13 de setembro de 2014